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Ministros de Angola podem aprender com homólogos quenianos

Neusa e Silva
2 de dezembro de 2022

O gesto de solidariedade dos ministros do Governo do Quénia, que doaram um salário mensal ao combate contra a seca, é digno de ser copiado por Angola? Especialista diz que sim, mas a solução tem que ser mais abrangente.

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Seca no sul de Angola
Foto: Nelson Camuto/DW

Nas últimas quatro décadas, aumentou a frequência das secas em África, segundo a organização não-governamental Water Aid. Uma investigação da ONG afirma que a África subsariana é das zonas mais críticas, onde as secas são de cada vez maior duração.

Como os governos reagem para prevenir o impacto do agravamento da seca na vida das comunidades rurais pode ser decisivo para salvar milhares de vidas nos países mais afetados.

No Quénia, ministros do Executivo acordaram, esta semana, renunciar a um salário mensalcomo "contribuição individual e coletiva", para ajudar as autoridades a dar resposta à grave seca que afeta o país do Oeste da África.

Em entrevista à DW África, a diretora da Ação para o Desenvolvimento Rural e Ambiental (ADRA) em Benguela, Cecília Kitombe, diz que o gesto dos ministros quenianos tem mérito e pode servir de exemplo para os governantes em Angola, onde não há "uma tradição de ministros e governantes capazes de pensar a nível individual".

DW África: A iniciativa dos ministros quenianos mostra haver um maior comprometimento dos governantes daquele país com as vítimas da seca do que em Angola?

Cecília Kitombe (CK): É verdade que não temos verificado atitudes como esta. Mas permita-me dizer que o problema da seca hoje deve ser considerado como um problema sério, transversal, cuja resposta deve ser dada de maneira integrada. O que está a ocorrer no Quénia é, sem sombra de dúvida, uma atitude positiva, não diria do Governo, mas dos ministros, porque até certo ponto, é uma decisão unilateral. Cada um teve concordar em dar o seu salário. No entanto, é bom assinalar que esta medida, apesar de ser positiva, não é sustentável.

Namibe afetada pela seca
No sul de Angola levanta-se o espectro da fome por causa da falta de chuvaFoto: Adílson Liapupula/DW

DW África: Que diferenças há entre as respostas dos governos do Quénia e de Angola ao agravamento da seca?

CK: Penso que, mais do tecer em comparações, interessa olhar para aquilo que é a nossa realidade. O Governo de Angola tem mostrado algum interesse, tanto nos discursos institucionais, quanto em algumas práticas. Temos um programa de combate à seca no país. No entanto, o que temos reparado é que, no caso de Angola, precisamos fazer uma reflexão mais séria sobre a questão da seca, que envolva também as comunidades afetadas.

DW África: Um engajamento pessoal, não institucional, não significa então maior ou menor preocupação por parte dos dirigentes?

CK: Mas mesmo ao nível da solidariedade e do interesse de cada um dos dirigentes, essas iniciativas individuais são positivas. Cada um fazer alguma coisa, doar o seu salário ou parte dos seus recursos para combater a seca, é uma atitude de solidariedade, no quadro da responsabilidade individual que cada um de nós tem. Mas, ponto um, estas ações, a ocorrerem, devem ser feitas num quadro de políticas públicas, para haver maior sustentabilidade. E ponto dois: eu acredito que Angola tem condições para tomarmos atitudes dessa natureza. Só precisamos mesmo, como disse, melhor coordenação, para que os dirigentes todos tenham consciência de que é importante contribuir. Porque, afinal, cada ministro é, de alguma forma, uma entidade pública.

Penso que Angola pode e deve fazer esse caminho, até porque nós não temos uma tradição de políticos e de dirigentes capazes de pensar a nível individual. Então, experiências como as do Quénia são importantes, no sentido de ver que, afinal, é possível que cada ministro se engaje.

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