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Contrastes continuarão em Luanda, diz Sónia Gomes em Berlim

Cristiane Vieira Teixeira (Berlim)18 de setembro de 2015

Escritora angolana Sônia Gomes encantou o público do Festival Internacional de Literatura de Berlim com a sua visão romanceada dos paradoxos da cidade de Luanda. Evento literário termina este sábado (19.09).

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A escritora angolana Sónia Gomes, em BerlimFoto: DW/C. Vieira

A escritora angolana Sónia Gomes veio ao Festival Internacional de Literatura de Berlim para o lançamento da versão em alemão de seu aclamado romance A Filha do General, que em Angola esgotou rapidamente a tiragem de mil exemplares. 

"É o maior prêmio que eu já recebi até agora, porque chegou o momento que pensei que a próxima coisa boa que deveria acontecer na minha vida era ser publicada num país estrangeiro, que a minha obra fosse para além das fronteiras angolanas," relata.

E foi o que aconteceu. Em Berlim, Sónia Gomes participou de debates e entrevistas para falar da visão de Luanda que apresenta em seus livros. Em A filha do General, por exemplo, ela expõe uma lista de problemas enfrentados pela sociedade luandense, divido à forte contradição social que se pode observar em Angola.

"O desemprego, a criminalidade e a violência, a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, as dificuldades em relação à questão da habitação. O meu foco vai para essas questões," pontua Sónia.

Buchcover Autorin Sônia Gomes EINSCHRÄNKUNG
Livro A Filha do General, da escritora angolana Sónia GomesFoto: Uniao dos Escritores Angolanos/Foto: DW/C. Vieira

Machismo em foco

Um dos aspetos que a escritora angolana enfatiza é o machismo. Segundo Gomes, a sociedade angolana é tradicionalmente machista.

"Os homens têm a dificuldade em assumir a ideia de que sejam sustentados por mulheres ainda que isso aconteça," considera.

"Há uns que conseguem viver essa situação, mas desde que não seja muito visível. Desde que as pessoas não percebam que a realidade é esta: quem sustenta a casa é ela," avalia a escritora, citando como exemplo mais visível do fenómeno em Luanda a realidade das vendedoras ambulantes conhecidas como zungueiras.

"Fazem longos percursos nas ruas a venderem os seus produtos. Muitas dessas senhoras, os maridos são desempregados. Quem sustenta a casa, são as mulheres, as grandes heroínas. São elas que, com esses trabalhos da zunga e outros, sustentam as suas famílias," descreve.

Para a autora, a longa guerra civil pela qual o país passou resultou numa atual crise de valores da sociedade angolana.

"Durante esses anos, muitos valores foram se perdendo. O foco foi a luta pela sobrevivência," diz.

"Na minha opinião, impôs-se uma lei do salve-se quem puder. Então, chegou uma altura em que o egoísmo cresceu. Então, as pessoas estão mais preocupadas consigo mesmas," considera.

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A Luanda do futuro

Com seus livros, Sónia Gomes propõe o resgate de valores. Mas quando pensa na Luanda do futuro, a escritora angolana, no entanto, diz não acreditar no fim dos paradoxos.

"A minha opinião sincera é que as coisas não vão mudar," afirma.

"A cidade de Luanda, daqui a alguns anos, vai seguir este perfil que já foi traçado com base no modelo atual de construções. Vai surgir um grande edifício, mas ao lado duma casota, dum foco de lixo. Quer dizer, vai continuar essa cidade de grandes contrastes, grandes contrariedades," antecipa.