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Morre Jaka Jamba, "diplomata, político e homem de cultura"

1 de abril de 2018

Dirigente histórico da UNITA morre aos 69 anos em Luanda, vítima de doença. Político era um dos últimos negociadores angolanos vivos do Acordo de Alvor, que antecedeu a independência de Angola.

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Foto: DW/A. Cascais

Morreu na madrugada deste domingo (01.04) aos 69 anos o nacionalista e deputado angolano Almerindo Jaka Jamba. Descrito como "diplomata, professor, político e homem de cultura", Jaka Jamba foi um dirigente histórico da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e um dos últimos negociadores angolanos vivos do Acordo de Alvor, que antecedeu a independência de Angola.

Em entrevista à DW África, Alcides Sakala, deputado e porta-voz da UNITA, o maior partido da oposição angolana, assim descreveu Jaka Jamba: "Era um homem de cultura, humanista, africanista, nacionalista, patriota, historiador, filósofo e um homem de pensamento".

Sakala diz que conheceu Jaka na década de 1960 na antiga Nova Lisboa, atual província do Huambo, enquanto estudantes. "Sempre caminhamos juntos na resistência e na busca de construção de uma nova nação", sublinhou.

A família explica que, antes de apresentar complicação de saúde, Jaka Jamba encontrava-se em casa, em Luanda, em convívio familiar. Em declarações a uma cadeia televisa local, Gilberto Satumbo, um dos familiares, disse que o encontro da família terminou pouco depois da meia-noite.

"A mãe foi para o quarto dormir e ele ficou na sala", conta. Momentos depois, viria a ser encontrado no mesmo local pela sua mulher "já com dificuldades de respiração".

A família tentou reanimá-lo com mecanismos de recuperação de respiração, mas sem o efeito desejado. "Só às três horas se pensou em chamar uma ambulância. A ambulância também demorou 20 minutos, o que obrigou a senhora a tomar outros recursos", explicou Gilberto Satumbo. 

Reações nas redes sociais

As reações em torno da morte do deputado Jaka Jamba não se fizeram esperar. Rapidamente, cidadãos de diferentes segmentos sociais fizeram várias públicações nas redes sociais.

Ainda assim, muitos não acreditavam na notícia, em função do 1º de Abril, tido como "dia das mentiras". Mas ao longo da manhã e princípio da tarde, a informação foi confirmada por órgãos de informação.

"A nossa última conversa, que já estava apalavrada, ficou adiada sine die", escreveu o renomado jornalista angolano Reginaldo Silva, em seu perfil no Facebook. 

O jornalista e jurista Alberto Nunes escreveu: "Angola perde um dos seus filhos mais nobres. Angola agradece a grandeza do coração deste filho. Deixa-nos lições de humildade, respeito, compromisso, sabedoria e interface".

'Diplomata e homem de cultura'

Nascido a 21 de março de 1949, Jaka Jamba formou-se em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, em Portugal, e foi professor na Escola Técnica do Seixal e no Liceu Nacional de Oeiras. Militante ativo da UNITA em Lisboa, em 1972 deixou a capital portuguesa e partiu para a Suíça.

Em 1975, integrou, pela UNITA, a equipa que negociou, no Algarve, os Acordos de Alvor com o Governo português, de partilha do poder em Angola após a independência. Nesse mesmo ano, foi nomeado pela UNITA como Secretário de Estado da Informação do Governo de Transição de Angola.

Jaka Jamba partilhou o cargo com Rui Monteiro, então Ministro da Informação indicado pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), e Hendrick Vaal Neto, indicato pela Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA). Os três movimentos foram os que lutaram pela descolonização de Angola.

Em declarações à DW África, em dezembro de 2013, quando questionado sobre se a guerra tinha valido a pena, Jaka respondeu: "Eu – fiel aos meus princípios e às minhas convicções – uma vez que nós tínhamos assinado os Acordos de Alvor, levamos 16 anos neste combate bastante difícil, mas era preciso defender os princípios e os valores. E hoje, se temos democracia é graças em parte também à resistência que a UNITA fez, pelo que nós tivemos que nos envolver na luta, esta luta que não acabou e que estamos a ter ainda até hoje".

Entre 1997 e 2005, Jaka Jamba desempenhou a vice-presidência da Assembleia Nacional de Angola. De 2005 a 2008, foi Embaixador Delegado Permanente da República de Angola junto à UNESCO.

Antes de sua morte, atuava como professor da Universidade Agostinho Neto e como deputado na Assembleia Nacional, pertencente à 6ª Comissão do Parlamento angolano, que responde pelos assuntos da Saúde, Educação, Ensino Superior, Ciência e Tecnologia.

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