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Gana: pressão sobre jovens impede realização pessoal

Suuk Maxwell | Gustav Hofer
19 de maio de 2018

População ganesa triplicou nos últimos 50 anos. O peso das responsabilidades familiares sobre a população mais jovem e as famílias numerosas são tópicos de discussão no país.

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[Foto ilustrativa] No Gana, grande parte da população tem menos de 40 anosFoto: DW/D. Agborli

No Gana, como noutros países países africanos, é comum que jovens adultos tenham a seu cargo vários membros da família. Por vezes, essa responsabilidade impede que procurem um bom emprego, pois não há tempo para se pensar no futuro ou dinheiro para investir em novas oportunidades.

Fataw Yakubu tem 27 anos, não tem esposa nem filhos mas ainda assim conta com cinco familiares ao seu encargo, além dos seus pais, que não têm emprego. Trabalha no mercado. "Todos os dias tenho de fazer isto para apoiar a minha família", conta, resignado.

Não são apenas trabalhadores de áreas menos qualificadas que fazem sacrifícios pelas responsabilidades familiares. Clement Boateng é profissional de comunicação numa organização não governamental (ONG), em Tamale. Além do seu emprego, ainda faz outros trabalhos extra.

 "Tenho de trabalhar muito para garantir sustento para a minha família direta e ainda outros familiares mais afastados. Parece um grande fardo, mas como homem africano tenho de carregar todas estas responsabilidades", disse à DW.

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[Foto ilustrativa] Os encargos familiares impedem muitos jovens de prosseguir com a formaçãoFoto: Maxwell Suuk

Clement aceita a situação, mas sabe que a parte do seu salário gasta com familiares poderia ser usada para gerar mais dinheiro. "Podia ter poupado esse dinheiro para investir, até arriscar noutras atividades económicas e empregar pessoas, mas não dá para fazer isso. Não posso poupar dinheiro se alguém da minha família vai dormir com fome, não dá".

No fórum da juventude, há uma sala cheia com jovens que se reuniram para ouvir os palestrantes sobre como preparar um futuro melhor. A maior parte da população ganesa tem menos de 40 anos e as autoridades tentam que se diminua a dependência e pressão exercida sobre este grupo.

Quebrar o ciclo

Mahama Tenni foi um dos palestrantes. Trabalha no Fundo de População das Nações Unidas, em Tamale. Quer quebrar o ciclo dos encargos familiares que dependem dos jovens adultos. "Se investirmos na juventude podemos mudar esta taxa de dependência que pesa sobre eles. O número de familiares que os jovens teriam que tomar conta não vai ser o mesmo número de que vocês tiveram de tomar conta. Assim, haverá dinheiro extra para investir", explica.

No Gana, a pobreza está associada a famílias mais numerosas. Poder poupar dinheiro é importante porque permite que as pessoas possam continuar com os estudos e trabalhar para ter um bom emprego.

Alhaji Issifu Iddi é líder do Conselho de população do Gana no norte. Ele e a esposa têm apenas duas crianças. Mas os pedidos do resto da família quase que os deixam sem dinheiro no final do mês. "Tudo o que recebemos vai para a família. Vem alguém bater à porta que pede para pagar a escola das crianças, vem a sobrinha que precisa de ir ao hospital. Não se pode dizer que não. No fim, alguns ainda têm de ir pedir dinheiro emprestado", relata.

Mudar o número de telefone

Uma situação que se repete pelo Gana. Musah Amina é enfermeira. Saiu da cidade e voltou para a aldeia onde vivia. Tem três filhos biológicos, dos quais dois já são independentes, mas ainda é responsável por dez pessoas da sua família mais alargada.

 "Não desejo a ninguém passar por aquilo que eu passo. Por isso apoio a ideia de famílias menos numerosas. O dinheiro que já podia ter poupado se não tivesse esta responsabilidade faria de mim uma mulher muito feliz", lamenta.

Também há quem veja benefício na rede que existe nas famílias grandes. Para Mahommed Jabaru, é um ciclo de receber e dar de volta.

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[Foto ilustrativa] Famílias numerosas são associadas a maior pobrezaFoto: Getty Images/AFP/C. Aldehuela

 "Não foram apenas os meus pais que me ajudaram na vida. Outros também contribuíram, de uma forma ou outra, para a minha educação e crescimento. Foram pessoas da família mais alargada", conta. "Por isso vemos como nossa responsabilidade ajudar outros membros da família, aqueles que achamos que precisam".

Com a pressão exercida sobre eles, alguns jovens acabam por se mudar para a cidade para estarem sós. Por vezes até alteram o número de telefone para que os membros mais afastados da família não os possam contactar e pedir dinheiro.

O Governo do Gana também já recomendou aos casais que tivessem menos filhos, mas sem implementar nenhuma medida oficial. Enquanto isso, a população do país continua a crescer. 

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