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Pandemia afeta rotina de africanos cristãos na Alemanha

Daniel Pelz | rl
29 de maio de 2020

As igrejas africanas são o lar, a rede social, a família substituta de milhares de pessoas que vivem no estrangeiro. Mas a pandemia de Covid-19 veio mudar os hábitos e as celebrações de muitas comunidades.

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Igreja de Santa Isabel, em BerlimFoto: DW/D. Pelz

Depois de dois meses suspensos por causa do novo coronavírus, os cultos religiosos estão de novo autorizados na Alemanha. Antes da pandemia, era na Igreja de Santa Isabel, em Berlim, que dezenas de africanos cristãos, vindos de países como o Quénia, a Nigéria ou os Camarões se reuniam, aos domingos, "para recarregar baterias”.

Uma rotina que funciona como "uma espécie de regresso a casa", explica o padre Sylvester Ajunwa. "Para nós, encontrarmo-nos e vir à missa é uma espécie de regresso a casa, porque é aqui que conhecemos pessoas do nosso próprio país, da mesma cor, com a mesma mentalidade e que partilham as nossas preocupações, os nossos medos, as nossas ansiedades e que nos podem compreender".

Numa situação normal, a igreja estaria lotada e cheia de cor e alegria como manda a tradição africana. Mas em tempos de pandemia, não é esse o cenário.

Com as novas regras impostas pelo Governo alemão, quem quiser assistir à missa de domingo, tem de se registar previamente e cumprir algumas regras, como desinfetar as mãos à entrada da igreja. Em alguns estados, a lotação máxima permitida para as celebrações é de 50 pessoas.

Com as igrejas fechadas, pastores digitalizam-se

Dias difíceis

Nascido na Nigéria, o padre Sylvester Ajunwa doutorou-se na cidade alemã de Würzburg e é hoje responsável por celebrar a missa em inglês em várias igrejas de Berlim e Brandemburgo. Apesar de tentar passar sempre uma mensagem de esperança e "fé em Deus", o padre Sylvester sabe o quão díficil tem sido para os fiéis não poder sair de casa.

"Ao estarem fechados em casa, os paroquianos perderam duas coisas: a participação na vida sacramental e a vida comunitária, onde aliviavam as suas preocupações, partilhavam o dia-a-dia da semana, as suas alegrias, tristezas, tudo. Por isso, para eles, foi realmente muito doloroso", destaca.

Depois da missa ao domingo, os paroquianos costumam reunir-se no salão paroquial para comer, beber e conversar durante algumas horas. Algo que o padre Sylvester descreve como uma espécie de "segunda celebração".

Godwin Nwaru, um dos fiéis que não perde uma missa de domingo, não esconde as saudades."Foi uma experiência terrível. Perdemos a nossa comunidade, o aspeto social da nossa vida foi destruído. Há paroquianos que costumavam vir regularmentee que já não vemos há meses".

Apesar de estar consciente de que o regresso à normalidade pode tardar, a camaronesa Melanie Oben, que faz parte do coro da igreja, que foi reduzido agora a três pessoas, diz- se satisfeita por estar de volta, ainda que com restrições. "Estou aliviada por finalmente nos ser permitido vir à igreja e cantar novamente. Aqui recarrego as energias para a próxima semana. Ficámos em casa sem vir mais de dois meses. Foi um inferno para muitas pessoas", desabafa.