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Mutilação Genital Feminina: Luta para "abolir uma barbárie"

Annabelle Steffes-Halmer | Bob Barry | cvt
6 de fevereiro de 2019

Esta quarta-feira, 6 de fevereiro, é Dia Internacional contra a Mutilação Genital Feminina. Em muitos países africanos, as mulheres continuam a ser vítimas desta prática. Ativistas e médicos tentam ajudá-las.

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Foto: Getty Images/AFP/Y. Chiba

Hadja Idrissa Bah não quer ser uma vítima. A jovem da Guiné-Conacri está determinada a lutar como ativista contra a Mutilação Genital Feminina (MGF). Apesar de ser proibido, o ritual brutal é generalizado no seu país: segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), 97% das mulheres na Guiné-Conacri são circuncidadas.

"Em muitas comunidades, cosem inclusive os lábios genitais, que são depois rasgados na noite de núpcias", conta Hadja, de dezanove anos, em entrevista à DW. "Estou traumatizada. Quando alguém me fala sobre a circuncisão, sinto-me impotente e tenho medo - é uma coisa que me consome."

A jovem veste um turbante amarelo claro e uma blusa xadrez, vermelho e azul. Fala de forma entusiasmada sobre a organização que fundou, para informar e proteger as raparigas do grande sofrimento da mutilação genital.

"Fiquei a odiar os meus pais, porque eles me traíram", recorda. "Não me disseram para onde estava a ser levada. Teoricamente era para ir de férias, mas fui confrontada com isto."

Uganda - Schild gegen FGM
Apesar de ilegal, MGF continua a ser realizada em muitos paísesFoto: Getty Images/AFP/Y. Chiba

Mulheres consideradas impuras

Em muitos países africanos, segundo as crenças tradicionais, raparigas e mulheres são consideradas impuras se não forem circuncidadas. "Os pais temem que não encontrem marido, e muitas mulheres acham que a sua condição é normal", diz a médica Mariatu Tamimu, que trata vítimas de MGF na Serra Leoa.

Os ferimentos resultantes da mutilação genital podem ter níveis diferentes de gravidade. Comum a todos os casos é que a genitália feminina externa é parcial ou completamente removida. Muitas vezes, o procedimento é realizado em condições anti-higiénicas, sem anestesia e com meios simples, como cacos de vidro ou lâminas de barbear.

"Na nossa clínica de ginecologia na cidade de Bo, costumamos operar fístulas que se formaram devido à mutilação. Muitas vezes, o canal de parto está fechado. Nós abrimo-lo para que as mulheres possam dar à luz", diz a médica de 32 anos.

"É tudo para o prazer dos homens", afirma. "O clitóris é cortado, porque a crença generalizada é que, caso contrário, as mulheres podem traí-los." Para Tamimu, a prática não tem nada a ver com religião.

Algumas mulheres conseguem ter uma vida normal e engravidar após uma cirurgia. Mas outras, por causa da gravidade dos ferimentos, "ficam lesadas para a vida inteira".

Mutilação Genital Feminina: Luta para "abolir uma barbárie"

Rituais alternativos

No Quénia, a circuncisão genital feminina também é proibida. No entanto, é realizada secretamente em muitas comunidades.

Denge Lugayo, da organização não-governamental africana "Amref Health Africa", que luta contra a MGF, enfatiza que, para acabar com esses rituais perigosos a longo prazo, toda a comunidade deve estar envolvida.

A organização promove, por exemplo, a realização de ritos de passagem de idade alternativos.

"Todos os passos que as comunidades seguem durante o ritual são seguidos, exceto a circuncisão. A celebração, a cerimónia e a dança são realizadas, mas recomendamos a exclusão do corte da rapariga ou da mulher", diz Lugayo.

Ações de esclarecimento nas escolas também são importantes, tal como programas alternativos de ocupação para as mulheres que realizam a circuncisão, acrescenta: "Se quisermos abolir essa barbárie no futuro, também temos de considerar as mulheres que fazem a MGF e criar outras fontes de rendimento, e temos de conversar com elas sobre isso. Podem, por exemplo, produzir sabonetes ou almofadas para as raparigas."

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Clínica em Berlim ajuda migrantes

Há quatro anos que Cornelia Strunz, cirurgiã no Hospital Waldfriede de Berlim, trata mulheres vítimas de mutilação genital. Faz operações reconstrutivas e oferece também ajuda psicossocial e aconselhamento.

"A maioria das mulheres são migrantes de países africanos e falam aqui, pela primeira vez, sobre o que lhes aconteceu", revela a médica.

"A Organização Mundial de Saúde estima que 10% das mulheres vítimas de MGF morrem de consequências agudas e 25% de consequências a longo prazo. Muitas têm dores na região do clitóris e das cicatrizes. Outras foram completamente costuradas, sentem dores ao urinar e não podem ter relações sexuais. Algumas têm fístulas, que se formam entre a vagina e o reto."

Muitas dessas vítimas vivem há muito tempo na Alemanha; outras vêm de toda a Europa para receber tratamento na clínica. Para as mulheres, o tratamento é gratuito, possibilitado pela fundação "Desert Flower", da modelo somali Waris Dirie, que foi vítima de mutilação genital.

"Podemos ajudar muitas mulheres a ter uma vida melhor", diz Strunz. É um vislumbre de esperança para vítimas de todo o mundo.

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