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"Nunca existiu turbulência", afirma Pio Matos

Nádia Issufo
12 de outubro de 2019

No último dia da campanha eleitoral em Moçambique, o candidato da FRELIMO ao Governo da Zambézia, Pio Matos, em entrevista à DW África, minimizou a crise aparente entre ele e o partido.

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Pio Matos
Pio MatosFoto: DW/N. Issufo

Depois de uma saída meio conturbada do município de Quelimane, em 2011, Pio Matos é candidato a governador da província da Zambéza pela FRELIMO. 

Em entrevista à DW África, Matos desvaloriza esse momento de aparente crise entre ele e o partido no poder, discorda que seu oponente nessas eleições goze de boa aceitação na província e diz não acreditar que as eleições descambem em violência na província da Zambézia.

DW África: O que determinou o seu regresso à política ativa na província da Zambézia?

Pio Matos (PM): Nunca estive ausente da política.  Estar sendo convidado pelo meu partido para ser candidato, na altura, ao município [de Quelimane], nas primeiras eleições autárquicas e, tendo vencido-as, fiquei por mais dois mandatos. Então, tive três mandatos no município. Tendo me ausentado do município, continuei no meu partido desempenhando funções – porque era membro do Comité Provincial e também ascendi a membro do Comité Central [da FRELIMO].

Na qualidade de membro do Comité Central, fui desempenhando as funções a nível deste órgão e daí o convite surgiu para cabeça de lista. Como é óbvio, e são princípios do meu partido, as tarefas não se recusam e assumi de facto liderar esta lista e cá estou aguardando com toda a ansiedade o dia da votação.

Mosambik Quelimane
Vista parcial do centro de QuelimaneFoto: DW/J. Beck

DW África: Saiu do município de Quelimane de uma maneira não muito tranquila aos olhos do público, com acusações de corrupção e questões relacionadas à sua saúde. Esse capítulo conturbado foi bem ultrapassado por você?

PM: Não foi ultrapassado, [porque] nunca existiu turbulência. As pessoas cá fora é que faziam questionamentos porque provavelmente não houve um esclarecimento junto ao eleitorado ou daqueles que tinham dado o voto de confiança. Mas, entre mim e o meu partido, as questões foram bastante claras. Houve pequenas divergências e a bem da organização e a bem do desempenho do município, era óbvio que assumimos juntos que era bom que eu, faltando um ano e dois meses, cessasse funções e deixasse que o município caminhasse. Mas nunca com desavenças, esta é uma palavra que não existe. As contradições, as diferentes maneiras de pensar encontram sempre solução dentro do meu partido, nunca fora. Às vezes, as pessoas querem puxar soluções para os problemas de dentro do partido para fora e, então, não tendo encontrado base, vão inventando coisas, vão falando.

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DW África: Desde que saiu do município, quais são os pontos negativos e positivos que tem a apontar em relação a Quelimane?

PM: Não faço observações sobre isso, por uma questão de princípios e ética. O meu partido tem membros na Assembleia a trabalharem no município e, obviamente, que lá dentro do município têm posto as questões que acham relevantes, que o meu partido acha relevante, através da sua bancada.  Acredito que têm contribuído para o desenvolvimento desta cidade.

DW África: Está numa luta renhida com o candidato da RENAMO, Manuel de Araújo, que tem bastante aceitação aqui na província da Zambézia. Isso intimida-o de alguma maneira?

PM: Bastante aceitação é relativo. Ele nunca esteve mais, senão a concorrer pelo município, e tem ganhado, é o presidente do município. Mas agora, que se diga que ele tem bastante aceitação na província? Nunca o vi colher batatas nem milho na província e não sei quantas toneladas de aceitação ele tem e quantas é que eu tenho. Veremos. Não falta muito.

FRELIMO Anhänger
Apoiadores da FRELIMO em Quelimane (foto de arquivo)Foto: DW/M. Muéia

DW África: A Zambézia mostra-se um dos lugares de maior tensão política e, até certo ponto, propenso à violência. Neste contexto, o que antevê para o dia da votação?

PM: A Zambézia é, de facto, o centro da convergência política em Moçambique. Não há dúvidas, sempre. Desde as primeiras eleições, foi na Zambézia que surgiram mais de 15 partidos. Os partidos na Zambézia eram o dobro dos partidos no resto do país. Então, isso para medir que há um interesse, uma vontade natural das pessoas quererem participar. Daí, dá-lhe completamente a primazia de ser de facto o sítio onde há várias correntes e de ser um espaço agradável em disputa. É aqui que todos querem ganhar. É aqui que vale a pena ganhar.

DW África: Se compararmos com os anos anteriores, prevê-se mais conflitos nessas eleições. Concorda?

PM: Duvido. Estamos a falar de uma província alfabetizada, posso assim dizer, daí que a possibilidade de conflito é reduzida. Não quero polemizar, porque ele está sempre latente – basta existir o homem. Mas não acredito que aqui descambe em violência. No país, podem haver focos aqui e acolá. Aqui na Zambézia, se houver, são casos bastante isolados que facilmente a polícia vai controlar.

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DW África: E a tensão entre a polícia e os eleitores?

PM: Isso é normal. É normal que a polícia esteja lá, não para reprimir, mas para, como força para dissuadir, impedir que haja iniciativas maiores. Acredito que o papel da polícia vai continuar a ser relevante e ela tem que existir como forma de dissuadir o cidadão que tenha ideias propensas a conflito, que possa reduzir.

DW África: Em caso de derrota, pretende contribuir de alguma maneira para o bem-estar e o desenvolvimento da sua província?

PM: Estar na vida é estar de uma forma positiva. A derrota é uma palavra que não costumo assumir porque, aconteça o que acontecer, são sempre mais marés que marinheiros. A vida não acaba com uma simples derrota ou algo que assim se pareça. Acredito que o meu partido estará na Assembleia Provincial com certeza, por isso, falar de derrota com quem nunca perdeu, que sou eu [não faz sentido].

DW África: A campanha eleitoral termina hoje. Qual é o balanço que faz? Superou as suas expectativas ou nem por isso?

PM: A campanha correu bastante bem e, desta vez, o meu partido inseriu uma nova maneira de fazer campanha – envolvendo mais a todos e estando lá nas zonas mais recônditas, mesmo até fixando residência.  Não indo lá esporadicamente, mas trabalhando com as pessoas no dia a dia. Acho que esta maneira de fazer campanha vai surtir efeito, porque as pessoas sentiram a presença da campanha no dia a dia, lá no terreno.

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