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Mediação entre RENAMO e Governo é urgente, diz analista

António Rocha19 de novembro de 2013

Em entrevista à DW África, o analista político moçambicano Silvério Ronguane defende a presença urgente de mediadores internacionais fortes no diálogo entre o Governo e a RENAMO.

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Foto: DW/L.Matias

O Governo admitiu na segunda-feira (18.11) a hipótese de aceitar a participação de observadores nacionais nas negociações com a RENAMO, o principal partido da oposição, mas recusou a ideia de mediadores estrangeiros por considerá-la uma ingerência nos assuntos internos do país. Mas a RENAMO continua a insistir na presença de mediadores nacionais e internacionais como condição para retomar as negociações que vem realizando com o executivo moçambicano, visando resolver a crise político-militar no país.

Em entrevista à DW África, o analista político moçambicano Silvério Ronguane também defende a presença urgente de mediadores internacionais fortes, capazes de imporem uma solução que deverá ser cumprida pelas duas partes.

Segundo o analista, não se trata de uma ingerência, mas sim de uma resposta à incapacidade de os dois lados chegarem a uma solução do problema, apesar de várias reuniões realizadas até hoje.

Mediação entre RENAMO e Governo moçambicano é urgente, diz analista

DW África: Deve ou não haver uma mediação nas negociações entre o Governo e a RENAMO?

Silvério Runguane (SR): Eu acho que isso é mais do que evidente, porque a RENAMO e o Governo já se mostraram incapazes de se entenderem. Aliás, isto não é de hoje. Durante 16 anos confrontaram-se e não foram capazes de chegar a um entendimento. Não é hoje que se vão entender, por isso parece-me urgente e essencial que haja uma intervenção, porque há muitos investidores que enterraram o seu dinheiro aqui em Moçambique, há muitos jovens, homens e mulheres que têm esperança na paz em Moçambique. Os desentendimentos entre a RENAMO e a FRELIMO já estão a criar vítimas mas também danos patrimoniais irreparáveis. Parece-me mais do que óbvio que há uma necessidade urgente de uma mediação no diálogo.

DW África: Mas seriam mediadores ou observadores das negociações?

SR: Nós precisamos mesmo de mediadores e que sejam mediadores com a capacidade de impôr as suas decisões. O que precisamos é exatamente o que aconteceu em 1994, em que tínhamos uma organização da sociedade civil italiana e a ONU, que têm capacidade não só de mediar o conflito mas também de dar garantias de que o que está ali a ser assinado vai ser cumprido.

DW África: Quando diz mediadores fortes serão internacionais ou nacionais?

SR: Todos nós, como nacionais, ou somos governados pela RENAMO ou pela FRELIMO. Nas zonas onde a RENAMO atua, essas pessoas dependem da RENAMO. Nas zonas onde o Governo atua, nós dependemos do Governo. Portanto, não é possível mediar um conflito quando não há uma capacidade de se impôr, quando se depende económica e socialmente das pessoas envolvidas no conflito que se está a tentar mediar. Portanto, parece-me que têm de ser agentes externos, que não dependem nem obedecem a nenhum Governo. Pessoas externas, isentas, imparciais e, sobretudo, com a capacidade de impôr o acordo daí resultante.

DW África: Até que ponto a presença de mediadores estrangeiros poderá ser interpretada como uma "ingerência" nos assuntos internos de Moçambique?

SR: Já mostrámos que somos incapazes de resolver os nossos problemas. Agora, se é uma ingerência para repôr a legalidade e a ordem é preferível essa ingerência do que uma propalada autonomia que resulta em mortes e destruição do património, no aumento da violência, da tensão política e da guerra. Portanto, acho que nós, em Moçambique, temos que ser suficientemente humildes, reconhecer que já não temos capacidade de resolver o problema e fazê-lo enquanto é cedo, porque quanto mais tarde, mais dramática será a nossa situação. É importante também que aqueles que colocaram o seu dinheiro aqui percebam que têm de forçar as partes a aceitar esta mediação. Se não o fizerem, quando acordarem terão perdido tudo aquilo que investiram e os moçambicanos já terão perdido o futuro e a esperança.

DW África: Acredita que há disponibilidade de ambas as partes para a presença de uma mediação internacional?

SR: A parte forte da FRELIMO, no caso, é que o Governo não está interessado. É evidente, porque ainda mantém a ilusão de que vai resolver a questão. Agora, a parte fraca, que é a parte da RENAMO, eu acredito que está muito interessada. Toda a pressão tem de ser exercida na parte forte, porque, em qualquer conflito, aquele que julga que está em vantagem não quer aceitar nenhuma mediação ou intervenção. Esta questão tem de ser imposta.

DW África: E onde é que fica a questão da soberania moçambicana?

SR: A soberania só se aplica quando há uma capacidade de o Governo pacificar o país. A partir do momento em que não é capaz de impôr a ordem, em que existem homens armados que matam e fecham as estradas para que não possam ser transitáveis, em que qualquer moçambicano na sua aldeia está ameaçado, acho que já não há condições objetivas para falarmos de soberania ou de autonomia.

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Armando Guebuza, Presidente de MoçambiqueFoto: DW/Romeu da Silva
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