1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
HistóriaGuiné-Bissau

Lúcio Soares, de professor a negociador da paz

Marcio Pessôa
2 de setembro de 2014

O ex-chefe do Estado-Maior do Exército guineense, Lúcio Soares, fez parte da delegação do Comité Executivo da Luta do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

https://p.dw.com/p/1C5F6
Lúcio Soares e Carmen Pereira, comissária política do Comité Inter-Regional do Sul, numa formação de quadros do PAIGCFoto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral

A partir de maio de 1974, Lúcio Soares participou de negociações com representantes do Governo português, em Londres e em Argel, para o cessar-fogo e o reconhecimento da independência da Guiné-Bissau.

Impasses interromperam as negociações. “Eles queriam um governo novo, com a ideia delea,” lembra. Em 26 de agosto de 1974, integrava a delegação do PAIGC que chegou a um acordo com a delegação portuguesa sobre o conflito. Portugal reconhecia a Guiné-Bissau como um Estado soberano.

Lúcio Soares foi comandante da guerrilha na frente Norte. Antes de ingressar no movimento de libertação, era professor. Nesta entrevista à DW África, Soares recorda do momento em que foi recrutado e de alguns detalhes do processo de negociação que resultou no reconhecimento da independência da Guiné.

DW África: O que estava em jogo nesta negociação?

Lúcio Soares (LS): Não havia tanta coisa em jogo porque nós já havíamos proclamado a nossa independência antes do 25 de Abril. Nós fomos para (as negociações) na intenção de que os portugueses reconhecessem o Estado existente. Mas, no início, não foi o caso. Eles tentaram nos convencer de que era necessário fazer um governo novo com a ideia deles. Nós resistimos a isto porque não poderia ser. Isto resultou que nos primeiros encontros nós não conseguimos chegar a um acordo.

Lúcio Soares, de professor a negociador da paz

Marcamos (uma ronda) em Argel onde foram adotados passos mais seguros e eles acabaram por aceitar que era necessário apenas reconhecer o Estado existente e formalizar uma transição.

Eu penso que muitos políticos portugueses não estavam preparados para a independência como tal. Estavam fartos da guerra, isto é verdade. Ninguém quer a guerra, mas as circunstâncias levam as pessoas à guerra. No nosso caso, nós fomos obrigados, mas não queríamos a guerra.

DW África: O que lhe marcou nesta negociação?

LS: Nós tínhamos apoio de alguns países amigos, como a Argélia. Apoiaram-nos com instalações de hotel e técnicos. A comunidade internacional também nos apoiou muito. Todo mundo estava interessado na libertação dos povos colonizados.

DW África: Como ingressou na guerrilha?

LS: Eu era professor primário. Saíamos para uma missão e o carro foi interceptado por um grupo da guerrilha. Mandaram parar e explicaram que eram mesmo guerrilheiros e que estavam no mato a lutar. Queriam explicar que era necessário lutar para libertar o nosso país. Eles disseram que quem quisesse ficar, poderia ficar. Quem não quisesse, poderia ir embora. Então cinco voluntários ficaram e eu era um deles.

DW África: Um soldado era capaz de mobilizar...

LS: Não é um simples soldado, é uma pessoa preparada. Um guerrilheiro preparado pelo partido para integrar a luta e mobilizar as pessoas do interior para estarem preparados para o que der e vier. Mesmo uma pessoa lá do campo tinha noção que era necessário se preparar para a guerra. E, que era uma guerra justa, não era uma aventura. E toda a gente estava interessada em (ingressar na guerrilha) desde que fosse bem explicado. Era fácil de (convencer a) integrar.

Lúcio Soares, de professor a negociador da paz

Saltar a secção Mais sobre este tema