Natal em tempos de crise
A crise económica e política que a Guiné-Bissau vive há mais de um ano e meio não vai passar sem deixar as suas marcas no Natal. Muitos salários estão em atraso e o poder de compra dos guineeneses voltou a cair.
Natal na Guiné-Bissau não é para todos
Muitas famílias na Guiné-Bissau tentam manter a tradição da árvore de Natal, apesar da crise. Mas mesmo a venda das árvores de plástico sofreu uma queda significativa neste ano. Foi um ano diícil para a população, apanhada entre querelas políticas e pessoais e crises económicas e financeiras, que, mais uma vez, adiaram o desenvolvimento do país.
Cuidado com os larápios
Como a contrariar o espírito natalício, neste período aumenta o número de roubos nos mercados do país. Jovens sem emprego nem escola, entre os 15 e os 30 anos, aproveitam a azáfama para furtar carteiras, telemóveis e fios de ouro. O reforço das medidas de segurança pela polícia não consegue deter os delinquentes.
Made in Germany
Quem pode, compra produtos de importação, alegadamente de melhor qualidade. Mas os fregueses desta loja de móveis no bairro de Pilum, que vende produtos em segunda mão importados da Alemanha, não são muito numerosos. Mesmo os móveis descartados pelos alemães, recolhidos do lixo naquele país longínquo, não encontram muita vazão na Guiné-Bissau.
Prendas para as crianças
Os produtos fabricados na China são mais baratos e têm maior procura, mesmo se a qualidade muitas vezes deixa a desejar. Hélia Sá, mãe de três filhos, passou muito tempo a vender comida na rua para poder dar uns poucos presentes de Natal às crianças. Na Guiné-Bissau, o lema é gastar o menos possível, mesmo nos mini-mercados.
Compras de Natal e não só
Não obstante a crise, no mercado a céu aberto de Bandim regista-se um aumento de movimentação à medida que se aproxima o dia de Natal. Mas não é só por causa da quadra natalícia. É que tradicionalmente os guineenses celebram os casamentos em dezembro, dando ímpeto ao comércio. Fraco consolo para os funcionários públicos, por exemplo, alguns dos quais têm os salários mais de 30 meses em atraso.
Quebra de receitas
Os comerciantes queixam-se do fraco negócio de Natal neste ano. As mulheres que vendem legumes e fruta dizem que, comparadas a 2015, antes da queda do Governo naquele ano, as receitas baixaram fortemente. Neste contexto não cai bem a todos o diretor do Banco Central, João Fadia, afirmar que a saúde financeira do país é "boa", tendo em conta as reservas cambiais e a inflação modesta de 2,6%.
Roupa ocidental
A roupa em segunda mão importada da Europa chama-se "fuca" e é muito procurada por quem tem poucos meios. A maioria dos jovens guineenses é desempregada e por isso recorre aos comerciantes que chegam com esta mercadoria dos países vizinhos. A loja é um pano no chão, sobre o qual se deitam as camisas, calças, meias, bocers e camisolas importados do velho continente. É à escolha do freguês.
Têxteis africanos estão na moda
Apesar da crise, e das roupas em segunda mão oriundas da Europa serem muito baratas, este ano os panos tradicionais africanos ganharam nova popularidade. Para grande satisfação dos alfaiates e artesãos nacionais, jovens e adultos dos dois sexos estão a comprar panos, ou vestidos e camisas feitos com têxteis africanos para usar na quadra festiva.
Espírito natalício?
Há famílias desavindas que não vão passar juntas a quadra festiva e a tradicional ceia de Natal. O motivo: a política. A crise política que divide o país passa pelo meio de famílias, com os dois lados a assumir posições intransigentes. O impacto da crise na vida das pessoas assume as mais variadas formas, mas todas são negativas.