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Nyusi: "Cabeça fria ajuda a tomar decisões racionais"

Lusa | tms
21 de abril de 2021

Presidente moçambicano pede "cabeça fria" a todos em Cabo Delgado e nos empreendimentos de gás natural, após a invasão de Palma. Governo garante prestar assistência a 715 mil deslocados no norte do país.

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Nyusi anunciou para dezembro a chegada da primeira plataforma do projeto de gás no RovumaFoto: DW/B. Jequete

"Nós queríamos convidar todos os intervenientes a ter o poder de superação. Em momento difíceis de crise, a cabeça fria ajuda a tomar decisões racionais", referiu o chefe de Estado esta quarta-feira (21.04). 

Filipe Nyusi falava em Maputo, durante a sessão de abertura de um evento ligado à indústria extrativa, com participantes do setor e num discurso em que resumiu as promissoras perspetivas no país na área, ensombradas pela insegurança.

O Presidente aproveitou a ocasião para anunciar a chegada da plataforma flutuante que vai ser o primeiro projeto a produzir gás natural na bacia do Rovuma. "Recebemos com agrado a informação do operador de que o barco [plataforma integrada de exploração e processamento] chegará a Moçambique em dezembro deste ano", referiu, antecipando a última previsão que apontava a chegada para o primeiro trimestre de 2022.

"A plataforma poderá alcançar a meta de começar a produzir em 2022", com uma capacidade de 3,4 milhões de toneladas de gás natural liquefeito por ano (mtpa). A plataforma faz parte do consórcio da Área 4 liderado pela Exxon Mobil e Eni a partir das reservas de gás Coral Sul.

Cabo Delgado: traumas de guerra, sonhos de paz

Ataques em Cabo Delgado 

Entretanto, o chefe de Estado fez referência ao mais recente ataque de grupos armados que aterrorizam a região há três anos e meio e que levaram a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o maior investimento em África, no valor de 20 mil milhões de euros, no distrito de Palma.

"É preciso persistência, é preciso disciplina, como nós agimos. Porque, se não, podemos ser levados a tomar decisões precipitadas que podem não ajudar a disciplina, abordagens corretas, acertadas e com órgãos certos", acrescentou.

"Tendências não menos preocupantes"

No que respeita ao cenário nacional, Nyusi fez ainda referência a "tendências não menos preocupantes" na região centro, "onde ainda se verificam ataques armados da junta militar [um grupo dissidente] da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO, oposição) contra civis e Forças de Defesa e Segurança (FDS)".

"Moçambique pretende evitar experiências universais que negligenciaram a criação de riqueza provinda dos seus recursos para o desenvolvimento das suas próprias economias", acrescentou.

No final, deixou um compromisso renovado com a paz: "De forma honesta deixo registada a minha palavra de que o Governo tudo fará para que se estabeleça a paz em Moçambique" e assim se garanta "a continuidade dos investimentos que pretendem minimizar as vulnerabilidades socioeconómicas do povo moçambicano".

Deslocados da violência no país

Por causa da violência em Cabo Delgado, no norte do país, e também na região centro, o Governo moçambicano já contabilizou até o último domingo (18.04) 723 mil deslocados no país – o correspondente a 157 mil famílias.

Esta quarta-feira, o primeiro-ministro Carlos Agostinho do Rosário disse que, daquele total, 715 mil deslocados são de Cabo Delgado que estão a receber assistência do Governo e dos parceiros internacionais.

Cabo Delgado: Governo moçambicano realoja deslocados

"A assistência humanitária está a beneficiar 715 mil pessoas que se encontram nos centros transitórios de acomodação e nas famílias acolhedoras na cidade de Pemba e nos distritos circunvizinhos", assim como em Palma, depois do ataque armado de 24 de março àquela vila, referiu Carlos Agostinho do Rosário, ao ser questionado no Parlamento sobre a ajuda, considerada insuficiente, por organizações humanitárias e pela própria população.

Ajuda humanitária

As vítimas da violência armada em Cabo Delgado (norte do país) têm recebido abrigos temporários, bens alimentares e não alimentares e assistência sanitária, acrescentou o primeiro-ministro moçambicano, depois de uma pergunta da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) sobre o ponto de situação da ajuda humanitária.

No entanto, organizações humanitárias e os próprios deslocados têm classificado a distribuição de ajuda como insuficiente, queixando-se de fome e falta de abrigos, entre outros problemas.

Na última semana, o Programa Alimentar Mundial (PAM) fez o mais recente eco dessas limitações ao lançar um apelo aos doadores no valor de 82 milhões de dólares (68 milhões de euros) para dar assistência a 750.000 pessoas, 78% das 950.000 pessoas que segundo o PAM enfrentam fome severa, entre deslocados e famílias de acolhimento.

Situação no centro do país

Na região centro de Moçambique, prosseguiu o primeiro-ministro, cerca de oito mil pessoas também estão a receber assistência humanitária devido à emergência provocada pelos ataques armados da Junta Militar, uma dissidência da RENAMO, principal partido da oposição.

Carlos Agostinho do Rosário frisou que o aumento do fluxo de deslocados levou o Governo a criar um grupo de trabalho que elaborou um plano de ação para o reforço da assistência humanitária, criação de condições para a rápida normalização da vida das pessoas afetadas e retoma da atividade produtiva.

O primeiro-ministro moçambicano reiterou a já conhecida posição do Executivo de que o combate ao "terrorismo" em Cabo Delgado "é responsabilidade primária dos moçambicanos", mas essa luta só terá sucesso com cooperação internacional, dado o caráter transnacional dos grupos armados que atuam na região.

"É neste âmbito que o nosso país acolheu, recentemente, a reunião da Dupla Troika da SADC [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral] que visa delinear estratégias conjuntas para prevenção e combate ao terrorismo, que representa uma ameaça para a região, no quadro da do Pacto de Defesa Mútua da SADC", frisou Carlos Agostinho do Rosário.