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Presidente da Guiné-Bissau "põe em risco a saúde pública"

1 de dezembro de 2020

A Comissária para a Covid-19 na Guiné-Bissau critica Umaro Sissoco Embaló depois de eventos com milhares de pessoas durante presidência aberta: "Estes acontecimentos ameaçam reverter os ganhos conseguidos até aqui".

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Foto: Iancuba Dansó/DW

A Alta Comissária para a Covid-19 da Guiné-Bissau manifestou-se esta terça-feira (01.12) bastante indignada com a presidência aberta no fim de semana, nas regiões de Gabú e Bafatá, que juntou milhares de pessoas, sem distanciamento físico.

Magda Robalo diz que o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, não respeitou as regras do estado de calamidade e teme um aumento do número de casos de coronavírus no país.

"O Alto Comissariado ficou preocupado ao tomar conhecimento, pelas imagens que foram partilhadas, da imensa aglomeração das populações sem o necessário distanciamento, sem as medidas de prevenção necessárias. Pensamos que foi um ato cujas consequências terão de ser vigiadas de perto para ver se não haverá um possível aumento de casos", afirma em entrevista à DW África.

Até agora, a Guiné-Bissau registou 44 mortos e quase 2.500 casos de coronavírus.

Magda Robalo
Magda Robalo, Alta Comissária para a Covid-19Foto: Privat

Saúde pública em risco

No fim de semana, em pleno estado de calamidade, em vigor no contexto da pandemia, o Presidente Umaro Sissoco Embaló foi ao leste do país agradecer pela sua eleição, há quase um ano. Durante os comícios populares em Gabú e Bafatá, o chefe de Estado juntou milhares de pessoas que não cumpriram as medidas de prevenção do coronavírus, que o próprio promulgou.

"Estes acontecimentos põe em grande risco a saúde pública nacional e ameaçam reverter os ganhos conseguidos até agora na luta contra a pandemia, com muito sacrifício, num contexto de fragilidades institucionais, dificuldades financeiras e carências graves do sistema de saúde", diz Magda Robalo.

Críticos "têm razão"

Com a violação das medidas de prevenção durante os comícios do Presidente, no fim de semana, muitos cidadãos entendem que o Estado guineense não tem "moral" para exigir ao povo que cumpra as restrições impostas.

Festas, jantares de natal e casamentos começaram a ser remarcados para os próximos dias, segundo publicações no Facebook. Muitos imigrantes anunciaram que vão fugir das medidas restritivas na Europa para ir para a Guiné-Bissau, onde quase ninguém se parece importar com a pandemia.

"Absolutamente, eles têm razão", comenta Magda Robalo. "Já alertei em diversas ocasiões para a necessidade dos nossos governantes e líderes se pautarem pelo exemplo. E temos trabalhado neste sentido com ações de sensibilização, inclusive com o Presidente da República. Mas continuamos a ver todos os dias as imagens de governantes, que deveriam dar o exemplo, sem máscaras ou em situações de aglomeração ou falta de distanciamento social."

Guinea-Bissau - Proteste gegen die Regierung: Sumaila Djalo
Sumaila Jaló: "Presidente nunca cumpriu as medidas"Foto: DW/B. Darame

O ativista Sumaila Jaló lembra que o episódio do fim de semana não é caso único: "Desde o início, as autoridades políticas sempre contrariaram as suas próprias ordens enquanto mantiveram o povo confinado, impedido de fazer a sua vida e buscar o seu ganha pão. Hoje este comportamento, não só do Presidente da República, mas também dos outros políticos e governantes faz compreender que, de facto, os atuais governantes não se preocupam tanto com o povo, mas mais com o seu populismo para se manterem no poder. Para continuarem a massacrar o povo."

Presidente "não ajuda"

Para o jovem ativista, o Presidente guineense foi o primeiro a violar o estado de emergência, com "maratonas de viagens" para o exterior quando as fronteiras estavam fechadas. Sissoco Embaló foi também quem organizou a festa da independência com um estádio de futebol cheio, lembra Sumaila Jaló.

Em entrevista à DW África, a Alta Comissária para a Covid-19, Magda Robalo, diz que os incumprimentos das autoridades atrapalham o trabalho de sensibilização junto à população. E sublinha que a presidência aberta foi na linha do que se tem constatado sempre. "E não ajuda com as nossas mensagens, porque a população percebe que, afinal, só a nós é que se pede para respeitar as recomendações, enquanto os governantes que promulgam o decreto-lei não cumprem."

Magda Robalo dá um exemplo: "Ao mesmo tempo que decorriam os comícios em Gabú, a nossa equipa de comunicação de risco e engajamento comunitário, estava no terreno em todas as regiões a sensibilizar as populações sobre as medidas. Não podemos combater a pandemia com estas atitudes."

Guinea-Bissau | 47 Jahre Unabhängigkeit | Stadion
Eventos como este - a comemoração de 47 anos de independência com um estádio cheio - contradizem as recomendações das autoridades, refere Magda RobaloFoto: Iancuba Dansó/DW

Apelo para o fim da pandemia

Nas redes sociais e na imprensa, vários guineenses questionam para que é preciso ter um Alto Comissariado para a Covid-19 se já ninguém – nem as autoridades – cumpre as medidas de prevenção. Há até quem peça a demissão de Magda Robalo, mas a alta comissária responde: "Mais importante do que a demissão de Magda Robalo é a mudança de comportamento por parte dos governantes. Se a minha demissão é necessária para que o Presidente da República cumpra com as medidas e os ministros se passem a comportar como deveriam, eu posso sair hoje à tarde."

O ativista Sumaila Jaló considera que Magda Robalo deveria salvar a sua honra e reputação, mas lembra que a alta comissária "não tem competência" para obrigar o Presidente e as autoridades governativas a manterem-se confinados.

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