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Mali: Militares querem ficar três anos no poder

AFP | mp
24 de agosto de 2020

Junta militar aceita libertar presidente deposto Ibrahim Boubacar Keita e anuncia que pretende ficar no poder durante uma transição de três anos. Militares estariam dispostos a "rever as fundações do Estado do Mali".

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Mali Bamako Verhandlungen zwischen ECOWAS und Militärführern
Foto: Reuters/M. Keita

A reintegração do Presidente deposto Ibrahim Boubacar Keita ao cargo já não faz parte da agenda da delegação da CEDEAO que chegou a Bamako este final de semana. A junta militar responsável pelo golpe de Estado no início da semana passada no Mali anunciou este domingo (23.08) à noite uma transição de três anos liderada por um oficial militar e concordou em libertar o Presidente deposto Ibrahim Boubacar Keita, que está detido desde terça-feira (18.08).

"A junta disse que quer fazer uma transição de três anos para rever as fundações do Estado do Mali. O processo será liderado por um órgão presidido por um oficial militar que será o chefe de Estado", disse uma fonte da delegação da Comunidade dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) à agência AFP no final do segundo dia de negociações com o novo grupo no Governo em Bamako.

Um membro da junta confirmou à mesma agência "os três anos de transição com um presidente militar e um governo composto principalmente de militares".

De acordo com a mesma fonte de CEDEAO, a junta concordou em "libertar o Presidente Keita […], que poderá regressar à sua casa" em Bamako. "E se ele quiser viajar para tratamento, não há problema", teria completado a fonte.

Quanto ao primeiro-ministro Boubou Cissé - detido junto com Keita e mantido no campo militar de Kati, nos arredores da capital - a junta "aceita que ele esteja numa residência segura em Bamako", acrescentou a fonte do bloco África Ocidental.

Mali Bamako Verhandlungen zwischen ECOWAS und Militärführern | Goodluck Jonathan
Goodluck Jonathan (esq) lidera missão da CEDEAOFoto: Reuters/M. Kalapo

Negociações continuam

Os chefes de Estado da CEDEAO deverão reunir-se a 26 de agosto para decidir se endurecerão as sanções contra a junta militar.

Segundo o chefe da delegação da CEDEAO, o ex-presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, houve acordo em alguns pontos, mas restam questões pendentes. As conversações deverão ser retomadas esta segunda-feira (24.08). Boubacar Keita foi forçado a anunciar a sua demissão na madrugada de quarta-feira, depois de ter sido detido pelos militares.

No final de semana, vários enviados da CEDEAO visitaram o presidente deposto. Anteriormente, os enviados da CEDEAO tinham sido recebidos durante cerca de 30 minutos por membros do Comité Nacional para a Salvação do Povo (CNSP) criado pela junta, incluindo o novo homem forte do país, o Coronel Assimi Goita.

O presidente da Comissão da CEDEAO, Jean-Claude Kassi Brou, que espera "finalizar tudo até segunda-feira", sublinhou a "vontade dos militares de realmente avançar".

Denunciado pela comunidade internacional, o golpe militar não suscitou qualquer oposição notável em Bamako. Os malianos retomaram as suas atividades no dia a seguir ao golpe e a televisão nacional, ORTM, continuou os seus programas.

Os militares foram celebrados na sexta-feira por milhares de pessoas no centro de Bamako. Por outro lado, quatro soldados foram mortos e um gravemente ferido no sábado por um engenho explosivo no centro do país.

Mali: Militares querem ficar três anos no poder

Entenda a crise

Ibrahim Boubacar Keita sofreu um golpe de Estado no dia 18 de agosto de 2020, quando foi detido por um grupo de militares amotinados.

Keita foi eleito em 2013 e reeleito em 2018 para mais cinco anos. A coligação Movimento do 5 de junho - Reunião das Forças Patrióticas (M5-RFP), composta por grupos da oposição e da sociedade civil, organizou protestos em massa contra o então Presidente desde junho por ele ter "falhado na sua missão" e apelou várias vezes à sua saída do poder.

Após uma pausa nos protestos do M5-RFP e quando o Governo dizia organizar a formação de um governo de unidade nacional, Keita sofreu um golpe de Estado e foi detido por militares rebeldes. 

Os motivos apontados para a crise política são a instabilidade da segurança no centro e norte do país, a estagnação económica e a corrupção. Considera-se, no entanto, que o episódio que inflamou o movimento de contestação foi a invalidação pelo Tribunal Constitucional de cerca de 5,2% dos votos expressos nas eleições legislativas. A decisão anulou os resultados provisórios de 31 dos 147 assentos no Parlamento e acabou por aumentar a representação do partido de Keita em dez lugares.

Em Março de 2012, quando rebeldes tuaregues lançaram uma grande ofensiva no norte do Mali, da mesma base de Kati amotinaram-se contra a incapacidade do Governo de lidar com a situação e depuseram o Presidente Amadou Toumani Touré. O golpe de Estado acabou por precipitar a queda do norte do Mali nas mãos de grupos armados islamistas. Os insurgentes foram em grande parte expulsos por uma intervenção militar internacional lançada pela França em Janeiro de 2013, que ainda está em curso.