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João Lourenço eleito líder do MPLA contra "a impunidade"

Lusa
8 de setembro de 2018

O Presidente angolano, eleito este sábado no VI Congresso Extraordinário do MPLA com 98,59% dos votos, reiterou o combate aos "inimigos públicos número um" e elogiou o líder cessante, José Eduardo dos Santos.

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Átrio do Complexo de Belas na abertura do VI Congresso extraordinário do MPLAFoto: DW/António Cascais

João Lourenço agradeceu a sua eleição como quinto presidente do partido, depois de Ilídio Machado, Mário Pinto de Andrade, António Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos, para os quais pediu efusiva salva de palmas.

Tratou-se da primeira vez, em várias décadas, em que, publicamente, foram feitas referências aos primeiros líderes do partido, Ilídio Machado e Mário Pinto de Andrade, por um alto dirigente do MPLA.

No seu primeiro discurso como presidente do MPLA, João Lourenço saudou José Eduardo dos Santos, que se manteve por 39 anos à frente do partido, "por ter dedicado toda uma vida" ao partido e ao país, "numa conjuntura difícil da chamada guerra fria, com a ameaça constante do regime do apartheid", da África do Sul.

"Neste momento em que deixa a política ativa, os militantes do MPLA e o povo angolano em geral guardarão para sempre na sua memória a imagem de estadista que, entre outros feitos, trouxe a tão almejada paz definitiva, o perdão e a reconciliação nacional entre irmãos antes desavindos", disse.

Lutar e vencer mesmo que membros do MPLA caiam

MPLA: O Congresso da mudança

João Lourenço lembrou, neste momento de passagem de testemunho, o 'slogan' do conclave do MPLA - "Com a força do passado e do presente, construamos um futuro melhor" - para realçar que a evolução apenas será possível "se houver coragem" para "realmente corrigir o que está mal e melhorar o que está bem", palavra de ordem usada na campanha eleitoral um ano antes.

O também Presidente de Angola, desde 26 de setembro de 2017, elegeu como os males a corrigir, mas sobretudo a combater, "a corrupção, o nepotismo, a bajulação e a impunidade" que "se implantaram" em Angola nos últimos anos, causando à economia angolana "muitos danos" e afetando "a confiança dos investidores, porque minam a reputação e credibilidade do país".

Num discurso frequentemente interrompido com palmas entusiásticas - vários jornalistas na sala de imprensa também aplaudiam -, João Lourenço realçou que os males apontados passam a ser "o inimigo público número um" contra o qual o partido tem "o dever e a obrigação de lutar e de vencer".

"Nesta cruzada de luta, o MPLA deve tomar a dianteira, ocupar a primeira trincheira, assumir o papel de vanguarda, de líder, mesmo que os primeiros a tombar sejam militantes ou mesmo altos dirigentes do partido, que tenham cometido crimes ou que pelo seu comportamento social estejam a sujar o bom nome do partido", defendeu João Lourenço, que tem o combate à corrupção como discurso constante.

Alerta contra enriquecimento ilícito

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João Lourenço, Presidente de Angola e do MPLAFoto: DW/Cristiane Vieira Teixeira

Segundo o presidente do MPLA, a história do partido esteve sempre associada a causas nobres que "orgulham" os militantes, como a conquista da independência, a defesa da soberania nacional, a contribuição significativa na luta vitoriosa dos povos da África Austral contra o regime do apartheid, a paz e a reconciliação entre os angolanos.

"Não se pode confundir, nunca, a necessidade de se promover uma classe empresarial forte e dinâmica, de gente honesta que, com seu trabalho árduo ao longo dos anos, produz bens e serviços e cria empregos, com aqueles que têm enriquecimento fácil, ilícito e, por isso, injustificável, feito à custa do erário público, que é património de todos os angolanos", avisou o novo líder do partido no poder em Angola desde a independência (1975).

"No caso de [os prevaricadores] serem militantes, responsáveis ou dirigentes do MPLA, não permitiremos que comportamentos condenáveis dessa minoria gananciosa, manchem o bom nome deste grande partido que foi criado com suor e sangue para defender uma causa nobre", frisou.

Na sequência do congresso, João Lourenço disse que será reunido o Comité Central do partido para a eleição do vice-presidente, do secretário-geral e dos membros do Bureau Político. E, para esses cargos, o presidente do MPLA disse esperar que venham a ser eleitos militantes com "idoneidade e capacidade de trabalho comprovadas, mas sobretudo corajosos e comprometidos com a causa do partido".

"Que me ajudem a fazer uma governação virada para a resolução dos principais problemas da nossa sociedade, da economia e dos cidadãos", frisou.

Dos Santos é presidente emérito do partido

Angola Ex-Präsident Jose Eduardo dos Santos
Ex-chefe de Estado José Eduardo dos SantosFoto: Getty Images/AFP/A. Rogerio

O agora ex-líder do MPLA, José Eduardo dos Santos, foi distinguido no congresso extraordinário do partido com as medalhas máximas atribuídas pela força política no poder em Angola, que o consagram como presidente emérito.

Além do novo estatuto, José Eduardo dos Santos foi também agraciado como membro honorífico do Comité Central do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e como militante distinto do partido, medalhas e diplomas entregues pelo novo líder, João Lourenço.

As distinções são recentes, uma vez que foram aprovadas a 6 de agosto, na VI Sessão Extraordinária do Comité Central do MPLA, e constituem uma homenagem a quem mais se distinguiu no partido.

Durante a manhã, o presidente cessante do MPLA, José Eduardo dos Santos, despediu-se das funções, assumindo que cometeu erros ao longo dos quase 40 anos no poder em Angola, mas garantindo que sai de "cabeça erguida".

Controlo apertado

O VI Congresso extraordinário do MPLA fica também marcado por um controlo rigoroso de segurança e restrições à cobertura jornalística do evento. A Televisão Pública de Angola (TPA) e a Rádio Nacional de Angola (RNA) foram as únicas com autorização para entrar na sala.

A entrada dos delegados começou cedo e as longas filas para entrar no centro de congressos de Belas, em Luanda, foram uma constante, uma vez que o controlo de segurança era apertado, com vários postos de segurança a limitarem o acesso ao edifício, em que cada um dos participantes era revistado de alto a baixo e retirado o respetivo telemóvel.

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Entrada do centro de congressos de Belas, a sul de Luanda, onde decorreu o VI Congresso.Foto: DW/A. Cascais

Os telemóveis, de que também os cerca de 200 jornalistas credenciados para o evento ficaram privados, seriam todos embrulhados dentro de uma folha de papel A4, branca, com o respetivo nome da pessoa, num balcão improvisado em que as funcionárias de serviço tentavam organizar os "embrulhos" por ordem alfabética.

Os militantes, quase todos com bonés e camisolas vermelhas com a fotografia de João Lourenço e com a frase que dá o lema ao Congresso - "MPLA - Com a Força do Passado e do Presente, Construamos um Futuro Melhor" - continuavam sentados a aguardar pelo início do congresso, que começaria com 15 minutos de atraso.

No átrio do Centro de Congressos circulavam praticamente apenas jornalistas que, privados dos telemóveis, de internet e ainda de entrar na sala onde decorre o conclave, tentavam obter informações sobre as intervenções.

A televisão disponibilizada na sala de imprensa do congresso mostrava as imagens em direto, mas sem som, pelo que vários jornalistas acabaram por abandonar a cobertura do congresso, cuja abertura foi transmitida em direto pela TPA e RNA.

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