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Mariano Nhongo reivindica ataque no centro de Moçambique

Arcénio Sebastião (Beira)
7 de abril de 2020

Depois do ataque a um estaleiro na província de Manica, "Junta Militar" ameaça sabotar mais investimentos nacionais e estrangeiros caso o Governo não resolva os problemas dos guerrilheiros dissidentes da RENAMO.

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Mosambik RENAMO-Militärjunta in Gorongosa | Mariano Nhongo
Foto: DW/A. Sebastião

O líder da autoproclamada "Junta Militar" da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Mariano Nhongo, reivindicou o ataque de segunda-feira (06.04) a um estaleiro de madeira na província de Manica. Um cidadão tailandês foi morto no ataque e sete veículos foram incendiados, segundo a polícia.

Mariano Nhongo promete continuar com os ataques se o Executivo não avançar já com o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), estagnado há meses. Os alvos, segundo o líder do grupo dissidente, seriam investimentos nacionais e estrangeiros: "O Governo deve resolver o problema da Resistência Nacional Moçambicana. Sem isso, em Moçambique, há-de haver problemas, irmão, nós aqui não temos cadeiras, nada, toda a madeira está a ir para a China a fazer o quê? Este país não é de chineses".

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Em declarações à imprensa, ao telefone, Mariano Nhongo disse que Moçambique não pode continuar pobre enquanto há muitos recursos naturais a serem explorados por estrangeiros, sem beneficiar as comunidades locais.

"Todos os empresários internacionais, alguns estão no mato a explorar pedras, madeira e a mandar para os países deles, [para a] China. Nós repudiamos isso. Não gostamos dessas brincadeiras", afirmou o líder da "Junta Militar".

Esta terça-feira, a polícia confirmou o ataque em Matarara, atribuindo-o a "homens armados da RENAMO". O caso está a ser investigado, de acordo com o porta-voz do comando provincial de Manica, Mário Arnança: "A polícia ativou todas linhas operativas ao seu dispor e estão a desdobrar-se no terreno".

Troca de acusações

A autoproclamada "Junta Militar" exige a renúncia do presidente da RENAMO, Ossufo Momade, e contesta o acordo de paz assinado em agosto por Momade e pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi. 

O grupo rejeita ainda que guerrilheiros da RENAMO possam apoiar o Exército no combate aos insurgentes na província de Cabo Delgado - um alegado acordo entre a RENAMO e o Governo moçambicano denunciado por Mariano Nhongo e já desmentido pelo maior partido da oposição.

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"Nós não temos nenhum acordo com o Governo para apoiar as operações do exército em Cabo Delgado. Isso não passa de um 'bluff' e uma tentativa de manipulação", disse o porta-voz da RENAMO, José Manteigas, em declarações à agência Lusa, na semana passada, reiterando que Mariano Nhongo já não faz parte da RENAMO.

"Querem levar-nos para as bases para Cabo Delgado, isso não vai acontecer. O Governo deve seguir aquilo que tinha negociado com Dhlakama, é naquilo que nós estamos", voltou a frisar Nhongo, esta terça-feira.

Os ataques que ocorrem no centro de Moçambique desde meados de 2019 já levaram à morte de mais de duas dezenas de pessoas. Em fevereiro, o Conselho Cristão de Moçambique manifestou-se disponível para mediar a crise interna na RENAMO, mas Mariano Nhongo rejeitou esta hipótese, acusando o Governo de ignorar as suas exigências. 

A RENAMO, por sua vez, tem vindo a defender que "a questão Nhongo é uma questão do Estado". Em entrevista à DW África, em janeiro, Ossufo Momade recusou-se terminantemente a dialogar com o líder da "Junta Militar", deixando claro que Mariano Nhongo não representa nada no partido.