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Moçambique: Ganhos da independência estão a regredir?

25 de junho de 2021

Moçambique celebra hoje 46 anos de libertação do colonialismo. Oposição e sociedade civil entendem que os ganhos da independência estão a regredir por causa da corrupção e dos conflitos no centro e norte do país.

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Ntele Montepuez Neuansiedlung
Foto: DW

Quarenta e seis anos depois da proclamação da independência em Moçambique, os ganhos são muitos, afirma a cidadã Adélia Carlos. Houve melhorias na educação e a criminalidade diminuiu, diz Adélia, que confia nos militares moçambicanos para pôr fim aos ataques terroristas no norte do país, considerados pelo Presidente Filipe Nyusi como uma ameaça à independência nacional.

"Em alguns países acontecem atos iguais [de terrorismo]. No passado, não conseguíamos frequentar o estudo à distância, mas hoje conseguimos. Quero agradecer a nossa segurança. Eles trabalham, só que o país é imenso, os ideais são diferentes", conclui.

Por causa dos ataques no norte do país, que acontecem desde 2017, já tiveram de fugir das suas casas 732 mil pessoas. Mais de 2.800 pessoas morreram no conflito. No centro, ataques atribuídos à autoproclamada "Junta Militar" da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) fizeram, pelo menos, 30 mortos desde 2019. O grupo contesta a liderança do partido da oposição.

Para quando a paz duradoura?

Quarenta e seis anos depois da independência, muitos moçambicanos perguntam como é que os conflitos ainda persistem no país? O analista Lourindo Verde diz que, de 1975 até hoje, apesar das muitas reformas políticas, económicas e sociais, o país continua a ter um grande desafio: conquistar a paz duradoura.

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"O país vive uma grande instabilidade. Estamos a ver um período todo ele marcado por instabilidade política e económica. Por causa disso há razões para se afirmar que a independência ainda não está efetivada", afirma.

A violência não é a única coisa que preocupa os moçambicanos. Os altos níveis de pobreza, agravada com a pandemia da Covid-19, são outro grande problema do país, afirma Zito Isaías, um cidadão residente em Quelimane. "Estou há sete anos a vender latas e a apanhar plásticos. Não temos como viver, apanhamos latas e garrafas para vender e para, pelo menos, eu sozinho comer", conta.

Independência tornou-se um "pesadelo"

De acordo com a RENAMO, a independência tornou-se um "pesadelo". O líder do maior partido da oposição, Ossufo Momade, diz que o Estado continua partidarizado e a corrupção alastra-se. "Um dos pesadelos destes 46 anos é a dívida ilegal" de mais de 2,2 mil milhões de dólares contraída à revelia da Assembleia da República. "Este rombo financeiro constitui hoje o maior fardo do nosso povo por culpa de um grupo de ladrões e lesa-pátria", acusou Momade.

Rogério Warro Warro, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), lamenta que a paz continue a ser uma miragem. "Estamos independentes em relação ao quê e a quem? Independência é o povo sentir a sua soberania, é o povo sentir-se livre de vários obstáculos ao seu bem-estar social. Isto não é independência, não nos beneficiamos da nossa riqueza, não nos beneficiamos daquilo que é nosso!"

Ao mesmo tempo, o político diz que há cada vez mais uma tentativa de abafar as vozes críticas. "Não nos podemos expressar à vontade. Se eu aqui disser mais alguma coisa, atacar aquilo que eles fazem, vão começar a perseguir-me até me tirarem a vida. Houve uma tentativa de progressão, mas estamos a regredir e até temos intelectuais que vendem a sua consciência", lamenta.

Para o analista Lourindo Verde, "é preciso recuperar o discurso de Eduardo Mondlane, que era educar. Nós precisamos de uma educação séria virada para a construção da consciência dos moçambicanos, é preciso que as políticas públicas que têm sido aprovadas pelo Governo sejam efetivadas de modo a que o povo possa sentir essa independência almejada."

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