1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Dificuldade de acesso limita ajuda em Moçambique, diz MSF

Nádia Issufo
13 de maio de 2019

Fazer chegar ajuda humanitária às zonas mais afetadas é o maior desafio, segundo a chefe da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Moçambique. Campanha de vacinação contra cólera arranca na quinta-feira.

https://p.dw.com/p/3IR52
Caroline Rose, chefe da missão da MSF em MoçambiqueFoto: MSF

A dificuldade de acesso às áreas mais destruídas pelo Ciclone Kenneth, no norte de Moçambique, é o maior desafio para a chegada de ajuda humanitária à população. Além disso, ataque armados na província de Cabo Delgado dificultam os trabalhos das equipas de saúde, segundo relata a chefe da missão da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Moçambique, Caroline Rose.

"Temos desafios para ter acesso às zonas mais destruídas em termos da logística de transporte e de segurança", afirmou em entrevista à DW África. "Pode ser perigoso ter acesso a essas áreas e isso está a limitar a ajuda."

Outro desafio é reabilitar os centros de saúde. "Alguns foram completamente destruídos", afirma Caroline Rose. Ao mesmo tempo, a cólera é um problema com o qual se debatem as autoridades, pois as infraestruturas foram devastadas pelo desastre natural ocorrido no final de abril.

De acordo com o Ministério da Saúde (Misau), cerca de meio milhão de pessoas serão vacinadas contra a cólera nas regiões afetadas pelo ciclone. A campanha de vacinação contra a doença terá início na quinta-feira (16.05), o que ajudará a controlar a situação.

DW África: Quais desafios há neste momento ao nível da saúde no norte de Moçambique?

Caroline Rose (CR): Na província de Cabo Delgado, depois do Ciclone Kenneth, temos um surto de cólera que foi declarado nos distritos de Pemba, Mecufi e Metuge. A MSF está apoiando as autoridades de saúde locais na resposta.

Falta de acesso e ataques armados limitam ajuda em Moçambique, diz MSF

DW África: Em relação à malária, houve a eclosão de algum caso?

CR: Os casos de malária estão a aumentar, é verdade, mas numa região onde sempre houve casos de malária. No futuro, provavelmente, veremos um aumento. O maior problema de saúde, além da cólera, é que os centros de saúde foram destruídos pelo ciclone Kenneth. Principalmente na ilha de Ibo e no distrito de Macomia não há mais serviços de saúde. As mulheres e as crianças que precisam de cuidados primários e simples não têm mais acesso.

DW África: De que forma a MSF está a ajudar as autoridades moçambicanas a resolver a situação?

CR: Estamos a intervir em lugares diferentes. Estamos a fazer a reabilitação dos centros de saúde e a doar medicamentos, porque em muitos casos tudo foi destruído. Se necessário, podemos apoiar o pessoal do Ministério da Saúde fazendo consultas também, como é o caso do centro de saúde de Macomia. Ao lado da saúde, é sempre preciso providenciar água, porque sem acesso à água limpa a população com certeza vai ficar doente. Então, estamos a melhorar o acesso à água na cidade de Pemba e estamos a trabalhar com o Ministério da Saúde no centro de tratamento da cólera.

DW África: Uma campanha de vacinação contra a cólera começa na quinta-feira em alguns distritos da província de Cabo Delgado. Essa vacinação é vital para o combate à doença neste momento delicado.

Mosambik Zerstörung nach Zyklon Kenneth
O distrito de Macomia foi um dos mais afetados pelo ciclone KennethFoto: Reuters/OCHA/Saviano Abreu

CR: Exatamente, é vital para parar o surto da cólera. Já foi feita na cidade da Beira, na província de Sofala, onde foram vacinados cerca de 900.000 pessoas. Agora, estamos a ver que o surto da cólera está a decrescer em Sofala, quase terminando. Agora, temos que fazer a mesma coisa nas cidades de Pemba, Mecufi e Metuge. Com o apoio do Ministério da Saúde, do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), nós vamos vacinar cerca de 500.000 pessoas.

DW África: A MSF tem trabalhado também em campanhas de sensibilização na prevenção da cólera no norte de Moçambique?

CR: Sim, a MSF sempre trabalha na promoção de saúde. Ao mesmo tempo, estamos a oferecer cuidados e a trabalhar para garantir acesso à água limpa e ao saneamento. Essas atividades vão juntas e é importante comunicar a população e as comunidades sobre o que é a cólera, como evitá-la e orientar sobre como ter acesso à água limpa. Quando alguém apresenta os sintomas da cólera é preciso ir ao centro de saúde.

DW África: Quais são os principais desafios neste momento crítico na província de Cabo Delgado?

CR: Temos desafios para ter acesso às zonas mais destruídas em termos da logística do transporte e em termos de segurança. Em algumas zonas, só é possível ter acesso com barcos ou helicópteros, porque a estrada ainda está interrompida. As zonas mais afetadas pelo ciclone são também onde ocorrem ataques armados há mais de um ano, como no distrito de Macomia. Então, pode ser perigoso e isso está a limitar a ajuda.

Nota: Numa versão anterior, o artigo mencionava que o surto de cólera foi declarado em Pemba, Mecufi e Macomia, enquanto na verdade ele foi declarado em Pemba, Mecufi e Metuge.