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Apelo a mais traduções de livros lusófonos

Nélio dos Santos (Cidade da Praia)4 de fevereiro de 2016

Um encontro de escritores lusófonos em Cabo Verde foi ensejo para debater os muitos problemas que enfrenta quem quer viver da escrita. E para lamentar a fraca relação intercultural entre os países africanos lusófonos.

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Foto: picture-alliance/dpa/J. Kalaene

Um dos autores convidados a participar no Sexto Encontro de Escritores de Língua Portuguesa na Cidade da Praia, em Cabo Verde, que terminou na quarta-feira, 3 de fevereiro, foi o angolano José Luís Mendonça. Mendonça diz que os africanos enfrentam o dilema das independências. E aqui deu o exemplo do seu país - Angola: "Não temos contacto com os criadores, principalmente os escritores, dos países vizinhos. Temos mais com o Congo, devido aos laços da luta de libertação, e porque alguns escritores congoleses foram traduzidos em Portugal". Já as relações com a Zâmbia e a Namíbia são descritas por este escritor como "um escândalo". "Eu não conheço nenhum escritor zambiano, só conheço alguns zimbabueanos, que estão mais distantes", diz, acrescentando: "e namibianos, então, não conheço. Conheço alguns da África do Sul porque foram traduzidos em Portugal". E lamenta: "Nós não temos contactos interpessoais com os outros escritores".

O muro geográfico e económico

É uma falta de contacto que, no ver crítico deste escritor, se estende aos outros países africanos de expressão portuguesa: "Nós conhecemos melhor a literatura e os escritores portugueses e brasileiros, do que os de Moçambique, que também falam português". Isto porque existe um "muro geográfico e económico", explica: "Moçambique não tem uma economia desenvolvida como o Brasil. Não consegue produzir e divulgar fora de Moçambique". O mesmo aplica-se a Angola: "A cultura é um setor da economia que não tem fundos suficientes". José Luís Mendonça vê aqui o Estado angolano em falta.

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O escritor angolano José Luís Mendonça lamenta a falta de projeção dos autores do seu paísFoto: DW/N. dos Santos

A historiadora e poetisa angolana Ana Paula Tavares concorda, e sugere várias medidas para remediar esta situação: "Tentar, com encontros deste género e outro tipo de situações, que as coisas saiam das ilhas onde estão, passem as fronteiras, para serem conhecidas noutros universos". Igualmente importante seria traduzir as obras dos escritores lusófonos para o francês: "Para que os colegas congoleses nos conhecessem, ou para o inglês, para que os zimbabueanos, os sul-africanos e os zambianos nos conhecessem”.

Viver da escrita é morrer de fome

Ana Paula Tavares é secundada pelo seu conterrâneo José Luís Mendonça, que diz que a literatura angolana está pouco divulgada. E vê a origem do problema na era socialista do país, que se habituou a esperar que o Estado tomasse a iniciativa: "Nós não temos quem pegue no livro e faça essa aposta". A ausência de um setor privado eficiente e com coragem para fazer negócios com o livro é uma caraterística angolana, diz. E alerta: A crise económica está a agudizar o problema: "Agora com a crise económica, nenhum empresário se vai dedicar à publicação de livros”.

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A poetisa angolana Ana Paula Tavares apela para mais traduções para o inglês e o francêsFoto: DW/N. dos Santos

Segundo o poeta, que dirige e é editor do quinzenário cultural "Jornal Angolano de Artes e Letras", quem tentar viver só do livro em Angola decerto morrerá de fome: "Eu vivo porque sou jornalista e sou professor de língua portuguesa. Da literatura não ganho nem um tostão". José Luís Mendonça, que é membro da União de Escritores Angolanos, diz que apenas muito poucos, como Pepetela, José Eduardo Agualusa e Ondjaki, conseguem viver da sua arte.

O Sexto Encontro de Escritores de Língua Portuguesa organizado pela Câmara Municipal da Praia e pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) juntou mais de 30 escritores lusófonos.

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