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Moçambique: Taxa de inflação continuará elevada em 2023

29 de janeiro de 2023

Prevalecem elevados os riscos que podem agravar o custo de vida dos moçambicanos. O alerta é do Banco de Moçambique. Economista defende maior conciliação entre o Banco Central e as medidas de política fiscal.

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Mosambik I Fisch-Markt Maputo
Foto: Roberto Paquete/DW

De acordo com o Banco de Moçambique, a dívida pública mantém-se elevada. O endividamento público interno situa-se em 288,7 mil milhões de meticais, o que representa um aumento de 13,6 mil milhões em relação a dezembro do ano passado.

Em entrevista à DW, a economista moçambicana Estrela Charles frisa que a "política monetária implementada pelo Banco de Moçambique tem tido pouco impacto a nível do mercado real". Charles defende a necessidade de maior conciliação entre o Banco Central e as medidas de política fiscal.

DW África: Os moçambicanos devem ficar preocupados com esse alerta do Banco de Moçambique, especialmente com a aprovação da Tabela Salarial Única (TSU) que aumenta os gastos do Governo?

Estrela Charles (EC): Sim, realmente é motivo de preocupação. O que o Banco de Moçambique anunciou é que vão aumentar as taxas de reserva obrigatória, o que significa que os bancos comerciais terão pouca liquidez. Isso irá implicar diretamente na taxa de juro internamente. E, como aumentou a taxa de reserva obrigatória para moeda estrangeira, muito provavelmente, e num curtíssimo prazo, teremos também mexidas na taxa de câmbio. E nós conhecemos a nossa economia, sabemos que somos importadores de quase tudo. Haverá implicações diretamente no nível de preços de vários bens e serviços que adquirimos, principalmente da África do Sul.

DW África: Não se pode então perspetivar uma desaceleração da inflação, a curto e médio prazo?

EC: Esta medida do Banco de Moçambique tem em vista a redução da inflação. Entretanto, pode também, de forma indireta, influenciar a taxa de câmbio. E nesse ponto é que poderemos ter problemas mais graves em termos de aumento de preços. Ou seja, essa medida poderá não ter os efeitos desejados.

BG Mosambik | Alltag und Militarismus in Cabo Delgado
"Para 2023 há previsão de aumento das despesas de cerca de 30 mil milhões, só relativos à Tabela Salarial Única", sublinha economistaFoto: Roberto Paquete/DW

DW África: Por outro lado, o Banco Central decidiu manter a taxa de juro de política monetária (taxa MIMO) em 17,25%. Isso poderá impactar positivamente?

EC: Eu acredito que não. Não terá nenhum impacto, porque o que aconteceu durante todo o ano de 2022 foram mexidas na taxa de referência, na taxa MIMO. E os aumentos que foram acontecendo não tiveram um impacto direto na taxa de inflação. O Banco de Moçambique pretendia que a taxa de inflação terminasse o ano com uma taxa de cerca de um dígito, mas vimos que terminámos com uma taxa de cerca de 10,9%.

Pela estrutura da nossa economia, a política monetária implementada pelo Banco de Moçambique tem tido pouco impacto a nível do mercado real, o que significa que a política monetária, por si só, não chega para resolver os problemas da economia. É preciso uma conciliação entre as medidas do Banco Central e as medidas de política fiscal. São medidas que estão a ser tomadas de forma isolada e que não vão trazer um resultado positivo a curto prazo. Para 2023 há previsão de aumento das despesas de cerca de 30 mil milhões, só relativos à Tabela Salarial Única. É uma despesa muito grande. Acredito que o Banco de Moçambique, sozinho a implementar essas políticas, não terá o resultado desejado. Vamos continuar em 2023 a ter uma taxa de inflação muito elevada.

DW África: A nível externo, os efeitos do conflito na Ucrânia, por exemplo, poderão continuar a sentir-se. E a nível interno, que outros riscos poderão agravar a situação?

EC: Nós temos uma inflação importada, o que significa que, a nível interno, existem vários fatores que podem influenciar a inflação. Em primeiro lugar, estamos num ano eleitoral e sabemos que os anos eleitorais são anos de muitos gastos e em que existem muitas isenções fiscais. Todos esses fatores associados ao aumento de salários, a Tabela Salarial Única, o pacote de aceleração económica que está a ser implementado, fazem com que o ano de 2023 seja um ano diferente, um ano um pouco difícil. Será provavelmente um ano com níveis de inflação ainda muito elevados. Como sociedade, como cidadãos, temos que nos preparar e controlar, pedir mais transparência, principalmente por ser um ano eleitoral. Sabemos que as despesas disparam, muitas vezes duplicam ou até triplicam. Os benefícios fiscais para certas empresas também duplicam. Então é um ano que requer muita fiscalização.

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