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Padre Raul Tati apela a diálogo entre Governo angolano e cabindas

João Carlos (Lisboa)27 de fevereiro de 2014

Raul Tati pede entendimento entre os grupos divergentes que lutam pela independência de Cabinda, para fazer avançar o processo político. E exorta à boa vontade do Governo angolano para se sentar à mesa com os cabindas.

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Foto: Joao Carlos

O conflito em Cabinda está praticamente esquecido, ausente da agenda internacional, ainda longe de uma solução. Mas o padre Raul Tati volta agora a chamar atenção para o assunto.

Tati aproveitou a apresentação do seu novo livro em Lisboa para apelar ao bom senso do Governo de Luanda, no sentido de resolver definitivamente o problema do enclave. É preciso definir uma plataforma favorável ao diálogo, diz.

"Há interesses angolanos em Cabinda e Cabinda está interessada na sua emancipação. Portanto, vamos levar isso à mesa e discutir", afirma o padre Raul Tati. "Porque, numa negociação, podemos encontrar o melhor acordo possível entre Angola e Cabinda para uma convivência pacífica e mutuamente vantajosa."

"Seriedade"

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As portas para o diálogo continuam abertas, acrescenta Raul Tati, porque o que está em causa é o direito à autodeterminação do povo de Cabinda.

"Os cabindas devem ter, pelo menos uma vez na História, a possibilidade de definirem aquilo que querem ser", refere.

Raul Tati aventa sugestões para o diálogo: "Angola pode levar à mesa a unicidade do Estado angolano e a sua indivisibilidade, por exemplo, deixando para Cabinda um espaço de afirmação e de crescimento económico e político, mas não tanto no sentido da autodeterminação", sugere. "Tudo isto podia ser discutido à mesa e podemos ver qual devia ser a solução a contento dos cabindas e a contento de Angola."

A responsabilidade maior, sublinha, está do lado do Governo de Angola.

Tati acusa o executivo de "sabotar" as iniciativas de entendimento entre os cabindas. O regime angolano "nunca quis que os cabindas tivessem um entendimento em relação ao problema em causa", diz. "Então, se houver essa seriedade, se os cabindas se organizarem e [se se definir] que vamos definitivamente resolver o problema, isto é possível."

Autonomia

Alcides Sakala
Alcides Sakala, da UNITA: "Continuaremos a trabalhar para que a guerra termine"Foto: Joao Carlos

A situação no enclave é também uma preocupação para a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), expressou Alcides Sakala, secretário das Relações Exteriores do maior partido da oposição em Angola, numa entrevista que concedeu recentemente à DW África em Lisboa.

"Temos feito muitos apelos no sentido de se parar a guerra em Cabinda, como ponto de partida para a abordagem dos grandes problemas que afetam a vida dos povos de Cabinda", afirmou.

Sakala diz que a UNITA defende para Cabinda uma "autonomia mais ampla" em relação a Angola, um pouco à semelhança da Região Autónoma da Madeira em comparação com Portugal Continental: "É esta a nossa visão. E vamos continuar a trabalhar para que efetivamente a guerra termine."

Para o padre Raul Tati, todos os cenários devem ser considerados nas futuras negociações com o executivo de Luanda.

"Não devemos excluir 'a priori' qualquer solução nas negociações, porque é preciso levar tudo à mesa", comenta.

Colocar o tema na agenda

Buch von Priester Raul Tati
Livro de Raul Tati foi apresentado na quarta-feira (26.02) em LisboaFoto: Joao Carlos

Tati falou à DW África pouco antes do lançamento em Lisboa do seu último livro, já apresentado em Cabinda. A obra com o título "Cabinda: Percurso histórico entre Deus e César (1975-2012) não tem a pretensão de esgotar toda a verdade sobre a história do território, segundo Tati. Por outro lado, apela à responsabilidade histórica de Portugal em relação ao diferendo de Cabinda.

Para o autor, Portugal tem muitos interesses económicos em Angola e certamente por isso não quererá tomar posições oficiais sobre a causa do povo de Cabinda que possam lesar tais interesses.

Mas, afirma Raul Tati, "é bom continuar a falar disso porque um dia podemos encontrar em Portugal figuras políticas que possam assumir essa questão de Cabinda."