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FLEC acusa Luanda de não querer dialogar

António Rocha30 de abril de 2013

A FLEC lamenta que as autoridades de Angola não tenham até hoje respondido às inúmeras solicitações feitas para um diálogo sobre a independência de Cabinda.

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Nzita Tiago, presidente da FLEC
Nzita Tiago, presidente da FLECFoto: Jean Claude Nzita

Num comunicado a FLEC, Frente de Libertação do Enclave de Cabinda, diz que existe um bloqueio político à volta do tema "paz para Cabinda". Nesse documento acusa o Governo de José Eduardo dos Santos de "querer a guerra e jamais um processo de diálogo".

A DW África entrevistou o presidente da FLEC, Nzita Tiago, sobre Cabinda.

DW África: A solução para o probelma de Cabinda parece estar muito longe. Que obstáculos precisam ainda de ser removidos?

Nzita Tiago: Os Governos angolano e português é que têm o remédio para curar a doença do povo de Cabinda. Porque isso, os portugueses sabem muito bem que Cabinda na Conferência de Berlim de 1885 os cabindas voluntariamente pediram a proteção do Governo português. Durante todo esse tempo Cabinda é considerado protetorado português. E numa das conferências no Cairo, Egipto, os chefes de Estado de África quando fizeram o mapa dos territórios que deveriam ter a sua independência deram a Cabinda o número 39 e a Angola 35. Foi previsto que Cabinda deveria ter a sua independência à parte.

DW África: Mas isso já não aconteceu? A independência de Angola já foi há muitos anos e a situação continua. Comunicados da FLEC dizem que Cabinda continua a viver uma situação extremamente difícil. O que a FLEC exige neste momento?

FLEC acusa Luanda de não querer dialogar

NT: Proponho que haja uma mesa redonda, temos de nos sentar com os angolanos à mesa.

DW África: Para quê?

NT: Vamos colocar questões que dizem respeito à soberania cabindense.

DW África: Nomeadamente?

NT: Para que haja paz em Cabinda e que o reconhecimento do direito do povo de Cabinda seja oficializado. Então o Sudão hoje não está dividido? Nós conhecemos o antigo Congo belga, Ruanda e Burundi. Os belgas quando deram a independência ao Congo belga não obrigaram aos ruandeses e burundeses a estarem anexados no Congo.

DW África: Que resposta recebeu das autoridades de Angola?

NT: Absolutamente nenhuma.

DW África: E a FLEC enviou um mensageiro com a proposta a José Eduardo dos Santos?

NT: A pessoa que transportou a correspondência chama-se Lalgi Belchior, professor da Universidade em Cabinda. E não tenho qualquer resposta já passam dois anos. Se provarem que Cabinda é Angola não vamos criar problemas.

Bandeira da FLEC, Frente de Libertação do Enclave de Cabinda
Bandeira da FLEC, Frente de Libertação do Enclave de CabindaFoto: FLEC

DW África: Mas algumas informações veiculadas pela imprensa dizem que o presidente Nzita Tiago talvez seja o obstáculo a paz em Cabinda. O que responde a esta tese?

NT: Mas então obstáculo a paz é a pessoa que quer negociar? Eu sou o fundador da FLEC, das forças armadas cabindesas. Qual é a pessoa que eles apresentam que não cria obstáculos, para nós terminarmos com a situação?

DW África: O presidente da FLEC tem uma visão da paz para Angola?

NT: Primeiro a paz para Cabinda, isso é o que Nzita Tiago quer. Porque a paz em Angola não depende de Cabinda.

DW África: E enquanto a situação em Cabinda não for esclarecida ou solucionada, como a FLEC vai continuar a agir?

NT: Deus é que sabe e o povo de Cabinda saberá dar as soluções. Se acontecer alguma coisa na região, eles, angolanos, é que vão pagar e serão os culpados.

DW África: Se compreendemos bem, isso quer dizer que a FLEC neste momento não atua militarmente?

NT: A FLEC dá tempo aos angolanos de poderem refletir, de avançarem rapidamente, para podermos negociar.

DW África: A FLEC tem apoios políticos no terreno?

NT: Quando digo que temos de sentar a mesa não quero dizer que Nzita Tiago é que se vai sentar a mesa sozinho com os angolanos. Se não querem se sentar com a FLEC que organizem um referendo popular em Cabinda.

DW África: Para que seria o referendo?

NT: Seria para perguntar se Angola é Cabinda ou não.

DW África: Será que a comunidade internacional tem ouvido bem as vossas reivindicações?

NT: Quando digo a comunidade internacional, refiro-me a ONU, União Africana e outras organizações. Nós os cabinda é que devemos trabalhar para obrigar a esses, que tiram de lá o petróleo, e que não querem dar ouvidos ao sofrimento do povo de Cabinda. Os americanos tiram petróleo lá, não fazem parte da comunidade internacional? Não estão em Cabinda? Lá na fronteira do Congo Brazaville os franceses estão a tirar o petróleo, não estão a ver o que se passa lá? Os chineses estão lá a tirar o ouro e não perguntam porque há muitas tropas angolanas?

DW África: Então quer dizer que a comunidade internacional não se debruça como devia sobre a questão de Cabinda?

NT: A comunidade internacional quer sacrificar o povo de Cabinda, mas o povo de Cabinda não se vai deixar sacrificar.