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O cantor de intervenção Bonga pede direitos e relembra deveres a Angola

João Carlos (Lisboa)7 de outubro de 2013

O músico angolano Bonga apela ao Governo de Angola a respeitar o direito à manifestação e à liberdade de expressão. Mas o cantor também pede aos jovens que exerçam o seu direito de manifestação com civismo e ordem.

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Bonga, cantor angolano grande intérprete do sembaFoto: Rafael Belincanta

Assume-se como cantor apartidário, idóneo, ciente das suas opções artísticas, que brilha unicamente à custa do profissionalismo. Diz que não canta para fazer propaganda política. Canta sim, em defesa da tradição e das raízes da cultura angolana. E como angolano e músico de intervenção, está também atento ao que se passa em Angola e no mundo.

José Adelino Barceló de Carvalho ou Bonga, como todos o conhecem, critica a violação do direito à manifestação, bem como a ação policial sob os jovens do Movimento Revolucionário, que recentemente têm vindo a avançar com protestos contra as injustiças sociais .

Bonga afirma que se cometem muitos erros de organização ideológica. "O defeito de usar a juventude como carne para canhão num passado recente, o defeito incrível das famílias desmembradas, o grande defeito de usarem sistematicamente as pessoas e as coisas", exemplifica. Por estes motivos, diz que "muitas coisas ficaram defeituosas".

Com este passado, a entrada para a democracia está a gerar "medo da reação das pessoas" e o cantor diz que "a melhor forma é não impedir" a democracia.

Manifestação mas com civismo, apela

Entre outros casos, em meados do mês passado, jovens do referido Movimento, acusados de distúrbios, desobediência e atos de vandalismo, foram detidos em Luanda e libertados depois, na sequência da proibição de uma manifestação anti-governamental em defesa de mais justiça social.

"Na democracia temos que nos manifestar, temos que dizer que não estamos contentes", defende o cantor angolano, relembrando também que estes movimentos sociais podem acontecer ordeiramente. "As pessoas quando se manifestam também não é para partir, eu não estou de acordo. Há regras para tudo na vida", sublinha Bonga.

Entre os vários movimentos da sociedade civil que protestam em Angola, diz existirem pessoas de bom censo e sublinha que o civismo é a chave para a conquista. "Se queremos de facto que o povo beneficie com as reivindicações, é preciso que a reivindicação tenha um efeito positivo e não negativo". Adianta que as injustiças sociais não existem apenas em Angola, mas que lá, é necessário que as manifestações ocorram "ordeiramente".

Angola atualmente mais "desordenada"

Bonga afirma que o país hoje está mais "desordenado" que no passado e pede uma distribuição mais justa da riqueza nacional.

Para ele é urgente que "os angolanos sejam assistidos" e lembra que não basta "vangloriarmo-nos que temos diamantes e petróleo", se o lucro destes recursos não chega à população. "Estes dinheiros e esta riqueza têm que servir as pessoas que têm muito mais necessidades que no tempo colonial", reitera o cantor.

A música – concorda – pode ajudar a mudar esta realidade. Bonga reconhece, no entanto, o empenho do Governo de Luanda em mudar a imagem de Angola e melhorar o futuro dos angolanos desfavorecidos.

Defensor pelo mundo fora do semba – uma das fortes tradições musicais de Angola –, este antigo atleta, campeão de Portugal dos 400 metros, já conta com 40 discos. Para já, no auge da maturidade, diz que não tem pressa para lançar um novo trabalho. "Estou naquela reta em que cortei a meta e vou indo calmamente até arrefecer", conclui Bonga.

A DW África entrevistou o músico à margem de mais três atuações, na semana passada, no Teatro Ibérico, em Lisboa. Bonga, que vai cumprindo a agenda de vários concertos pelo mundo, espera ser uma das vozes inevitáveis das celebrações do 11 de novembro, no 38º aniversário da independência de Angola.

O cantor de intervenção Bonga pede direitos e relembra deveres a Angola

Angola Sänger Bonga Kwenda
Bonga já gravou 40 discosFoto: Rafael Belincanta
Proteste gegen die Regierung Angolas
Jovens angolanos num protesto contra o governo em LuandaFoto: DW/M. Vieira