Em comunicado divulgado na noite de sábado (23.03), o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, chama também "todos os signatários do Acordo Político para a Paz e a Reconciliação a aderirem aos princípios acordados, nomeadamente a rejeição da violência e o respeito dos direitos humanos e da dignidade humana".
Guterres "congratula-se com a criação de um Governo inclusivo na República Centro-Africana em 22 de março, em conformidade com o Acordo Político para a Paz e a Reconciliação assinado em Bangui em 06 de fevereiro", acrescenta a nota de imprensa, sublinhando o "papel de primeiro plano desempenhado pela União Africana" no processo para pôr termo ao conflito.
Assinatura do acordo de paz entre o Governo e grupos armados (Fevereiro de 2019)
O Presidente centro-africano, Faustin-Archange Touadéra, nomeou na sexta-feira um novo Governo que atribui mais pastas aos 14 grupos armados signatários do acordo de Cartum, sem contudo lhes confiar nenhum dos principais ministérios.
Conflito
Rica em recursos naturais, a República Centro-Africana encontra-se em guerra desde 2013, depois da queda do ex-Presidente François Bozizé por grupos armados juntos na coligação Séléka, o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-Balaka.
O conflito neste país já provocou 700 mil deslocados e 570 mil refugiados e colocou 2,5 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária. Desde 2014, a ONU mantém no país uma força de 11 mil Capacetes Azuis para contribuir para estabilizar o país.
O Governo controla cerca de um quinto do território. O resto é dividido por mais de 15 milícias que procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Refúgio no aeroporto de Bangui
Desde o golpe de Estado, há um ano, a situação na República Centro-Africana está fora de controle. Milícias cristãs e muçulmanas promovem amargos combates. Um milhão de pessoas estão em fuga. Quase todos os muçulmanos deixaram a capital, Bangui. Entre os que permaneceram, algumas centenas encontram abrigo num velho hangar do aeroporto.
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Perder tudo
O marido de Jamal Ahmed tinha guardado dinheiro suficiente para a fuga de sua família, quando as milícias cristãs chamadas "Anti-Balaka" invadiram sua aldeia natal. As poucas economias não foram suficientes - ele pagou com a vida. Jamal Ahmed vive no acampamento que surgiu no aeroporto: "Não conheço ninguém aqui. Não tenho mais nada. Não sei como será daqui para a frente.”
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Ver os netos mais uma vez
Aos 84 anos, Fatu Abduleimann está entre os moradores de idade mais avançada do campo de refugiados do aeroporto. Nas últimas décadas, Fatu assistiu a muitas dificuldades em sua terra natal. Mas nunca foi tão ruim quanto agora, diz a idosa. Seu único consolo: a maioria dos seus filhos conseguiu fugir para o Chade. Seu maior desejo: "ver os meus netos mais uma vez."
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Quilómetro Cinco, uma cidade fantasma
Exceto o acampamento de refugiados no aeroporto, quase todos os muçulmanos deixaram a cidade. Há alguns meses, o chamado "Quilómetro Cinco" era um animado centro da comunidade muçulmana. Mais de 100.000 pessoas moravam e trabalhavam aqui, a cinco quilómetros do centro da capital, Bangui. Agora, restaram apenas algumas centenas de pessoas. As lojas estão fechadas até nova ordem.
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Esperar o momento certo
Quase todos os muçulmanos que ainda restam no "Quilómetro Cinco" querem apenas uma coisa: sair daqui. Os caminhões para a fuga estão prontos. Eles esperam que um comboio tenha como destino os países vizinhos como os Camarões ou o Chade.
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
A cidade de campos de refugiados
Não apenas os muçulmanos temem por suas vidas. Por toda a cidade de Bangui pode-se encontrar acampamentos provisórios em que a maioria da população, cristãos e animistas, procura proteção - por medo de um retorno das milícias islamistas ou simplesmente porque não têm o que comer - e espera por doações de alimentos.
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Ajuda sobrecarregada
O Pastor David Bendima recebeu, na sua igreja, mais de 40 mil pessoas que fugiram dos combates no centro da cidade. Mas ele também não pode garantir-lhes segurança suficiente. "Todas as noites ouvimos tiros e granadas explodindo. As pessoas estão com muito medo", diz o pastor. Ele parece cansado.
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Últimas reservas
Chancella Damzousse, de 16 anos, vive em uma aldeia a meia hora de distância de Bangui. Ela prepara o jantar. "Tudo o que resta são alguns grãos de feijão e um pouco de gergelim", diz a jovem. 15 pessoas terão que se satisfazer com a refeição. Desde que milícias muçulmanas destruíram o lugar há alguns meses e mataram muitos cristãos, a família de Chancella recebeu vários vizinhos.
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Vítimas, autores, centinelas
Ao lado da casa de Chancella, há um guarda da milícia Anti-Balaka. Os amuletos em seu corpo o tornam invulnerável contra balas, explica ele. A milícia tomou o controle da região. Seu trabalho é proteger os moradores da aldeia do ataque de outros rebeldes. No entanto, a sua proteção aplica-se apenas aos cristãos - há muito tempo os muçulmanos deixaram o local ou foram mortos.
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Presença internacional
Sete mil soldados da União Africana e da França têm a responsabilidade de garantir a segurança no país dilacerado. A situação humanitária está piorando a cada dia, no entanto. Em 1 de abril, a União Europeia lançou oficialmente a sua operação militar na República Centro-Africana, com um contingente de até mil homens para reforçar as tropas francesas e africanas por um período de até seis meses.
Autoria: Adrian Kriesch/Jan-P. Scholz