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Movimento quer que Namíbia rejeite acordo sobre genocídio

Cai Nebe | Adrian Kriesch | AFP | mjp
22 de setembro de 2021

Após protestos, sessão parlamentar sobre o acordo com a Alemanha é suspensa, mas deve ser retomada esta quarta-feira. Oposição teme que partido no poder ratifique declaração conjunta e apela às "consciências" da SWAPO.

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Namibia Windhoek | Proteste gegen Genozid Abkommen mit Deutschland
Foto: Sakeus Iikela/DW

O Parlamento da Namíbia debate esta quarta-feira (22.09) a assinatura de uma declaração conjunta com a Alemanha, em que a ex-potência colonial reconhece o genocídio dos povos Herero e Nama no início do século XX.

A discussão, que teve início na terça-feira na Assembleia Nacional, em Windhoek, ficou marcada pelo protesto de várias centenas de pessoas junto ao Parlamento, contra o que descrevem como "falso acordo sobre genocídio" e exigindo "compensação adequada".

Os manifestantes entregaram uma petição ao Parlamento pedindo que o acordo conjunto não seja submetido ao órgão legislativo, onde o partido do Governo, a Organização do Povo do Sudoeste Africano (SWAPO) detém a maioria.

"Queremos ser tratados da mesma forma que outras vítimas de genocídio a quem a Alemanha pagou e pediu desculpa. Não precisamos de um Governo que ceda às exigências da Alemanha. Temos a história do nosso lado, não aceitamos menos do que reparações justas", explica o deputado do Movimento Democrático Popular, Vipuakuje Muharukua, descendente das vítimas das forças coloniais alemãs.

Namibia,  Windhuk Tintenpalast Parlament
Parlamento em Windhoek teve sessão suspensaFoto: imageBROKER/picture alliance

Pedido de desculpas

Em maio, Berlim ofereceu um pedido de desculpas oficial pelos crimes cometidos pelas tropas coloniais alemãs na Namíbia entre 1904 e 1908, juntamente com um acordo de assistência de mais demil milhões de euros, a serem pagos ao longo de 30 anos.

A Alemanha deixou claro que os pagamentos à Namíbia não devem ser interpretados como reparações no sentido legal do termo. Para alguns namibianos, a posição alemã é um sinal de que o país não estaria disposto a ser integralmente responsabilizado pelas ações das tropas coloniais.

Esta terça-feira, no início do debate parlamentar, o ministro da Defesa namibiano, Frans Kapofi, descreveu o acordo como "um feito, em certa medida, para que a República Federal da Alemanha assuma a responsabilidade pelo genocídio". No entanto, frisou que o Governo manifestou algumas preocupações sobre o valor oferecido pela Alemanha e afirmou que não está fora de questão a discussão dos termos da declaração.

O presidente da Assembleia Nacional aceitou que o acordo fosse submetido ao Parlamento, mas, antes da apresentação do documento, suspendeu a sessão até esta quarta-feira.

Namibia Genozid deutscher Truppen
Militares alemães que serviram na região em 1904, aquando do levante HereroFoto: picture-alliance/dpa/W. Gebert

Temores da oposição

O vice-presidente do partido Movimento dos Sem Terra, Henny Seibeb, teme que o partido no poder ratifique a declaração conjunta contra a vontade da oposição e apelou para as "consciências" da SWAPO.

"Não usem a maioria de dois terços para forçarem um acordo com o qual nem todos os partidos estão satisfeitos. A política implica consenso e compromisso", disse Seibeb.

Representantes dos Herero e dos Nama afirmam que o acordo de reconciliação não é suficiente. Entre outros pontos, queixam-se da falta de uma indemnização direta aos descendentes das vítimas e temem que a ajuda financeira alemã não chegue às regiões afetadas.

"Os alemães levaram todo o gado dos nossos antepassados - cabras, ovelhas, burros. Os crânios dos nossos antepassados foram levados para a Alemanha - vendidos em leilões. Pessoas vivas foram levadas como escravas. E milhares de pessoas morreram a lutar pela nossa terra. É por isso que este montante não é suficiente para compensar as pessoas afetadas. Talvez alguns projetos possam ser iniciados desta forma - mas esperamos mais", diz Gideon Tura Katupose, conselheiro da Autoridade Tradicional Herero de Kambazembi.

Desde que as negociações começaram, em 2015, Berlim procurou, e acabou por conseguir, um acordo bilateral com o Governo da Namíbia, em vez de negociar com os grupos Nama e Herero separadamente. Caso a moção pela assinatura do acordo passe na Assembleia Nacional, o desafio para o Governo será convencer os povos a aceitarem os termos do documento.

Namíbia: um genocídio esquecido