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Há lugar para o empresariado nacional nos hidrocarbonetos?

Nádia Issufo
4 de setembro de 2018

Há oportunidades para o empresariado nacional na exploração dos hidrocarbonetos, garante Nuno Uinge que já opera no setor. Mas o empresário adverte que as firmas têm de estar bem preparadas e investir na formação.

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Nuno Uinge, empresário moçambicano Foto: DW/N. Issufo

Quando se fala da exploração dos recursos naturais em Moçambique é só das grandes multinacionais que se ouve dizer. E as empresas nacionais onde ficam nesta janela de oportunidades? Quase nada se sabe sobre o seu envolvimento, mas há alguns empresários, mesmo que em parceria com estrangeiros, estão já a tirar vantagens neste setor. Tal é o caso de Nuno Uinge, empresário moçambicano, através da empresa Energy Works. A DW África conversou sobre o assunto com ele:

DW África:  Há oportunidades para as pequenas e médias empresas se alavancarem e também contribuirem para o desenvolvimento do país neste setor?

Nuno Uinge (NU): Existem muitas oportunidades para as pequenas e médias empresas nacionais poderem participar. Mas pelo que vejo não depende só da vontade ou do querer, as empresas têm de se preparar bastante, porque estes são setores que exigem tecnologia e então as empresas que quiserem operar nesse sentido têm que estar à altura. E também há uma série de standards exigidos internacionalmente em relação à segurança e higiene no trabalho, ambiente e certificação de qualidade e quem não se preparar para isso não consegue lá chegar. E em Moçambique, o Governo abriu algumas portas através da legislação que foi aprovada nos últimos tempos que dão passos com vista ao aproveitamento dessas oportunidades. Está em curso a aprovação da lei do aproveitamento do conteúdo local.

Há lugar para o empresariado nacional nos hidrocarbonetos?

DW África: Falou em conhecimento, como em Moçambique a exploração destes recursos ainda é algo novo isso significa que numa primeira fase parcerias com empresas internacionais seriam a solução?

NU: Ninguém no mundo pode dizer que está suficientemente preparado, porque a gente vê que a cada dia que passa há novas descobertas cientificas, há novas aplicações, novas exigências, então todos nós temos de aprender. Vejo em grandes empresas concursos complexos, as empresas se juntam, cada empresa sabe que sozinha não pode fazer nada. Então, nós moçambicanos não podemos nos sentir inferiores em relação a isso. Não temos referências do passado, mas havendo vontade podemos muito bem, por via de parcerias com outras empresas.

DW África: Quais são os desafios para as empresas locais que terciarizam serviços para as grandes multinacionais, no caso concreto das mineradoras e petrolíferas?

NU: O primeiro desafio é o próprio país, Moçambique tem de investir no fator humano. Tem de haver um grande investimento consistente em relação as pessoas formadas em Moçambique, essa é a base para qualquer sucesso. Em relação às empresas têm de incluir nos seus programas a formação do seu pessoal.

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Plataforma petrolífera da ENI na Bacia do Rovuma, norte de MoçambiqueFoto: ENI East

DW África: O setor dos recursos minerais está ainda muito dominado pelo Governo. Já há uma ponte sólida estabelecida entre o Governo e o setor privado?

NU: O Governo, através da legislação que criou, abriu as portas. E nós como moçambicanos, dependendo do conhecimento e experiência que temos, temos a liberdade de requerer as licenças e pelo que sei, sinto e vejo o Governo não tem dificultado muito isso. Muitas vezes o que acontece é que as pessoas têm as licenças e ficam sentadas em cima delas, ou porque não têm recursos  financeiros ou conhecimento para poderem prosseguir com o processo. E depois, passado algum tempo, o Governo volta levar [as licenças]. Mas posso dizer com garantias que não sinto que o Governo esteja a impedir o que quer que seja aos nacionais. Agora, o problema está no desconhecimento, falta de recursos e por aí fora.