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Cultura

Das ruas da Serra Leoa para o cinema

Gwendolin Hilse | António Cascais
5 de outubro de 2016

"The Rising of the Son" é o título da curta-metragem do cantor e cineasta germano-serra-leonês Patrice Bart-Williams que estreou em setembro, no festival de cinema africano, na cidade alemã de Colónia.

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Foto: M. Bart-Williams

Patrice Bart-Williams, filho de mãe alemã e de pai serra-leonês, já era conhecido como músico. Agora, como cineasta, sente-se realizado, reconhecido e recompensado: o seu filme "The Rising of the Son"  - "A ascenção do filho" - foi recebido pelo público alemão com muita curiosidade.

No ecrã, um jovem corre pela sua vida nas ruas de Freetown, capital da Serra Leoa. Enquanto corre, olha para trás. "Corre Tunde, corre" relata um locutor de rádio. Um bando de malfeitores, jovens de aspeto de quem não conhece perdão, persegue Tunde, impiedosamente. Tunde atinge um monte - um cemitério - acende uma vela na sua própria campa e exclama: "A mesma terra que me pariu quer agora engolir-me." Tunde acaba por ser abatido pelo "gang" que o persegue. Mas a história não fica por aqui.

"Este filme, basicamente, é sobre a renascença através do medo”, resume o realizador. "O medo das crianças é diferente do medo dos adultos, os medos das crianças são mais racionais. É essa a minha perspetiva”.

Deutschland Patrice Bart-Williams beim Afrika Filmfestival in Köln
Cantor e cineasta Patrice na estreia da sua curta-metragem, em ColóniaFoto: DW/G. Hilse

Protagonistas já não vivem na rua

Em entrevista à DW África, Patrice Bart-Williams revela que nasceu precisamente no dia em que morreu o seu avô. A sua família atribuia-lhe, então, um apelido adicional: "Babatunde". Babatunde, na língua yoruba, significa "regresso do pai". Foi precisamente esse o nome que o realizador escolheu para o protagonista do seu filme.

As restantes personagens da curta-metragem de 12 minutos são meninos de rua que deambulam pelas ruas de Freetown e sobrevivem da pequena criminalidade.

"Os rapazes fizeram um trabalho incrível. São os atores perfeitos. Tudo neles é de uma autenticidade incrível. As suas caras. Os seus corpos. Eles estão com os dois pés bem posicionados neste mundo”, considera Patrice.

Entretanto, os 21 rapazes mudaram de vida. Já não vivem na rua e já não são marginais. Pelo contrário: abriram uma pequena loja; alguns deles até estudam. Uma nova vida para os jovens que renasceram das cinzas depois de terem sido marginalizados. É este precisamente o tema da "curta" "The Rising of the Son" - "A ascenção do filho", recorda o realizador.

Homenagem ao pai

05.10. Curta estreia em Colónia 'The Rising of the Son' - MP3-Mono

"A renascença e continuação da vida são temas que marcaram a minha vida. O meu filme é reflexo da minha própria história e da história do meu pai.”

O pai de Patrice Bart-Williams também era realizador e escritor. Chamava-se Gaston e, nos anos 70, era oposicionista ao regime da Serra Leoa. Por isso, fugiu para a Alemanha. Em 1990, acabou por morrer na sequência de um acidente de barco durante as filmagens para um filme na Serra Leoa.

Patrice lembra que o pai continua vivo através do seu trabalho. O filme é precisamente uma homenagem ao pai. E não só o filme, mas também a sua música. Patrice Bart-Williams acaba de lançar o seu oitavo álbum com o título "Life's Blood" -"O Sangue da vida."