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Jovens moçambicanos têm que subornar agentes por um emprego

20 de dezembro de 2019

Sejam agentes públicos ou privados, a regra parece clara na província de Inhambane: Quem quer um emprego tem de pagar. Num mercado de trabalho restrito, a extorsão em troca de vagas gera situações dramáticas.

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Deutschland Symbolbild ausländische Fachkräfte
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe

O ingresso no mercado de trabalho para recém-formados pode ser caro em Moçambique. Jovens profissionais denunciam que são obrigados a pagar por uma vaga de emprego. Os depoimentos colhidos pela reportagem da DW África são da província de Inhambane, no sul de Moçambique.

Segundo relatório da Organização dos Trabalhadores de Moçambique, 23% dos moçambicanos não têm emprego e nada fazem para ganhar a vida. A maioria dos desempregados no país é jovem.

Num ambiente onde o mercado de trabalho é restrito, a extorsão praticada por agentes públicos ou privados em troca de uma vaga gera situações inusitadas e dramáticas, principalmente para os profissionais mais pobres.

As vítimas da extorsão são jovens que concluíram cursos em institutos de formação de professores primários, graduados em cursos de saúde e diversos cursos de licenciatura e técnicos. O fenómeno coloca na posição de vítima estudantes que chegam a passar três anos em formação.

Como a extorsão ocorre

Nigeria Symbolbild Korruption
Agentes públicos e privados pedem dinheiro por vagasFoto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba

A extorsão ocorre no setor público ou privado. O psicólogo educacional Agostinho Manuel formou-se na Universidade Save, na Maxixe, em 2017. Ele conta que passou o ano de 2018 a concorrer via internet e presencialmente em muitas empresas que divulgam anúncios de vagas.

Manuel chegou a pagar por emprego, mas o posto de trabalho não lhe foi entregue. “Perdi 3 mil meticais [o equivalente a 43 euros] com burlas”, conta.

Mário Patrício formou-se hotelaria e turismo, mas ainda está desempregado. Ele diz que a corrupção assaltou as instituições públicas por isso que está a ser difícil os jovens arranjarem emprego no Estado. Patrício apela que o governo deveria olhar para a corrupção em “primeira mão”.

“Para concorrer na Policia da República de Moçambique é uma dificuldade enorme. É preciso pagar de 11 mil a 15 mil meticais [de 160 mil a 250 mil euros] para estar lá na formação, porque basta sair de lá já tem emprego garantido", conta.

Entre alternativas e a esperança

Vítimas mais pobres desistem de procurar emprego na área devido à falta de vagas e também porque não têm dinheiro para pagar por uma vaga.

Francisco Cipriano formou-se como professor primário há dois anos. A sorte de ter emprego ou de dar aulas nunca chega, por isso ele sobrevive produzindo blocos para terceiros quando é solicitado.
“Ainda não apanhei emprego, só apanho os biscatos de bater blocos”, lamenta Cipriano.  

Não é o caso de Valodia Texeira - formada em Farmácia no Instituto de Formação da Saúde. Ela já tenta há três anos uma oportunidade de emprego. Mesmo depois de várias tentativas, nunca perde a esperança de um dia vir a trabalhar sem precisar pagar.

“Terminei em 2017, já concorri em várias instituições. Não consegui e faz muito tempo [que estou] sentada em casa sem fazer nada. Posso ter sorte e trabalhar nessas farmácias privadas”, diz confiante.

Jovens moçambicanos têm que subornar agentes por um emprego

Governo aberto à combater a corrupção

O membro do Governo provincial de Inhambane e secretário do Distrito de Inhassoro, José Matsinhe, diz que o Executivo está empenhado em combater atos de corrupção na fase de seleção dos candidatos a empregos na província.

“Estamos abertos para conjuntamente combater todo o caso de corrupção ou de pagamento para [a obtenção de] emprego, isto não é correto e não queremos que exista", afirmou José Matsinhe.

Não existe até agora nenhuma campanha de consciencialização para que os empregadores parem de extorquir dinheiro em troca de chances de trabalho aos jovens profissionais.

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