Num discurso que durou uma hora e meia, sob um calor intenso que provocou alguns desmaios entre os muitos que acorreram ao Estádio Municipal do Tafe, o presidente do MPLA e cabeça de lista do partido às eleições previstas para agosto apregoou obras e êxitos e reiterou o empenho do executivo angolano, que lidera desde 2017, em "corrigir o que está mal", deixando também alguns recados à oposição
"Vamos ter eleições agora em agosto. Os partidos políticos que se preparem, nós estamos a preparar-nos, fizemos um primeiro treino para o jogo na cidade de Ondjiva (Cunene) e continuamos a treinar aqui em Cabinda. Quem não está a preparar-se que não diga depois que quem ganhou, ganhou por que o árbitro facilitou. Os árbitros não marcam golo, quem marca golo são os jogadores, se o jogador não marca golo, o arbitro não pode inventar", disse na parte final do discurso.
"Que cada partido faça o seu trabalho e que ganhe o melhor", complementou.
"Detalhes exaustivos"
Durante a longa intervenção, João Lourenço deu números e detalhes exaustivos sobre as obras realizadas no atual mandato, focando os recentes trabalhos no hospital e terminal marítimo em Cabinda, cidade onde se encontra desde quinta-feira, e onde fez várias inaugurações as vestes de Presidente de Angola.
João Lourenço em visita à Cabinda, esta semana.
As deslocações do Presidente angolano às províncias, onde tem promovido também ações de pré-campanha na qualidade de líder do MPLA, têm sido alvo de críticas por parte do principal partido da oposição, a UNITA, que acusa o chefe de Estado de usar as inaugurações para promover o partido.
Cerca de 60.000 pessoas terão estado hoje no comício, multidão que, no entanto, não preenchia o recinto, com vários espaços vazios que deixaram à vista o estado degradado do tartan da pista da infraestrutura desportiva.
Sinais de discordância
Entre os vivas a João Lourenço também se escutavam alguns apupos, enquanto alguns faziam um sinal de negação, expressando discordância com o discurso de Joao Lourenço.
O deputado da UNITA Raul Tati denunciou nas redes sociais que o comício contou com militares recrutados as FAA e disfarçados de civis, funcionários públicos e alunos de escolas que disponibilizaram autocarros para transportar populares do interior da província
O deputado disse à Lusa que esta é uma prática antiga em que os funcionários públicos são coagidos "com pressão psicológica" e os alunos "intimidados" com ameaças de falta ou reprovação em caso de ausência no ato de massas.
Joao Lourenço concentrou a parte inicial do seu discurso no desenvolvimento de Cabinda, que disse encontrar-se "em franco desenvolvimento", elogiando o facto de ter as ruas asfaltadas e não ter encontrado "nenhum buraco" durante o passeio noturno que fez na sexta-feira.
Cartazes para recepção de JLo em Cabinda esta semana.
"Negociação nem sempre é fácil"
Justificou que, por vezes, o avanço das obras está condicionado pela negociação "nem sempre fácil" de linhas de crédito, já que nem todas são suportadas com recursos ordinários do Tesouro.
Realçou que ao longo do seu mandato travou um combate sem tréguas contra a corrupção e chamou o setor privado para investir na economia, para que o Estado deixasse de ser "o ator principal", insistindo na melhoria do ambiente de negócios e na diversificação da economia para acabar com a dependência das receitas do petróleo, prometendo para um próximo mandato maior "ambição" e mais "audácia".
João Lourenço deverá regressar hoje a Luanda, depois de uma visita de três dias a Cabinda, a província mais a norte do país e fisicamente descontinuada do território.
Neste enclave, rico em petróleo, permanecem ativos movimentos separatistas que reivindicam a autodeterminação da região.
-
Os cartoons de Sérgio Piçarra
"Ajuste Direto"
80% da contratação pública em Angola foi feita por meio de ajuste direto, em detrimento dos concursos públicos, o que levanta sérios problemas de transparência. Muito crítico em relação às práticas do seu antecessor, o Presidente João Lourenço tem estado a trilhar exatamente o mesmo caminho que José Eduardo dos Santos.
-
Os cartoons de Sérgio Piçarra
Presidente de Angola ou líder do MPLA em campanha?
O "cúmulo da partidarização" do Estado em Angola foram as palavras usadas pelo partido da oposição UNITA para descrever as recentes controvérsias que envolvem João Lourenço. O Presidente angolano está a ser criticado por usar a estrutura do Estado - como as deslocações às províncias e os próprios meios de comunicação presidenciais - para antecipar a sua campanha eleitoral às eleições de agosto.
