Durante os 21 dias de campanha eleitoral, os 12 homens que ambicionam a Presidência da República guineense fizeram muitas promessas, trocaram acusações e até houve ataques pessoais. Dois grandes temas que marcaram a campanha foi a possibilidade de revisão da Constituição, para aumentar os poderes do Presidente, e a mediação da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) na crise política guineense.
Alguns candidatos classificam a intervenção da organização como "ingerência" nos assuntos internos do país, outros encaram isso como algo normal, tendo em conta que a Guiné-Bissau é membro da CEDEAO.
CNE garante que tudo está a postos para o pleito
Apesar das divergências, a campanha foi pacífica. Não houve qualquer incidente de destaque. Um estudante universitário ouvido pela DW África nas ruas de Bissau espera que o clima continue assim nos próximos dias: "Espero que sejam eleições que corram de uma forma ordeira e que vença o candidato que possa, efetivamente, ajudar o país a sair deste marasmo".
"Devemos ajudar para que as eleições possam correr bem", acrescenta uma vendedeira. "Que cada um vá com a sua consciência e vote tranquilamente. É isso que espero que acontença nessas eleições", afirma outro cidadão.
CNE diz que está tudo a postos
Esta sexta-feira (22.11), numa mensagem aos mais de 700 mil eleitores chamados a escolher o futuro chefe de Estado, o presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), José Pedro Sambú, disse esperar que a democracia guineense seja "reforçada" e "valorizada" no domingo.
Sambú assegurou que está tudo a postos para a votação: "Quero-vos tranquilizar de que estão reunidas todas as condições logísticas, humanas e técnicas, tanto ao nível das Comissões Regionais de Eleições, como na diáspora, para que as eleições possam decorrer num clima de tranquilidade, sem qualquer sobressalto. O universo de eleitores para o dia 24, é de 761.676."
Analista: "Haverá sempre alguém a reclamar"
Em relação ao possível resultado das presidenciais, o analista político Luís Vaz Martins diz que "tudo pode acontecer" - poderá haver um vencedor logo à primeira volta ou, então, passar-se a uma segunda volta.
"Às vezes, quando estamos convictos que a decisão do pleito popular será numa direção, aparecem-nos surpresas, como aconteceu nas últimas legislativas, em que ninguém esperava que o MADEM-G15 [Movimento para a Alternância Democrática, o maior partido da oposição] tivesse os resultados que conseguiu. Mas estamos a falar das eleições presidenciais, onde o cenário é relativamente diferente", ressalva.
O analista suspeita, no entanto, que alguns candidatos derrotados no escrutínio de domingo podem não aceitar os resultados.
"Toda a dinâmica em torno deste processo mostrou-nos que não haverá um espírito de 'fair-play'. Independentemente dos resultados, haverá sempre alguém a reclamar", acredita Martins, e as razões terão a ver com a falta de preparação ou "porque não conseguiram angariar todo o apoio necessário para levar à frente a máquina da campanha".
Doze candidatos concorrem à Presidência guineense, incluindo o chefe de Estado cessante, José Mário Vaz. O MADEM-G15 apoia Umaro Sissoco Embaló. E Domingos Simões Pereira é o candidato do partido no poder, o Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC).
Para as eleições de domingo, estão na Guiné-Bissau, de acordo com as informações disponíveis, 23 observadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), 54 da União Africana, 60 da CEDEAO e 47 dos Estados Unidos da América.
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Presidenciais na Guiné-Bissau: Quem são os 12 candidatos?
12 candidatos à Presidência
Quem será o novo inquilino do Palácio da República da Guiné-Bissau? Doze candidatos concorrem à Presidência guineense, nas eleições de 24 de novembro. A votação é tida como crucial para o futuro do país, após quatro anos de instabilidade política. Apresentamos aqui os 12 candidatos à Presidência guineense pela ordem em que aparecerão no boletim de voto.
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Presidenciais na Guiné-Bissau: Quem são os 12 candidatos?
Mutaro Itai Djabi, candidato independente
Mutaro Itai Djabi é um dos estreantes nesta corrida à Presidência da República da Guiné-Bissau e será o primeiro a aparecer nos boletins de voto. É um candidato independente, mas sobre o qual se sabe pouco. Não se conhecem comícios do candidato no país. A DW tentou contactar Djabi, sem sucesso.
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Presidenciais na Guiné-Bissau: Quem são os 12 candidatos?
Domingos Simões Pereira, candidato pelo PAIGC
DSP tem 56 anos. Mestre em Engenharia Civil. De 2004 a 2005 foi ministro das Obras Públicas e Urbanismo. O antigo secretário-executivo da CPLP (2008-2012) foi eleito duas vezes presidente do PAIGC. DSP foi primeiro-ministro em 2014. Doutorou-se em Ciências Políticas e Relações Internacionais em 2016. Com o PAIGC ganhou duas legislativas, mas foi retirado do poder pelo Presidente cessante, Jomav.
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Presidenciais na Guiné-Bissau: Quem são os 12 candidatos?
Vicente Fernandes, candidato pelo PCD
Formou-se em Direito pela Universidade Clássica em Lisboa. Com 60 anos, "Vifer" disputa a sua segunda corrida presidencial. Cumpre o segundo mandato como líder do PCD, de que é um dos fundadores. Foi secretário de Estado do Turismo, ministro do Comércio e Indústria e depois ministro do Comércio e Turismo. O também empresário no setor da água potável confia na sua experiência para mudar o país.
