1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

"Povo de Cabinda nunca se renderá à ocupação por parte de Angola", diz líder da FLEC

António Cascais7 de agosto de 2014

Em entrevista exclusiva à DW África, Alexandre Tati, presidente da FLEC / FAC (Frente de Libertação do Enclave de Cabinda / Forças Armadas de Cabinda) acusa o Governo de Luanda de falta de vontade de paz.

https://p.dw.com/p/1Cr3K
Foto: FLEC

A questão de Cabinda continua por resolver: enquanto muitos cabindas se queixam de repressão e ocupação militar por parte do regime de Luanda, o Governo angolano continua a afirmar que não há conflito naquela província e que está empenhado em resolver qualquer questão que possa surgir "por via do diálogo".

O Presidente da resistência de Cabinda, que, segundo o próprio, se encontra "no mato, em território congolês", diz que o movimento está "mais vivo e unido do que há uns anos" e que, neste momento, "é um movimento unido, apoiado pela esmagadora maioria dos cabindas".

Em entrevista telefónica concedida à DW África desde o interior da República Democrática do Congo, Alexandre Tati conclui: "Eu sou o presidente da FLEC / FAC que resiste no terreno neste momento."

DW África: A FLEC / FAC, o braço militar da FLEC, tem alguma capacidade militar? Quantos homens tem armados?

Alexandre Tati (AT): Não posso dizer-lhe exatamente quantos efetivos a FLEC / FAC tem neste momento. Digo-lhe simplesmente que a FLEC / FAC é justamente a mobilização do povo que está a resistir neste momento no território de Cabinda contra a ocupação angolana e contra a exploração e colonização que o povo de Cabinda continua a conhecer até hoje no território de Cabinda. Porque o povo quer libertar-se da escravatura, da dominação estrangeira. É este o ideal que nos move desde a geração de Simulambuco, passando pela geração dos anos 60, e que continua até este momento que falo consigo.

DW África: Neste momento, o Sr. Alexandre Tati pode movimentar-se dentro de Cabinda e no território angolano ou não é possível entrar na própria província de Cabinda?

Demonstranten aus Cabinda
Cabindas na diáspora manifestam-se regularmente a favor da autodeterminaçãoFoto: Jean Claude Nzita

AT: Estamos no mato e não temos qualquer liberdade de movimentação. Há matanças e raptos de dirigentes da resistência. Há membros dos serviços secretos angolanos que vêm ao estrangeiro, onde nos encontramos, e compram membros de serviços secretos nesses países para poderem perseguir os membros da resistência de Cabinda. Se até somos perseguidos nos países vizinhos, fora de Angola, mais seremos no território sob jurisdição do Governo angolano...

DW África: A FLEC quer a independência total, incondicional, sem presença angolana em Cabinda? Ou está pronta a aceitar uma solução alternativa, como, por exemplo, a autonomia?

AT: Nós, cabindas, dizemos o seguinte: Queremos a autodeterminação do povo de Cabinda, queremos ser administrados pelo povo de Cabinda e para o povo de Cabinda. Esse direito terá de ser referendado sob a égide das Nações Unidas. Os cabindas devem poder pronunciar-se sobre se querem ser angolanos ou se querem ter uma associação com os angolanos, ou com um outro povo qualquer. Os cabindas deverão ter o direito de se pronunciar livremente sobre este assunto.

DW África: Vocês têm aliados a nível internacional?

Screenshot Youtube Estanislau Miguel Boma
Estanislau Miguel Boma, comandante militar das FAC (Forças Armadas de Cabinda): FLEC não divulga quantos homens armados tem à disposiçãoFoto: www.youtube.com

AT: O nosso maior aliado é a força da razão! O que impera atualmente no território de Cabinda é a razão da força.

DW África: Por outro lado, o Governo de Angola continua a afirmar que não há qualquer conflito em Cabinda e que qualquer problema que porventura possa existir vai ser resolvido por via do diálogo...

AT: O Governo de Luanda fala de diálogo, mas na prática só existe intransigência política, por parte de Angola, face ao problema de Cabinda. Não existe qualquer vontade de paz por parte de Angola. Nós não vemos qualquer sinal, qualquer vontade de diálogo.

DW África: O que é que pensa de personalidades como o Sr. Bento Bembe, que fez parte da resistência dos cabindas e agora faz parte do Governo angolano?

AT: Bento Bembe foi um amigo pessoal. Ele esteve na resistência, conforme afirma. Infelizmente ele negociou a sua própria rendição.

DW África: Como avalia o trabalho de deputados de Cabinda, como o Sr. Raul Danda, que é deputado pela UNITA? Esses deputados fazem bom trabalho? Servem a causa dos cabindas?

[No title]

AT: São cabindas, sim senhor! Podem-se pronunciar em nome de Cabinda. E o Raul Danda pode também fazê-lo. Mas o problema que se coloca é que essas instituições angolanas - como a Assembleia Nacional de Angola - são consideradas em Cabinda, pelo povo de Cabinda, como instituições que não toleram a emancipação do povo de Cabinda. A Constituição angolana não é favorável à emancipação do povo de Cabinda.

DW África: E como imagina o futuro do movimento independentista de Cabinda?

AT: O povo de Cabinda nunca se vai render e vai continuar a resistir!

Karte Angola und Cabinda
A FLEC diz que, legalmente, Cabinda continua a ser um "Protetorado de Portugal"