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Mali: Legislativas em meio a Covid-19 e clima de insegurança

Bram Posthumus | AFP | cvt
19 de abril de 2020

Este domingo (19.04), os malianos votam na segunda volta das eleições parlamentares. Em meio a temores devido à Covid-19 e à insegurança, espera-se que a afluência às urnas seja ainda inferior à da primeira volta.

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Mali Wahl 2020
Foto: Getty Images/AFP/M. Cattani

No Mali, a lei não exige uma participação mínima dos eleitores para que os resultados eleitorais sejam válidos.

Na primeira volta das eleições legislativas, realizada a 29 de março passado, os observadores locais, na capital Bamako, estimaram a afluência às urnas em 7,5%.

A Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI, na sigla francesa) admitiu que, embora a participação na capital tenha sido muito baixa, a nível nacional, o quadro geral teria sido melhor - com uma participação de cerca de 36% do eleitores.

Poucos consideram essas informações credíveis.

E com pelo menos 171 casos confirmados de Covid-19 e 13 mortes registadas no país, teme-se que ainda mais dos 7,8 milhões de eleitores do Mali se abstenham de votar este domingo.

Apelos por adiamento

Muitos estão a e perguntar por que razão o Governo do Mali não adiou a votação para determinar a composição da Assembleia Nacional, com 147 lugares, especialmente tendo em conta que as eleições já foram adiadas antes.

Estavam inicialmente previstas para 2018, mas foram adiadas, sobretudo, devido à insegurança generalizada no norte e no centro do país.

No final da semana passada, o Presidente Ibrahim Boubacar Keita abordou esta questão quando falou à nação na televisão estatal, ORTM.

Usando uma máscara facial, Keita salientou que não foi decisão do seu Governo realizar estas eleições, mas sim "o resultado do Diálogo Nacional Inclusivo, realizado com total independência e sem qualquer interferência".

O diálogo nacional a que se referiu o Presidente consistiu de uma série de encontros entre políticos, membros da oposição (alguns dos quais boicotaram os procedimentos) e a sociedade civil e foi concluído numa cerimónia em Bamako, no final do ano passado.

Ibrahim Boubacar Keita
Foto: Getty Images/AFP/I. Sanogo

Eleições para acabar com a violência

Uma das principais resoluções do diálogo foi a de realizar finalmente as eleições parlamentares, que os analistas consideram críticas para a implementação de reformas que poderiam ajudar o país a sair do ciclo de violência no qual se encontra.

A oposição - incluindo grandes nomes como o antigo ministro da Educação Mountaga Tall e o veterano político Oumar Mariko - apelou repetidamente ao novo adiamento das eleições, com o argumento de que nada tinha mudado em termos de insegurança e que a chegada da Covid-19 veio, de facto, agravar a situação.

O Presidente Keita, embora tenha reconhecido as dificuldades em torno da votação, mantém-se firme.

"Todas as medidas sanitárias e de segurança - e refiro-me a todas as medidas - estarão em vigor e serão rigorosamente seguidas. Este é o meu compromisso pessoal ", afirmou recentemente referindo-se a esta segunda volta.

Eleitores não estão convencidos

O eleitor Daniel Kamate não está impressionado.

"O Governo proibiu concentrações de mais de 50 pessoas e também nos diz para mantermos uma distância segura entre nós", disse à DW em Bamako.

"Nessas circunstâncias, não me vejo numa mesa de voto. Conheço os meus amigos e os meus colegas: somos todos malianos. Toda a gente sabe que não respeitamos regras como estas," avaliou.

Numa volta por Bamako, confirma-se a avaliação de Kamate: Os transportes de passageiros desta metrópole em expansão estavam completamente lotados na sexta-feira (17.04).

Quanto às questões de segurança, o rapto de seis candidatos a assentos parlamentares antes da primeira volta das eleições continua no pensamento de muitos eleitores.

O mais proeminente entre os raptados é o líder da oposição Soumaila Cisse, que perdeu a corrida presidencial para Keita em 2018. As tentativas de libertação de Cisse têm sido infrutíferas até agora.

Um mediador, que supostamente estava a dialogar com o grupo JNIM (Grupo em Apoio ao Islão e aos Muçulmanos), filiado à Al-Qaeda, que presumivelmente deteve Cisse, também desapareceu.

Os resultados provisórios indicam que Cisse foi eleito deputado na primeira volta, mas também mostram que será necessária uma segunda volta nos distritos onde nenhum candidato obteve a maioria.

Olhando para o escrutínio deste domingo, o eleitor Kamate está pesaroso: "Eles não deveriam ter realizado estas eleições agora. Não servem para nada," conclui.

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