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Presidenciais na Guiné-Bissau: Quem são os 12 candidatos?
Afonso Té, candidato pelo PRID
Conhecido oficial militar, Té, que já foi chefe das Forças Armadas, vai concorrer à sua segunda eleição presidencial como candidato pelo Partido Republicano da Independência e Desenvolvimento. Despiu a farda após a guerra civil de 1998/99, que afastou o Presidente Nino do poder, para se dedicar à política ativa. Para as presidenciais tem feito campanha porta a porta.
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Presidenciais na Guiné-Bissau: Quem são os 12 candidatos?
Nuno Gomes Nabiam, candidato pelo APU-PDGB
Concorre com apoios do seu partido e do PRS. Nabiam, de 53 anos, formou-se em Aviação Civil, na antiga União Soviética e tem o mestrado em Gestão Empresarial nos EUA. Foi assessor do ministro dos Transportes e presidente do Conselho de Administração da Agência de Aviação Civil. O engenheiro perdeu a última eleição presidencial na segunda volta, quando foi apoiado pelo ex-Presidente Kumba Ialá.
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Presidenciais na Guiné-Bissau: Quem são os 12 candidatos?
Baciro Djá, candidato pela FREPASNA
Psicólogo, de 46 anos, deu nas vistas no Instituto da Defesa Nacional. Em 2012 concorreu às presidenciais. Atual líder do partido que fundou, a FREPASNA, já foi ministro da presidência do Conselho de Ministros, ministro da Cultura, Juventude e Desportos e ministro da Defesa Nacional. Também foi terceiro vice-presidente do PAIGC. Em 2016 foi nomeado primeiro-ministro por duas vezes.
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Presidenciais na Guiné-Bissau: Quem são os 12 candidatos?
Carlos Gomes Júnior, candidato independente
"Cadogo" foi eleito deputado nas primeiras eleições multipartidárias e nas eleições até 2007. Empresário foi líder do PAIGC em 2001 e 2008. Presidente da equipa de futebol UDIB. Em 2007 foi primeiro-ministro. Em 2012, enquanto primeiro-ministro, lançou-se para a Presidência, mas deu-se o golpe de Estado antes da segunda volta. Único que deu ao PAIGC a maioria qualificada com 67 deputados eleitos.
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Presidenciais na Guiné-Bissau: Quem são os 12 candidatos?
Gabriel Fernandes Indí, candidato do PUSD
Com 36 anos de idade, Indí concorre à sua primeira eleição. Fundador do Futebol Clube de Safim, clube de qual é líder há oito anos, o candidato do PUSD, sem assento parlamentar, está a tirar uma licenciatura em Direito na Universidade Clássica de Lisboa. Nunca foi funcionário público na Guiné-Bissau. Diz que, se for eleito, será Presidente de todos os guineenses, não de um partido ou de grupos.
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Presidenciais na Guiné-Bissau: Quem são os 12 candidatos?
Idriça Djaló, candidato pelo PUN
Formou-se em Economia pela universidade X Nanterre, de Paris. Djaló, empresário de 57 anos, entrou na política após a guerra civil. Em 2002 funda o PUN, que em 2004 foi o quinto mais votado nas legislativas. Em 2005, disputou a sua primeira eleição presidencial. Foi promotor da iniciativa "Estados Gerais para a Guiné-Bissau", que visava apontar soluções para a estabilização do país.
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Presidenciais na Guiné-Bissau: Quem são os 12 candidatos?
José Mário Vaz, candidato independente
O primeiro Presidente a concluir os cinco anos de mandato completa em dezembro 62 anos. Formou-se em Economia, em Lisboa. Empresário bem-sucedido, mentor do grupo JOMAV. Em 1993 foi presidente da Câmara de Comércio. Em 2004 foi Presidente da Câmara Municipal de Bissau e em 2012 tornou-se ministro das Finanças. Em cinco anos na Presidência nomeou 8 primeiros-ministos, a maioria deles contestados.
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Presidenciais na Guiné-Bissau: Quem são os 12 candidatos?
Umaro Sissoco Embaló, candidato pelo MADEM-G15
Major-general, na reserva, Sissoco disputa a Presidência pela primeira vez. Com 47 anos de idade, o terceiro vice-coordenador do MADEM foi primeiro-ministro em 2016, durante um ano e meio. Nas últimas legislativas foi eleito deputado da nação, na região de Gabú, leste do país. Diz ter sido conselheiro de vários chefes de Estado africanos e ter uma boa relação com os líderes mundiais.
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Presidenciais na Guiné-Bissau: Quem são os 12 candidatos?
Mamadu Iaia Djaló, candidato pelo PND
"Velha raposa" da política guineense, Iaia Djaló foi ministro dos Negócios Estrangeiros, ministro do Comércio e da Justiça. Durante a crise, demitiu-se do cargo de conselheiro do Presidente, José Mário Vaz, alegando incompatibilidade. É líder do PND. Com o partido disputou as presidenciais de 2005 e foi o sexto mais votado entre 13 candidatos.
Autoria: Braima Darame