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O que significa a retirada dos rebeldes congoleses de Goma?

4 de dezembro de 2012

Os rebeldes do M23 ocuparam a cidade de Goma, na República Democrática do Congo, durante quase duas semanas. Depois, cederam e retiraram-se da cidade. Mas isso não significa necessariamente uma derrota.

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Rebeldes congoloses do M23 retiram-se da cidade de Goma
Rebeldes congoloses do M23 retiram-se da cidade de GomaFoto: Phil Moore/AFP/Getty Images

Os rebeldes do Movimento 23 de Março, ou M23, cederam à pressão internacional e deixaram a cidade de Goma no último fim de semana. Os rebeldes estavam no comando da capital da província de Kivu Norte, no leste da República Democrática do Congo, desde há praticamente duas semanas.

Rebeldes congoloses do M23 retiram-se da cidade de Goma
Rebeldes congoloses do M23 retiram-se da cidade de GomaFoto: Phil Moore/AFP/Getty Images

Mas o M23 não se deu por vencido. De acordo com observadores, a tomada de Goma teria sido um sucesso do qual o movimento beneficiou política e militarmente. Assim, conseguiram tomar veículos e armamentos na cidade.

Além disso, a sua retirada também não quer dizer necessariamente que os rebeldes abandonaram por completo o controle que tinham sobre a cidade. “Há relatos vindos da região de que os rebeldes deixaram novos recrutas em Goma”, diz Steven Spittaels, do instituto belga International Peace Information Service. “Muitos testemunhos indicam que exista uma presença oculta do M23 na cidade. Enquanto o exército congolês estiver de volta à cidade, não se exclui que os rebeldes do M23 possam voltar a dominar Goma".

Mais resistência política

Segundo a agência de notícias France Presse relatou na segunda-feira (03.12), o Exército da República Democrática do Congo (RDC) voltou a Goma no meio da tarde, dois dias após a retirada dos rebeldes, que agora esperam a abertura de negociações com Kinshasa. Os soldados esperavam a cerca de 30 quilômetros da principal cidade do leste do país para voltar.

Rebeldes "entraram em contato com a oposição política, a diáspora congolesa, a sociedade civil", diz Tegera
Rebeldes "entraram em contato com a oposição política, a diáspora congolesa, a sociedade civil", diz TegeraFoto: AP

Mas, que mais fizeram os rebeldes do M23 enquanto estiveram em Goma? Aloys Tegera, do Pole Institute, um instituto de pesquisas intercultural na cidade, também não acredita que eles tenham ficado simplesmente sentados.

“Eles entraram em contato com a oposição política, a diáspora congolesa, a sociedade civil. Essa abertura foi registrada internacionalmente e o presidente congolês Joseph Kabila precisa admitir isso", afirma.

Kabila terá de se preparar para mais resistência política na República Democrática do Congo, diz Tegera, ainda que a união do M23 com a oposição não tenha tido sucesso.

Nova agenda do M23

De acordo com o analista, os rebeldes também redefiniram a própria agenda. Enquanto o Movimento 23 de Março, de início, só exigia que o governo congolês aceitasse o que havia sido combinado num acordo de paz fechado em 2009, agora os rebeldes deverão tentar aglutinar a oposição política atrás de si para aumentar a própria influência.

Rebeldes terão novos objetivos
Rebeldes terão novos objetivosFoto: AP

De lembrar que o M23 é composto por ex-rebeldes que haviam sido integrados ao exército congolês, após assinatura de um acordo de paz com Kinshasa em 2009. Há cerca de oito meses, os rebeldes reintegrados se amotinaram, avaliando que as autoridades congolesas não cumpriram todas as promessas feitas aos ex-rebeldes.

Steven Spittaels, do International Peace Information Service, também acredita na agenda nova do M23 e diz que, com a ação militar dos rebeldes, já não é possível reconhecer o objetivo original do M23 de proteger a população de etnia tutsi no leste da RDC.

Segundo Spittaels, “o fator étnico ainda é importante porque é um fator de união. Mas mesmo no interior da comunidade tutsi, há rachaduras. Muitos dos ex-comandantes rebeldes tutsis ficaram no Exército."

Autor: Philipp Sandner / Renate Krieger
Edição: Guilherme Correia da Silva / António Rocha

O que significa a retirada dos rebeldes congoleses de Goma?