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O norte do Mali aguarda por soluções

Katrin Gänsler | ck
27 de março de 2017

O lançamento de uma conferência de unidade nacional vocacionada para a paz e a reconciliação devia constituir um sinal de esperança para a população no norte do Mali. Mas na região reinam o ceticismo e o desalento.

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Foto: picture-alliance/AP Photo

Fim da tarde em Gao, no norte do Mali. Um grupo de jovens adultos está sentado num quintal no centro da cidade. Entre eles está Issa Boncana, membro do Movimento de Resistência Civil. O grupo foi formado durante a crise de 2012. Em vez de fugir, os seus aderentes tentaram ajudar a população e resistiram pacificamente aos ocupantes islamitas e a muitos bandidos armados que se aproveitaram da situação, conta o jovem à DW. E explica porque é que o quintal se tornou no ponto de encontro diário: "Aqui não há nada para fazer. Não há fábricas. Ninguém investe na juventude que ficou”. Boncana diz que os jovens têm esperança que o Governo os ouça e crie emprego: "Mas, neste momento, não há nada", remata.

Mesmo antes da crise, que começou nos finais de 2011 com a revolta tuaregue e atingiu um ponto culminante com a ocupação dos extremistas islamitas, o turismo já tinha sofrido uma quebra importante. Até hoje não chegam aqui investimentos, porque a situação é considerada precária. Moussa Souma Maiga, o líder tradicional do grupo étnico do songai em Gao, diz: "É evidente que a segurança aqui não funciona. Não nos podemos movimentar livremente e até estamos mais limitados agora. O que não é aceitável."

Mali Gao
O líder tradicional dos songai em Gao, Moussa Souma MaigaFoto: DW/K. Gänsler

A sensação de insegurança

Nalgumas esquinas de Gao, onde o exército alemão participa na missão de paz das Nações Unidas MINUSMA com 727 soldados, vêem-se capacetes azuis. De vez em quando, passam patrulhas. O exército maliano e as milícias aliadas estão acampados perto do aeroporto. Mas para além do centro da cidade não se avista um único posto militar. Circulam rumores que ainda há jihadistas ativos na cidade. O que é confirmado por Moussa Souma Maiga, que recorda o atentado de janeiro passado, no qual morreram 70 soldados. Ainda hoje ocorrem pequenos atentados que agravam o medo e a sensação de insegurança. Algo que está a influenciar o processo de paz.

O norte do Mali aguarda por soluções

Em maio de 2015, o Governo e vários grupos rebeldes tuaregue assinaram um acordo, que está a ser progressivamente implementado. A próxima etapa é a conferência de unidade nacional com início marcado para segunda-feira, 27 de março. Os temas que serão debatidos incluem a paz, a unidade nacional e a reconciliação. Mas no norte do país, que é, afinal a região que é o tema central da conferência, as expetativas são muito modestas. Vários grupos armados e partidos da oposição anunciaram um boicote ao encontro, em que participam representantes do Executivo. A incerteza e a falta de perspetivas são as características que continuam a marcar a vida dos habitantes da cidade de Gao. 

Sentado no quintal, Issa Boncana afirma: "Nem nós, nem outros grupos juvenis, fomos contactados. Ninguém nos convidou. Ninguém nos perguntou nada. Se houver um acordo, será um acordo de Bamako. Não é um acordo do Mali ou sequer do norte. Não consideramos que isso seja um acordo".

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O exército alemão participa na missão de paz das Nações Unidas no Mali, MINUSMAFoto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld

Bamako está muito longe

Na opinião deste jovem, os grupos pacifistas deviam participar ativamente no processo de paz, uma vez que não se trata apenas de superar a crise, mas de garantir o futuro do país todo. Mas da forma como se processa o diálogo, fica a impressão que só aqueles que recorreram às armas são escutados. Os movimentos pacifistas são ignorados, lamenta Boncana.

O líder tradicional Souma Maiga está um pouco mais otimista. Diz que a conferência é relevante, mas sugere cautela: "O mais importante é que o amor à pátria faça ver a necessidade de compromissos. Há que perceber que numa situação tão frágil como a nossa rapidamente se destrói o que depois custa muito a reconstruir".

Moussa Souma Maiga diz não saber se da conferência, que deverá terminar no dia 2 de abril, resultará assistência concreta para a sua cidade natal de Gao. Tal como outros habitantes da cidade, o líder tradicional não esconde um certo ceticismo. Afinal, argumenta, o norte do Mali e os seus problemas sempre pareceram muito longínquos a Bamako.