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Missão militar angolana começa a deixar a Guiné-Bissau

6 de junho de 2012

Missang começou a retirada após acusações dos autores de golpe de Estado de que militares angolanos eram "braço armado" do governo derrubado em abril. Dois voos transportando soldados e material militar deixaram Bissau.

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Soldados na Guiné-Bissau
Soldados na Guiné-BissauFoto: picture-alliance/dpa

Um ano depois de ter começado, a missão militar angolana na Guiné-Bissau (Missang) começou a retirada nesta quarta-feira (05.06). Com o fim da Missang, é automática também a suspensão da cooperação militar entre Angola e a Guiné-Bissau.

Um primeiro grupo de soldados deixou a Guiné-Bissau a bordo de um avião Ilyushin na manhã desta quarta-feira. A aeronave levava também material militar. À tarde, um outro avião de carga transportou duas viaturas e mais 15 sargentos. Segundo a agência noticiosa Lusa, Angola também enviou um navio, que está ancorado no porto de Bissau e também já está carregado de material militar. A partida do navio estaria prevista para quinta-feira (06.06) e deve chegar a Angola em dez dias.

Angola decidiu acabar com a Missang na sequência de atritos com as hierarquias militares da Guiné-Bissau. As Forças Armadas da Guiné-Bissau acusaram as forças angolanas de se reforçarem com material bélico que deveria ser entregue aos militares bissau-guineenses – o que nunca terá acontecido.

Militares da Guiné-Bissau, autores do golpe de Estado que a 12.04 derrubou o governo do então primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior e do então presidente interino Raimundo Pereira, acusaram os militares angolanos presentes em missão de cooperação do país de serem o "braço armado" da liderança política destituída.

Desafio

O próprio chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, general António Indjai, desafiou os bissau-guineenses e a comunidade internacional a assistirem a retirada da Missang, para que possam constatar esses materiais bélicos que os angolanos tinham no país.

O processo de retirada da Missang está a ser supervisionado pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), disse o porta-voz do governo de transição, Fernando Vaz: "A retirada da Missang decorre dentro da normalidade prevista e programada. Está-se a embarcar os equipamentos no navio que se encontra atracado aqui em Bissau. E a partir de amanhã (07.06) far-se-á uma ponte aérea de parte do equipamento e do pessoal militar".

Autodenominado Comando Militar, autor do golpe de Estado, acusa militares angolanos de serem "braço armado" do governo derrubado
Autodenominado Comando Militar, autor do golpe de Estado, acusa militares angolanos de serem "braço armado" do governo derrubadoFoto: picture-alliance/dpa

Cooperação paralisada

Novo governo da Guiné-Bissau: Sori Djaló (presidente em exercício da Assembleia), Serifo Nhamadjo (presidente) e Rui de Barros (primeiro-ministro)
Novo governo da Guiné-Bissau: Sori Djaló (presidente em exercício da Assembleia), Serifo Nhamadjo (presidente) e Rui de Barros (primeiro-ministro)Foto: DW

O governo de Angola tinha disponibilizado 13,2 milhões de euros para a recuperação de infraestruturas das Forças Armadas da Guiné-Bissau, especialmente para recuperação de casernas que se encontram num avançado estado de degradação.

A Missang estava também a recuperar e construir estruturas para as forças de segurança, um projeto de 5,7 milhões de euros e que incluía a construção de um Centro de Instrução da Polícia de Ordem Pública (POP) e de armazéns de logística, e a reabilitação do Ministério do Interior e do Comissariado Geral da POP. Neste momento a maioria das obras está parada.

Seriam também construídas instalações da Polícia de Trânsito e reabilitados os edifícios para a instalação da Polícia de Intervenção Rápida. Para já, todos esses projetos foram suspensos. Mas o governo de transição, segundo o porta-voz, Fernando Vaz, espera que essa cooperação com Angola venha a ser retomada em breve, já que a saída da Missang "foi uma decisão unilateral por parte de Angola de suspender a cooperação".

Retirada divide cidadãos

Serão feitos oito voos com quatro aviões (dois voos por avião). O processo da retirada que vai demorar cinco dias, divide a opinião dos guineenses: "Estou de acordo com a retirada da Missang, porque acho que já acabou, terminou o prazo estipulado do acordo que fizeram com o nosso governo", disse um cidadão à DW África, em Bissau.

Outra cidadã afirmou que, com a retirada da Missang, "só temos a perder. A Guiné-Bissau teria muito a ganhar". "Devido ao trabalho que eles iniciaram, acho que, mesmo com a deposição do governo, é normal que tentassem arranjar uma outra saída no sentido de [os militares angolanos] continuarem [aqui]", opinou um homem.

"Acho que, se essa missão é a causa do problema, é melhor que ela regresse", sugeriu outro cidadão.

O autodenominado Comando Militar (autor do golpe) disse que foi forçado a agir para defender as Forças Armadas guineenses de uma agressão, que seria conduzida pelas Forças Armadas de Angola, no âmbito da União Africana.

Autor: Braima Darame (Bissau) / Lusa / RK
Edição: António Rocha

CEDEAO, aqui em reunião de crise, supervisiona retirada da Missang da Guiné-Bissau
CEDEAO, aqui em reunião de crise, supervisiona retirada da Missang da Guiné-BissauFoto: Reuters
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