-
Os cartoons de Sérgio Piçarra
Urgência do assunto
O Presidente da República de Angola, João Lourenço, ainda não respondeu a várias solicitações de audiência do líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior. A Igreja Católica também fez vários apelos ao diálogo que não foram ouvidos, além de ter pedido transparência nas eleições gerais, previstas para agosto. Aparentemente alheio a tudo isso, o chefe de Estado continua a "dialogar" com outros atores.
-
Os cartoons de Sérgio Piçarra
Ricos em vez de riqueza
O escritor moçambicano Mia Couto disse certa vez que os países africanos produzem ricos em vez de riqueza. Angola não é exceção.
-
Os cartoons de Sérgio Piçarra
Quando é que a fome é "relativa"?
A "fome é sempre relativa", disse o Presidente angolano, João Lourenço, a 11 de dezembro. "Talvez por conveniência [...] política convenha repetir incessantemente a palavra 'fome', mas eu diria que o grande problema de Angola, se quisermos ser mais precisos é o pouco poder de compra dos nossos cidadãos, resultante dos altos índices de desemprego".
-
Os cartoons de Sérgio Piçarra
UNITA e MPLA à espera do Tribunal Constitucional
O Tribunal Constitucional de Angola tem em mãos dois processos controversos relacionados com os dois principais partidos políticos do país. Em causa, a validação do XIII Congresso do maior partido da oposição, a UNITA, liderada por Adalberto Costa Júnior, e a providência cautelar interposta pelo militante do MPLA António Venâncio para impugnar o VIII Congresso do partido no poder.
-
Os cartoons de Sérgio Piçarra
Troca de "tiros nos pés" em Angola
O Tribunal Constitucional chumbou o congresso da UNITA, que elegeu Adalberto Costa Júnior, e Isaías Samakuva reaparece em cena para assumir o comando do maior partido da oposição. O Presidente João Lourenço teceu rasgados elogios ao seu regresso. Poderá estar o chefe de Estado a fazer campanha contra si mesmo? Na visão de Sérgio Piçarra, lembra o "tiro no pé" de Savimbi e a "satisfação" de Zé Dú.
-
Os cartoons de Sérgio Piçarra
Tiro pela culatra?
O líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, foi acusado de "tribalismo, intrigas, desvios de fundos". Este mês, o MPLA disse que a liderança de Costa Júnior está "por um fio". Mas o maior partido da oposição sacode as críticas e ganha cada vez mais popularidade. O tiro terá saído pela culatra?
-
Os cartoons de Sérgio Piçarra
Casas queimadas
O Presidente angolano João Lourenço sai "chamuscado" da "Operação Caranguejo", com a Casa Civil e a Casa Militar da Presidência da República a "pegar fogo" devido a suspeitas de corrupção. João Lourenço exonerou o chefe da sua Casa de Segurança, Pedro Sebastião.
-
Os cartoons de Sérgio Piçarra
"A solução"
Depois de uma semana marcada por reuniões e cimeiras, as políticas intercontinentais apontam a soluções... Mas antes de encontrarem as soluções... acha que já perceberam mesmo quais são os problemas no continente africano que precisam dessa tal solução?
-
Os cartoons de Sérgio Piçarra
O botão único
Será que só passa um canal nos média públicos angolanos? A imparcialidade da imprensa pública é cada vez mais questionada em Angola. O maior partido da oposição no país disse recentemente que, a um ano das eleições gerais, em 2022, os órgãos de comunicação social do Estado "foram instruídos e elegeram o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, como alvo a abater".
-
Os cartoons de Sérgio Piçarra
A perseguição
Futuro, será que, face às chuvas em Luanda, que fizeram 24 mortos e milhares de desalojados, mudou alguma coisa? Alguém atende?
-
Os cartoons de Sérgio Piçarra
O míssil Cafunfo
Várias organizações de defesa dos direitos humanos exigem uma investigação célere aos recentes incidentes ocorridos em Cafunfo, na província angolana da Lunda Norte, e que provocaram várias mortes e feridos. O ministro angolano da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, admitiu terem existido violações dos direitos humanos de parte a parte e garantiu a realização de um inquérito.
-
Os cartoons de Sérgio Piçarra
Contratação pública
80% da contratação pública em Angola foi feita por meio de ajuste direto, em detrimento dos concursos públicos, o que levanta sérios problemas de transparência. Muito crítico em relação às práticas do seu antecessor, o Presidente João Lourenço tem estado a trilhar exatamente o mesmo caminho que José Eduardo dos Santos
Autoria: Sérgio Piçarra