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Irão as mudanças climáticas melhorar as condições no Sahel?

Cristina Krippahl | mjp
18 de julho de 2017

É algo que não se ouve todos os dias: as alterações climáticas podem ser positivas. Pelo menos para a região árida do Sahel, em África, onde a chuva tem vindo a aumentar enquanto o planeta aquece.

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Dürre in Kenia
Foto: picture alliance/dpa/Epa/D. Kurokawa

Atualmente uma das zonas mais secas do mundo, a região do Sahel pode vir a ser uma das mais húmidas dentro de algumas décadas, de acordo com um estudo recentemente publicado na Alemanha pelo Instituto de Potsdam para a Investigação do Impacto Climático.

"A novidade não é a possibilidade de haver um pouco mais de chuva nesta região do que nas décadas anteriores, mas sim a possibilidade de haver substancialmente mais precipitação", afirma Jacob Schewe, um dos autores do estudo, que acrescenta que esta mudança "não é gradual e pode acontecer de repente". 

Emmanuel Oladipo, professor de climatologia na Universidade de Lagos, na Nigéria, não está surpreendido com estas conclusões, uma vez que considera que "a região do Sahel tem um clima muito volátil". "Passa de uma precipitação muito elevada a nenhuma precipitação. Parece que agora o sistema está a inclinar-se para o que aconteceu nos anos 60", explica, concluindo que a região tem "mais chuva do que anteriormente". 

Mais chuva: um impacto positivo ou negativo?

Dados dos últimos cem anos, compilados pelo Instituto para o Estudo da Atmosfera e dos Oceanos, em Washington, nos Estados Unidos, mostram uma invulgar elevada precipitação entre os anos 50 e 70. Seguiram-se vários anos de seca, até à década de 90. A chuva voltou depois à média anterior, embora os números variem bastante anualmente. Aparentemente, mais chuva é algo positivo. Significa mais água para o uso doméstico, para a agricultura e para a indústria. Em algumas zonas do Sahel, o aumento da precipitação já veio aliviar as populações e recuperar ecossistemas, diz Schewe, que se mostra preocupado com as consequências de um aumento súbito e abrupto da precipitação.

Dürre in Ostafrika Fluten in Westafrika
Foto: AP/Montage DW

"Um regime de precipitação diferente, com uma época de monções, pode significar mais cheias, que podem ser um grande desafio para as populações", explica o investigador, acrescentando que "as pessoas têm de estar preparadas, tem de haver infraestruturas para lidar com os efeitos positivos - recolher água, por exemplo - e mitigar possíveis consequências negativas".  

Os autores do estudo publicado pelo Instituto de Potsdam afirmam que não é possível prever claramente esta mudança, mas não colocam de parte a ideia de que, ao haver uma transformação, ela acontecerá nos nossos dias e pode ser repentina. Estas mudanças representam mais um desafio para a região, que se vê a braços com inúmeros conflitos, como os ataques de grupos extremistas islâmicos como o Boko Haram e a Al-Qaeda no Magrebe Islâmico. 

"Precisamos de previsões mais confiáveis"Os especialistas defendem que os países da região, que se estende da Mauritânia e do Mali ao Sudão e à Eritreia, devem começar a gerir de forma mais competente as difíceis condições climáticas atuais. Trabalho dificultado pela falta de estações metereológicas no Continente africano, que fazem com que as previsões das agências nacionais sejam muito genéricas e tenham pouca utilidade a nível local. 

18.07 Actualidade: Will climate change turn the Sahel green? - MP3-Mono

"O que precisamos agora é de previsões mais confiáveis, para que as pessoas possam saber quanto irá chover nas próximas duas semanas e preparar-se para isso", explica Emmanuel Oladipo. "Infelizmente, ainda não é possível fazer isso, devido à falta de comunicação, à educação limitada e à incapacidade dos sistemas de previsão metereológica."

O professor de climatologia não está optimista. “Se a intensidade da precipitação aumentar, pode acabar por prejudicar mais o ambiente, se não forem postas em prática estas estratégias", afirma.