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Mexidas no Governo "só para acomodar interesses"

4 de março de 2022

O Presidente moçambicano nomeou o ex-ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, para o cargo de primeiro-ministro. E há várias outras mexidas no Executivo. MDM diz que é "mais um ato para acomodar" interesses.

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Foto: Roberto Paquete/DW

Adriano Maleiane toma posse esta sexta-feira (04.03) como novo primeiro-ministro de Moçambique. Substitui no cargo Carlos Agostinho do Rosário, que ocupava a posição desde janeiro de 2015.

Para Ivone Soares, deputada da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o principal partido da oposição, a indicação de Maleiane é acertada.

"É um governante com créditos firmados, uma pessoa competente. É um tecnocrata de mão cheia, que conhece o trabalho que faz, e tem presença. Não é uma pessoa que será abafada por seja quem for", considera da deputada.

Carlos Agostinho do Rosário, ex-primeiro ministro de Moçambique
Carlos Agostinho do Rosário foi demitido do cargo de primeiro-ministroFoto: Romeu da Silva/DW

As mudanças no Executivo de Filipe Nyusi não ficaram por aqui. No despacho da Presidência da República, divulgado na tarde de quinta-feira (03.03), Nyusi nomeou ainda Max Tonela,que dirigia o Ministério dos Recursos Minerais e Energia, para o cargo de ministro da Economia e Finanças. 

Carlos Mesquita, que desde 2020 dirigia o Ministério da Indústria e Comércio, passa para o Ministério das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos. E Lídia Cardoso, que até então era vice-ministra da Saúde, passa a ministra do Mar, Águas Interiores e Pesca.

No entanto, há também novas caras nas nomeações.

Carlos Zacarias, que já foi Presidente do Conselho de Administração do Instituto Nacional de Petróleo, foi indicado para o cargo de ministro dos Recursos Minerais e Energia. Silvino Moreno é o novo ministro da Indústria e Comércio e Amílcar Tivane será vice-ministro da Economia e Finanças.

O porta-voz do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a segunda maior força política da oposição, mostra-se apreensivo quanto à remodelação governamental.

Não está em causa a competência dos ministros ora nomeados, ou exonerados, comenta Augusto Pelembe, o problema é mais vasto: "Ainda que os ministros fossem tão bons, as pessoas tornam-se incapazes estando dentro do sistema político do regime da FRELIMO", a Frente de Libertação de Moçambique.

Acomodação de interesses

Para Pelembe, as remodelações feitas por Filipe Nyusi não passam de uma mera acomodação de interesses individuais.

Ivone Soares, deputada da RENAMO
Ivone Soares: "O que nós queremos é que o país avance"Foto: privat

"Tem sido comum os chefes de Estado, quando chegam ao final do mandato, acomodar os seus que ainda não tinham tido pão", diz o político, acrescentando que este "é mais um ato para acomodar os seus do que para trazer soluções para o povo moçambicano", conclui o porta-voz do MDM.

A deputada da RENAMO Ivone Soares apela aos recém-nomeados para que arregacem as "mangas", porque, segundo avisa, "o que nós queremos como moçambicanos é que o país avance com soluções concretas para os problemas quotidianos do país".

Um Presidente "incompetente"

A ativista social Fátima Mimbire concorda que as mexidas devem se refletir no desenvolvimento do país, porque, segundo observa, o país tem "um Presidente despreparado para um país com o nível de complexidade de problemas que nós temos".

Mimbire diz que Nyusi é "um Presidente todo-poderoso, porque é presidente do partido, do país, presidente de tudo, mas, no final do dia, é um incompetente".

Fátima Mimbire, jornalista e ativista social
Fátima Mimbire, jornalista e ativista socialFoto: Privat

A ativista estranha, por outro lado, a indicação de Carlos Mesquita para o Ministério da Obras Públicas. Mimbire também considera que se trata de uma "acomodação" de interesses. "Não se trata aqui de colocar alguém que vai dinamizar o Ministério e fazer coisas extraordinárias", antevê a também jornalista.

Todos unidos antes da reunião do Comité?

Mimbire acredita que, com estas mudanças, Filipe Nyusi estará a preparar a sua máquina partidária, tendo em conta o próximo encontro do Comité Central da FRELIMO.

"É preciso que se vá à reunião do Comité Central com uma perspetiva de reconciliação, de que estão todos inclusos. Então, é como se estivéssemos a acomodar outros interesses para dizer que a FRELIMO está unida e coesa", observa. 

A DW África tentou obter uma reação do partido governamental, a FRELIMO, mas o porta-voz desta formação política, Caifadine Manasse, não atendeu as ligações.

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