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Novo ataque armado após semana de trégua em Moçambique

Arcénio Sebastião
3 de novembro de 2020

Um ataque realizado esta terça-feira (03.11) no centro de Moçambique provocou dois feridos. Líder da autoproclamada Junta Militar da RENAMO nega responsabilidades no incidente e diz que não houve nenhuma trégua no país.

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Mosambik Grab in Gorongosa
Foto: DW/A. Sebastião

Pelo menos duas pessoas sofreram ferimentos ligeiros ao final da madrugada desta terça-feira (03.11) após um novo ataque a um autocarro no centro de Moçambique, na zona limítrofe entre os distritos de Gorongosa e Nhamatanda, segundo várias testemunhas locais. A zona acumula um histórico de emboscadas a viaturas civis desde agosto de 2019, altura do reinício das incursões armadas atribuídas, pelas autoridades, à autoproclamada Junta Militar da RENAMO, um grupo de dissidentes do maior partido da oposição em Moçambique. 

O líder dissidente, Mariano Nhongo, negou a autoria do ataque, insistindo desconhecer o novo incidente. "A Junta Militar não está a realizar ataques. Não sabemos deste ataque e nem sei onde foi", precisou Mariano Nhongo em declarações à Lusa por telefone. 

 RENAMO Guerillakämpfer in Gorongosa, Mosambik
Mariano Nhongo, líder da autoproclamada Junta Militar da RENAMOFoto: DW/A. Sebastiao

O novo ataque ocorre após uma trégua unilateral de sete dias declarada pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, com vista à promoção do diálogo com o grupo dissidente. Em declarações à DW África, o líder da autoproclamada Junta Militar da RENAMO afirmou que não se registou nenhuma trégua militar nos últimos sete dias, já que se registaram raptos em Sofala e vários ataques na região.

"Não houve trégua... Trégua com quem? Vinte a trinta membros da RENAMO foram degolados, que trégua é essa? Mas a Junta Militar não vai ser enganada. Não há trégua e dentro deste ano pode não haver trégua, nem no próximo ano", asseverou Nhongo.

Trégua falhada

A trégua de sete dias foi anunciada na semana passada pelo chefe de Estado, Filipe Nyusi, com o objetivo de travar a perseguição dos integrantes do grupo dissidente e iniciar conversações com a Junta Militar da RENAMO. Apesar de temer pela sua integridade física, Mariano Nhongo manifestou prontidão para o diálogo caso seja abordado pelo Governo ou pelo Presidente da República. 

Nhongo contou à DW África que foi contactado por telefone por Mirko Manzoni, enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para a paz em Moçambique, com quem conversou sobre os ataques em pleno período de trégua. "Na sexta-feira (30.10) à noite, quando Nyusi acabou de anunciar a trégua, homens das Forças de Intervenção Rápida (FIR) foram às casas dos membros da RENAMO, levaram-nos e mataram-nos. Essa é a trégua?", questionou por telefone ao responsável da ONU. "Agora estão a matar os meus membros e quando me virem a mim, o que vão fazer?", disse ainda, segundo relatou à DW África.

Secretário-geral da RENAMO diz que DDR está no bom caminho

Por outro lado, o líder do grupo dissidente diz que se não for respeitado o documento que foi enviado ao Governo pela Junta Militar, em setembro de 2019, não haverá sucesso nas conversações. A carta dizia que houve violação dos princípios negociados com Afonso Dhlakama, anterior líder da RENAMO. Mirko Manzoni confirmou à DW África a recepção da carta da Junta Militar, mas não avançou pormenores. Disse apenas que foi reencaminhada para o Governo moçambicano.

Apesar das dificuldades, o enviado especial das Nações Unidas congratula os esforços do Presidente da República na busca de um cenário de paz no país. "Tenho uma opinião positiva, porque não podemos esperar que tudo vai ser resolvido numa semana. Acho que precisamos de uma extensão desta trégua. Precisamos também de criar as condições corretas para o diálogo construtivo", sugere. "O início do diálogo é sempre muito difícil, foi o mesmo no passado com [Afonso] Dhlakama", recorda.

FRELIMO apela à intervenção da RENAMO

A FRELIMO, partido no poder em Moçambique, lamenta as dificuldades apresentadas pela liderança da Junta Militar da RENAMO. "Continuamos a apelar a RENAMO para fazer uma introspeção e trabalhar dentro de si para encontrar soluções para que esta paz seja de facto duradoura", afirma Caifadine Manasse, porta-voz do partido no Governo.

"A RENAMO tem responsabilidade sobre isso, há acordos que foram assinados com o Presidente da República, neste caso entre o Governo e a RENAMO, para que haja paz. O processo de desarmamento está acontecer. É preciso que Mariano Nhongo dialogue. E continuaremos a encorajar o Presidente Filipe Jacinto Nyusi para continuar neste caminho de busca de paz", acrescentou.

O grupo liderado por Mariano Nhongo é o principal suspeito dos ataques que já provocaram cerca de 30 mortes no centro do país desde agosto de 2019. Os dissidentes opõem-se à atual liderança da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e reclamam melhores condições de reintegração que as definidas no Acordo de Paz e Reconciliação Nacional assinado em 2019.

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