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Polícia do Zimbabué prende opositores um dia depois do referendo

Pessoa, Marcio Americo Vieira18 de março de 2013

O Zimbabué contava os votos do referendo sobre uma nova Constituição quando surgiu a notícia: a polícia anunciou a detenção de membros do partido de Morgan Tsvangirai e de uma conhecida advogada.

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A contagem dos votos do referendo constitucional prossegue no Zimbabué. A participação na votação de sábado (16.03.2013) foi considerada fraca. Apenas dois milhões de eleitores foram às urnas num universo de cerca de seis milhões de eleitores registados, segundo a comissão eleitoral.

Mas, segundo as agências de notícias, o clima de ameaça aumenta no país, com detenções de opositores durante o fim de semana. Segundo um porta-voz da polícia, quatro assessores do primeiro-ministro Morgan Tsvangirai foram presos este domingo por que se teriam feito passar por agentes da polícia. A polícia fez buscas nos gabinetes dos assessores.

Os locais servem de centro de documentação do Movimento para a Mudança Democrática (o MDC, na sigla em inglês), o partido de Morgan Tsvangirai. Entre os detidos figuram Thabani Mpofu, conselheiro de Tsvangirai. Também Beatrice Mtetwa, uma jurista e defensora dos direitos humanos, foi detida por ter alegadamente obstruído o curso da justiça.

O Zimbabué tem um Governo de unidade nacional formado em 2009, partilhado pelos partidos da oposição e o partido do Governo. Tsvangirai é o principal adversário do Presidente Robert Mugabe, que ocupa o poder há mais de 30 anos.

O "sim" vai à frente

As prisões de representantes do MDC ocorrem quando resultados parciais do referendo à nova Constituição mostram que o "sim" está à frente com mais de 90 por cento dos votos contados até agora. Os resultados definitivos só devem ser conhecidos dentro de alguns dias.

Para o especialista em Política Africana do Instituto de Análises Globais e Regionais (GIGA) da Alemanha, Christian von Soest, este referendo é visto com expectativa pelos países ocidentais. O projeto constitucional, diz, é encarado como uma medida central para os Estados Unidos e a Europa avaliarem até que ponto Robert Mugabe e o partido ZANU-PF estão abertos a introduzir reformas no país. Segundo von Soest, "o consequente alívio das sanções contra o país pode ser visto como uma provável recompensa da União Europeia".

Eleitores pouco informados

A presidente da comissão eleitoral, Rita Makarau, espera que o ambiente pacífico da votação perdure após o anúncio dos resultados.

Observadores da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), que enviou uma equipa de 120 pessoas para o Zimbabué, afirmaram que o referendo foi "pacífico e credível" e consideraram-no uma "etapa importante" na vida da democratização do país.

No entanto, no Zimbabué, há críticas relativamente aos números elevados da abstenção. Solmon Zwana, que chefia a Rede de Apoio às Eleições no Zimbabué, uma plataforma de ONG's que observou o referendo, diz que "muitas pessoas se queixaram que tiveram pouco tempo para se preparar a votação."

De acordo com Zwana, "algumas diziam mesmo que nunca tinham visto o documento e dependiam daqueles que popularizaram o documento". Ou noutras palavras, as pessoas dependiam dos políticos que lhe disseram para votar "sim" no projeto da nova Constituição, conclui.

Mugabe no poder até aos 99 anos?

O novo texto limita a dois mandatos de cinco anos as funções presidenciais e reforça os poderes do Parlamento. Porém, muitos criticam a nova lei fundamental porque não terá efeito retroativo, permitindo que Mugabe, de 89 anos, possa continuar por mais 10 anos no poder.

De certa forma, isto provoca a revolta de muitos ativistas como o presidente da ONG Assembleia Nacional Constitucional, Lovermore Madhuku, que luta há 15 anos na oposição por uma nova Constituição:

"Não é segredo que Mugabe tem falhado no Governo do país e que isto tem custado muito caro. Ele nunca foi responsabilizado por nada porque ele tem todos os recursos do poder em suas mãos e à sua disposição", comentou Madhuku antes do referendo.

Esta segunda-feira (18.03.2013), Robert Mugabe chegou ao Vaticano para assistir à missa inaugural do pontificado do Papa Francisco, agendada para esta terça-feira. No Vaticano, o Presidente do Zimbabué não é considerado 'persona non grata', ao contrário do que sucede na União Europeia.

Autor: Márcio Pessoa / Guilherme Correia da Silva (com Agências)
Edição: Helena Ferro de Gouveia