Baltazar Vítor, da cidade de Pemba, norte de Moçambique, faz parte dos 77% da população africana com menos de 35 anos de idade. E, a cada dia que passa, vê os seus sonhos serem adiados, por causa da pobreza, da exclusão política, corrupção ou da falta de oportunidades.
O maior sonho deste jovem de 27 anos é tirar um curso superior de Engenharia Mecânica, mas tem sido difícil concretizá-lo. Baltazar Vítor pensou que o pai o pudesse ajudar a financiar os estudos. Mas o pai faleceu e ele teve de assumir o papel de chefe de família e cuidar dos três irmãos mais novos, já que a mãe deles vive e trabalha a mais de cem quilómetros da cidade onde moram.
A situação económica da família de Baltazar Vítor é precária: "Vivo num ambiente de incerteza", conta o jovem à DW África.
Baltazar Vítor num estúdio de rádio em Moçambique
Esforços redobrados
Baltazar Vítor já participou em várias formações - de "soldador industrial", "guia de vendas" ou "contabilidade" - mas ainda não conseguiu um emprego fixo.
Neste momento, presta ajuda numa rádio local, na produção de conteúdos e locução. Diz que recebe uma compensação monetária, que, mesmo sendo pequena, o tem ajudado a cobrir parte das suas despesas.
O jovem quer sair o mais rapidamente possível da situação em que se encontra, e uma possibilidade seria criar o seu próprio negócio. Chegou a elaborar um projeto e a pedir um microcrédito, mas o banco recusou o financiamento devido ao risco associado e ao facto de Baltazar Vítor não apresentar qualquer garantia.
"É muito difícil ter acesso a crédito aqui em Moçambique", acrescenta o jovem, que diz ter ficado triste por perder uma oportunidade para "driblar" a pobreza.
"Tratamento igual”
O caso de Baltazar Vítor não é o único. Ele diz que grande parte da juventude na sua região tem problemas semelhantes. O Governo de Moçambique tem prometido diversos apoios para a classe juvenil, mas, conforme aponta o jovem, apenas "certas classes sociais" beneficiam das ajudas estatais - nem sempre quem mais necessita.
Baltazar Vítor pede, por isso, "um tratamento igual" para todos os jovens moçambicanos: "Acabar com a desigualdade e a corrupção e ouvir a voz dos jovens", é essa a sua proposta.
Na África subsaariana vivem 770 milhões de pessoas com menos de 35 anos, correspondendo a 77% da sua população, segundo o Banco Mundial. Estes jovens sofrem particularmente com o desemprego. Muitos declaram ter perdido a esperança de concretizarem os seus sonhos. Outros continuam a lutar para que as suas vozes sejam ouvidas, insistindo em fazer parte das decisões políticas nos seus países.
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Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Fugir à guerra
Mais de mil pessoas chegaram em setembro e outubro de 2016 ao novo centro de acolhimento de Vanduzi, na província de Manica, onde se avolumam as queixas. Fogem do conflito que opõe as forças governamentais aos homens armados da RENAMO, por medo de serem atingidas pelas hostilidades. Dezenas de cidadãos ficaram sem casa na sequência de incêncios provocados por grupos rebeldes.
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Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Deslocados de todas as idades
As autoridades abriram o centro de acolhimento de Vanduzi recentemente face ao número crescente de ataques armados na região. Aqui, vivem adultos, idosos, jovens e crianças que foram obrigados a abandonar a escola. Feniasse Mateus está a faltar às aulas. "Viemos para aqui com a família, estou há um mês sem estudar", lamenta.
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Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Sem água potável
Em Vanduzi, onde foi acolhida, Fátima Saíde queixa-se das fracas condições, nomeadamente pela inexistência de água potável. "Estamos a sofrer por causa da água, estamos a beber água suja, cheia de capim e de bichos. Têm-nos dado cloro para pormos na água e bebermos". Segundo esta deslocada, a água é retirada de furos tradicionais e charcos.
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Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Risco de doenças
A falta de água própria para consumo a somar à falta de condições de higiene preocupa estes milhares de deslocados. Fátima Saíde, teme por exemplo, a eclosão de doenças como a cólera e os surtos de diarreia aguda. Por outro lado, a seca na região agrava as dificuldades.
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Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Mais de uma centena de famílias deslocadas em Vanduzi
Os deslocados do novo centro de Vanduzi, criado no início de outubro inicialmente com 125 famílias, são provenientes de Nhamatema, Punguè Sul, Chiuala, Honde, Guta, Mucombedzi, Pina, cruzamento de Macossa, Mossurize, Dombe e Chemba, zonas críticas e agora despovoadas, onde são frequentes relatos de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
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Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Uma fuga pela defesa e segurança
Joaquim Abril Jeque condena o clima de terror no centro do país que, na sua opinião, é culpa dos homens armados da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). "Achámos conveniente fugir à procura de defesa", conta este deslocado. Segundo ele, as ameaças da RENAMO são constantes. "Ameaçam-nos com armas, matam os nossos animais, levam a nossa comida, agridem as nossas mulheres", exemplifica.
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Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
"Toneladas" de bens de apoio a caminho
Cremildo Quembo, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as autoridades estão a ajudar como podem as famílias deslocadas, em Vanduzi. "De salientar que este processo de assistência às famílias é contínuo e já estão a entrar toneladas [de bens de apoio] para todos os distritos afetados", garante o responsável.
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Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Falta de espaço
Devido à insuficiência de tendas, duas ou mais famílias são obrigadas a conviver na mesma barraca de seis metros quadrados. Rostos tristes e lábios rasgados denunciam a pobreza e a fome. A maioria destes deslocados dependem apenas da distribuição de alimentos do INGC, que definem no entanto como "irregular".
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Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Faltar à escola
Para além do trauma e do medo constante, a escalada do conflito interno em Moçambique terá outras consequências no futuro das crianças do centro do país. Chinaira José é uma de várias centenas de estudantes que ao serem obrigados a sair da sua zona de residência têm de faltar às aulas, pondo em risco a sua formação escolar.
Autoria: Bernardo Jequete (Chimoio), nn