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Filme "Angola não é de ninguém" levanta questões históricas

Cristiane Teixeira Vieira (Berlim)25 de julho de 2013

O documentário do rapper angolano Diamantino Feijó, "Angola não é de ninguém", foi exibido numa sala de cinema do circuito alternativo em Berlim. O público identificou-se com a história.

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Cena do filme "Angola Não é de Ninguém"Foto: DW/C. Vieira Teixeira

Foi num clima de descontração que "Angola não é de ninguém" foi exibido numa aconchegante sala de cinema no bairro de Kreuzberg, um local alternativo da capital alemã.

Na sequência do documentário, o rapper angolano e diretor do filme, Diamantino Feijó, convidou o público a debater o filme.

O filme, de 32 minutos, foi rodado no ano de 2010 e conta a história de um pedreiro angolano, de 80 anos de idade. João António Cristóvão vive em Luanda, fabrica e vende tanques de lavar roupas feitos de cimento.

A sua vida reflete, na visão do diretor, um período importante da história do país: a época colonial: "Você lê sobre africanismo, sobre a história de países que foram colonizados, sob a perspetiva do colonizador. Como foi a chegada do colono, como foi o desenvolvimento da terra na perspetiva do colono, mas você nunca tem a perspetiva do nativo."

E por causa disso Diamantino Feijó justifica: "Eu quis muito dar voz a quem viveu isso do outro lado, não o colonizador que sempre conta a história, mas o colonizado."

Diamantino Feijó
Diamantino Feijó, diretor do filmeFoto: DW/C. Vieira Teixeira

As verdades da história

Os relatos de Pai João, como é conhecido o pedreiro, contradizem muito do que se lê nos livros de história e falam de um colonizador repressor, segundo o diretor: "Comparada com a colonização holandesa ou belga, dizem que a portuguesa é uma colonização branda, que havia um envolvimento de pessoas brancas e negras e que viviam em comunidade, que eram fraternos. Ele discorda totalmente, conta coisas que viu e viveu e que nos mostram que as coisas realmente não eram assim."

O personagem de 80 anos matém vivas na memória lembranças do que viveu durante a sua juventude em Angola: "Por exemplo, as meninas não podiam andar nas ruas, precisavam da carteira de indígena e quando não tinham eram levadas para a prisão, que os jovens não tinham liberdade, não podiam jogar futebol nas ruas. Eles eram presos ou levados para trabalhar de graça."

Foi também em uma das falas de Pai João que o diretor se inpirou para dar nome ao documentário e construir uma metáfora da realidade política angolana: "Qualquer pessoa que ouvir este título vai fazer várias analogias, primeiro pela situação do país. Há pessoas que têm muito e outras que não têm nada."

Essa situação foi usada por Diamantino Feijó para fazer um questionamento: "Tentei jogar também com isso de pessoas que se enriqueceram a partir do herário público e que se acham mais pertencedoras a Angola do que outras."

Publikum
A plateia a assistir o filmeFoto: DW/C. Vieira Teixeira

Rescrever a história?

Segundo o rapper angolano e diretor do documentário, Diamantino Feijó, o registo pode contribuir para a reconstrução da história do seu país: "A história de Angola não está construída de uma forma imparcial. Isso é uma contribuição."

Um mudança de posições na construção da história é uma possibilidade que o diretor do filme não descarta: "No futuro talvez alguém possa pegar nesses discursos e nessas histórias que ele conta e investigar para termos uma história que apresente talvez o herói como vilão, ou talvez o vilão não seja tão vilão assim."

O filme "Angola não é de ninguém" agradou e aguçou recordações nos compatriotas do diretor que acompanharam a sessão na capital alemã: "Vi os bairros, as ruas, foi muito bom." Também para outro telespetador foi uma oportunidade de revisitar as suas origens: "Voltamos a rever os lugares de onde saímos, um pouco da cultura, um pouco do passado." Também houve quem apreciou a essência da história e a arte: "Gostei do Pai João a contar a sua história, muito sincero, muito poético."

Filme "Angola não é de ninguém" levanta questões históricas