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Plano B - parte 1 - Portugal: Crise "empurra" jovens licenciados para a agricultura

Gouveia, Helena Ferro de2 de março de 2013

Em muitos países europeus a crise económica e financeira salda-se por um aumento do desemprego jovem e pela falta de perspetivas. Mas há quem procure formas de escapar à espiral da crise. Dois exemplos portugueses.

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Estudaram durante anos e agora estão desempregados. A crise financeira que se abateu sobre Portugal tem levado muitos jovens portugueses a repetir os passos dos seus avós: emigrar. Outros, apesar da falta de perspectivas ficam e tentam a sua sorte numa área menos óbvia como a agricultura.

A conjuntura atual tem levado cada vez mais jovens a voltarem às origens - seja para evitar emigrar, por falta de emprego ou até pela oportunidade. Mas cada um destes motivos não pode ser dissociado das ajudas financeiras externas que estes têm ao seu dispor para concretizarem os seus projetos.

Em média, e segundo os números relativos ao ano passado do ProDer (que gere os fundos europeus para o desenvolvimento rural da Política Agrícola Comum - PAC), todos os meses cerca de 280 jovens agricultores instalam-se em Portugal.

Recriar o paraíso

O sonho de Filipe Alves fica a apenas meia hora de distância de Lisboa, na Serra da Arrábida. É lá que tem a sua plantação de alfaces, pimentos e couve-de-bruxelas. Filipe desce a encosta com um carrinho de mão carregado de palha.

O jovem, de 28 anos, aponta para o vale que se estende à sua frente: "Nós vamos encher isto, literalmente, de jardins. Vamos criar locais para estar sentado e viver em pleno a vida. Acima de tudo o queremos é recriar o paraíso".

Há três anos Filipe, em conjunto com quatro amigos, iniciou um projeto na área da agricultura, denominado "Biovilla". Entretanto o número de agricultores envolvidos no projeto quadruplicou. A maioria são jovens que concluíram o ensino universitário, como Inês Besugo. Inês estudou engenharia do ambiente, mas as hipóteses de arranjar um bom emprego numa época de crise são escassas.

"O que a crise também nos trouxe foi um alerta e um acordar para novas alternativas. Às vezes o plano B tem mais lógica do que o A", diz.

Só em 2011 mais de mil projetos na área da agricultura foram iniciados por jovens com idade inferior a 40 anos. Para Inês e Filipe é importante que Portugal se torne independente das importações e para isso a Biovilla pode dar o seu contributo.

"Os princípios que estão por detrás da Biovilla podem aplicados noutros contextos. Por exemplo, nós produzimos a nossa comida, a nossa eletricidade e temos a nossa água".

Os jovens da Biovilla seguem o chamado conceito da "permacultura", que significa agricultura permanente. Conceito que foi desenvolvido na década de 70 na Austrália. Este tipo de agricultura dá particular valor à sustentabilidade.

Muitos dos jovens que integram o projeto têm outros empregos para financiar o seu sonho, uma vez que a Biovilla só deverá "gerar lucro no prazo de cinco anos", acredita Filipe Alves.

Para poder realizar o sonho Filipe recorreu a financiamento do Estado português e da União Europeia na ordem dos 300 mil euros. A longo prazo, a Biovilla quer não apenas vender legumes, mas desenvolver um projeto de turismo ecológico, assim como seminários e cursos de ioga. Estão mesmo a reabilitar uma habitação para esse fim.

Também os professores procuram soluções criativas para escapar à crise

Pedro Mourão mostra os passos de dança às alunas. As meninas dão o seu melhor apresentam a coreografia que treinaram. Mesmo que as meninas não se movimentem de forma perfeitamente sincronizada, o professor Pedro Mourão e os pais das crianças estão entusiasmados. Pedro é professor de Educação Física, mas não conseguiu colocação. Agora organiza cursos de dança ao fim de semana para filhos e pais. Estes cursos são parte da oferta da Ativarte, a empresa que criou há pouco tempo com um grupo de amigos.

O colégio onde trabalhava como professor teve de poupar e enviou docentes para casa. Um deles foi Pedro Mourão. "Quando soube que não ia trabalhar mais aqui no colégio foi um choque. Já trabalhava há três anos e tenho feito um bom trabalho. Estava à espera de uma colocação fixa".

Vitor Miranda também é professor e além disso sindicalista da FENPROF. "A situação dos professores é uma situação de precariedade. Ano após ano um professor nunca sabe o que pode acontecer e é inimaginável criar uma vida com estabilidade e perspectivas de futuro", lamenta Vitor Miranda.

Porém, Pedro Mourão queria uma vida estável para si, para a namorada e para o bebé que vinha a caminho. Estava farto de empregos inseguros e de receios em olhar para o futuro. Essa foi a motivação que o levou a criar a Ativarte que além de seminários de dança, organiza aniversários infantis e dá treinos de futebol.

Pedro e os seus colegas trabalharam anteriormente em escolas, daí conhecem muitas crianças e pais. Com os cursos de dança querem fazer publicidade à sua empresa e levar os pais a marcar uma ou outra festa de aniversário. Pois apesar da crise e das más notícias diárias muitos pais poupam para uma bonita festa de aniversário.

Fundar uma empresa em tempo de crise não é fácil, mas Pedro está otimista. "Acredito que pouco a pouco conquistaremos clientes. E se as pessoas gostarem das nossas atividades irão recomendar-nos".

Autores: Hilke Fischer / Greta Hamann / Helena Ferro de Gouveia
Edição: Johannes Beck