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Niassa: O gigante adormecido de Moçambique

Conceição Matende
14 de junho de 2022

Fonte fértil e abundante de recursos em Moçambique, Niassa é uma província adormecida em termos de desenvolvimento. Se as suas potencialidades fossem valorizadas, poderia ser o verdadeiro celeiro do país?

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Foto: DW/M. David

O Niassa ressente-se da falta de financiamento no setor agrário para catapultar a economia provincial, assim como a do próprio país. E a subida galopante dos preços dos combustíveis como consequência da guerra entre a Rússia e a Ucrânia faz com que os recursos sejam cada mais escassos.

Amélia Muendane, presidente da Autoridade Tributária de Moçambique
Amélia Muendane, presidente da Autoridade Tributária de Moçambique Foto: Conceição Matende

A presidente da Autoridade Tributária de Moçambique, Amélia Muendane, diz que, a província de Niassa tem a capacidade de transformar a economia nacional devido aos recursos que detém. Mas para isso acontecer, é necessária intervenção humana. 

"Se olharmos para o potencial deNiassa, a província seria capaz de abastecer o país todo. Ninguém virá desenvolver Moçambique por nós. Essa geração tem de fazer a diferença", esclareceu.

A província chegou a ser considerada o celeiro do país devido às suas condições climáticas, diversidades de recursos minerais e potencialidades agro-culturais.

Fischer in Niassa Lake
Lago Niassa, o terceiro maior de ÁfricaFoto: Manuel David

Fraca produção

Muendane explicou que o Niassa, apesar de ser uma das províncias de referência em termos de cumprimento de metas de receitas, tem uma das mais pequenas metas ao nível nacional. Produz apenas o equivalente a dois meses da produção anual da vizinha Cabo Delgado. 

"Ainda que o Estado moçambicano decidisse hoje que tudo o que Niassa arrecada em receitas fosse revertido para o desenvolvimento da província, ainda assim, não seria capaz de construir nem uma estrada", lamentou.

Para Inocêncio Sotomane, presidente do Conselho Empresarial do Niassa, será um grande desafio tornar o Niassa o celeiro da nação e exige uma estruturação adequada do sistema produtivo. 

"Estruturar o sistema produtivo é olhar toda a cadeia de valor e tentar encontrar aquilo em que somos mais competitivos em relação a outras províncias e capitalizarmos exatamente estes aspectos", referiu. 

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Falta de escoamento

Jorge Paixão, produtor do Sustenta, programa nacional de integração da agricultura familiar em cadeias de valor produtivas, explica que os agricultores apontam a vasta diversidade da produção da província como prova do potencial agrícola da região, mas sentem a falta de um mercado para escoar os seus produtos.

"Neste momento temos muito milho, soja, amendoim, feijão, etc. O mercado é que é escasso por causa do preço. Estamos com uma quantidade de milho que não conseguimos ainda pôr no mercado. Os agricultores não têm dinheiro para poder absorver todos esses produtos dos pequenos produtores para colocar no mercado", lamenta.

O produtor acredita ainda que "o problema neste momento é o financiamento para poder suportar a aquisição dos produtos dos pequenos agricultores, que ficam com muitos produtos a apodrecer nos armazéns." 

Mosambik Wiederaufbau der Bahnverbindung zwischen Lichinga und Cuamba
Reconstrução da ligação ferroviária entre Lichinga e Cuamba em Moçambique (província do Niassa)Foto: DW/M. David

Muitos défices por colmatar

O economista Steven Manuel disse à DW África que ainda falta colmatar muitos défices para permitir que a província se torne distribuidora de produtos alimentares para outros pontos do país. 

"Para que haja uma maior adesão à produção, comercialização e exploração das potencialidades que a província do Niassa oferece, há a necessidade de acesso à informação e também a implementação de algumas políticas que sejam mais abrangentes, tanto ao setor formal como ao setor informal, permitindo que cada um possa explorar todas essas potencialidades e contribuir para a receita da província", considerou o economista.

Niassa é a maior província de Moçambique, com uma abundância de recursos minerais ainda não devidamente explorados, especialmente ouro, carvão, mármores, granitos vermelhos e pedras semipreciosas. Na vertente da natureza, destaca-se a costa mais alcantilada do lago Niassa, o terceiro maior de África.