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Justiça angolana está em descrédito fora do país?

27 de setembro de 2022

Justiça angolana recebeu recentemente um cartão vermelho do Tribunal Supremo suíço, que recusou desbloquear milhões de dólares a favor de Angola. Supremo terá desconfiado de "mão invisível política" no caso São Vicente.

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Tribunal Constitucional de Angola
Foto: Osvaldo Silva/AFP/Getty Images

A Suíça suspendeu a cooperação com Angola no caso do empresário Carlos São Vicente, acusado de peculato e branqueamento de capitais. Uma decisão que desencadeou um novo debate sobre a imparcialidade da Justiça angolana.

O Tribunal Supremo suíço rejeitou o pedido da Justiça angolana para desbloquear  as contas do empresário. Segundo os advogados de São Vicente, isso deve-se ao facto de o tribunal ter "sérias dúvidas" sobre se o empresário teve direito "a um julgamento justo em Angola".

São Vicente foi condenado, em março, a nove anos de prisão. Mas a defesa denunciou "arbitrariedades" no processo.

Para Nkinkinamo Tussamba, especialista em Relações Internacionais, a justificação do Tribunal Supremo suíço deixa transparecer a falta de confiança na independência dos tribunais em Angola.

"Não é que eles estejam a defender o cidadão Carlos São Vicente. O que esteve na base da quebra de confiança na cooperação com Angola foi o Estado suíço perceber que ainda existe uma mão invisível política no processo", diz Nkinkinamo Tussamba em declarações à DW África.

Outros casos que "mancham" a Justiça

O advogado Serrote Simão considera haver mais casos que têm manchado a imagem da Justiça angolana fora do país, como, por exemplo, o "chumbo" do Tribunal Constitucional aos recursos de contencioso apresentados pela UNITA e CASA-CE depois das eleições de 24 de agosto. 

"Nós tivemos um acórdão proferido pelo Tribunal Constitucional, nas vestes de tribunal eleitoral em que, até certo modo, o tribunal não esteve bem, se antedermos aos factos e a toda a situação normativa. Havia atos que o presidente da CNE praticou que contrariam o que está previsto na lei eleitoral", comenta o advogado Simão Serrote.

Ex-vice-Presidente de Angola, Manuel Vicente
O julgamento de Manuel Vicente poderá resgatar a credibilidade da Justiça angolana?Foto: Getty Images

Essa foi uma das queixas da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) quando apresentou o recurso de contencioso eleitoral. O maior partido da oposição acusou o presidente da Comissão Nacional Eleitoral, Manuel Pereira da Silva, de aprovar "vários regulamentos depois de se ter convocado as eleições gerais", embora, de acordo com a lei, não fosse permitido aprovar qualquer "legislação eleitoral".

Sendo assim, como é que a Justiça angolana poderá voltar a ganhar credibilidade aos olhos da comunidade internacional?, questiona Serrote Simão. O advogado entende que a solução é cortar o mal pela raiz.

Angola conseguirá recuperar a credibilidade?  

"É preciso que o Estado, o poder político, deixe de interferir nos assuntos judiciais. Ou seja, é preciso que as instituições ajam simplesmente com base na Constituição, na lei e na consciência do juiz", afirma Simão.

O analista Nkinkinamo Tussamba acredita que um possível julgamento doex-vice-Presidente da República Manuel Vicente pode devolver a credibilidade da Justiça angolana junto da comunidade internacional. 

"Será importante tentar resolver essa questão para poder recuperar a confiança dos suíços diante de um processo que envolve Carlos São Vicente", afirma.

O antigo governante angolano foi acusado de corromper um magistrado português, tendo este já sido condenado pela Justiça portuguesa, enquanto se espera que o processo se desenrole em Angola. O caso terá causado causou um "irritante" entre Angola e Portugal.

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