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Moçambique: Deficientes são discriminados nos "chapas"

Bernardo Jequete (Manica)
18 de setembro de 2018

Em Manica, os transportadores semi-coletivos de passageiros não transportam deficientes físicos. Os afetados exigem o fim da discriminação. A Polícia e Associação de Transportadores de passageiros prometem medidas.

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Tito Chapo, residente na província central de Manica, MoçambiqueFoto: DW/B. Chicotimba

Os deficientes da província central de Manica enfrentam dificuldades para viajarem de transportes semi-coletivos de passageiros. Nas paragens os deficientes são ignorados pelos transportadores, ou seja, lhes é vedada a possibilidade de serem transportados.

Desesperados, os deficientes lançam um grito de socorro para que essa situação seja resolvida. Júlio Luís Simione é deficiente físico e lamenta a situação que, segundo ele, tem estado a alastrar-se na região: "É muito difícil entrarmos no chapa, porque temos triciclos."

E não é tudo, Simione conta ainda que "podem aceitar [que entres no chapa], mas a primeira coisa que vão dizer-te "não temos bagageira para colocar a bicicleta" ou até podem ter bagageira e cobrarem-te pelo seu uso e se não tens o valor cobrado acabas por ficar na rua."

Discriminação não é só nos transportes

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Transporte semi-coletivo de passageiros, vulgo "chapa 100"Foto: Ismael Miquidade

Tito Chapo, outro deficiente físico, disse que a discriminação dos deficientes não se verifica apenas nos chapas, mas em quase todas as áreas e dá exemplos: "Eu não digo que seja só nos chapas, mas no geral. Ainda há discriminação no acesso ao emprego, a pessoa portadora de deficiência é desprezada, é discriminada. Quando o deficiente vai a uma loja ou uma fábrica pedir emprego primeiro olham de cima a baixo para medir as capacidades se, de facto, a pessoa consegue. Então, estamos a pedir para que este pensamento saia das cabeças desta gente que pensam desta maneira."

E Chapo apresenta o mesmo desabafo de Simione: "Também falando da discriminação nos chapas, sempre que viajamos os custos tem que ser sempre maiores [em relação aos outros passageiros], por causa do triciclo. Se calhar eu pago menos e o triciclo paga mais, como é que o triciclo vai pagar mais se são os meus pés?”

Associação dos Transportadores promete medidas

Já o presidente da Associação dos Transportadores de Passageiros de Manica (ATPM), Alfredo Canhenze, lamentou o facto tendo condenado com veemência a atitude protagonizada pelos automobilistas: "Nós apelamos para que os transportadores abandonem essa prática. Em condições normais os deficientes são isentos de cobrança, sobretudo nos transportes públicos. Por serem privados vão cobrando, mas não há necessidade de cobrar valores exorbitantes sobre as carrinhas e muito mais."

E Canhenze promete: "Nós vamos trabalhar juntamente com os órgãos de comunicação social e vamos recebendo mais queixas, vamos tomar medidas porque o regulamento dos transportes e automóveis já prevê [isso]."

Polícia promete ações

Moçambique: Deficientes são discriminados nos "chapas"

O porta-voz da Polícia da República de Moçambique ( PRM ) em Manica, Mateus Mindú, pediu aos automobilistas que respeitem as pessoas com deficiência, porque, no seu entender,  trata-se de uma violação dos direitos humanos.

Disse ainda que a Polícia, através dos agentes reguladores de trânsito, vai desencadear uma operação que visa sensibilizar os automobilistas a deixarem de discriminar os deficientes.

"Eles também são dignos de ir e voltar dos seus locais, independente das circunstâncias físicas em que se encontram. Os que discriminarem correm o risco de serem sancionados", adverte o porta-voz da PRM.

E promete: "A Polícia poderá fazer uma sensibilização, através da Polícia de Trânsito, em termos de palestras nas rodovias, bem como sensibilização para chamar a atenção aos automobilistas, com maior ênfase aos condutores de transportes semi-coletivos, para que respeitem as pessoas com deficiência."