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Suazilândia passa a ser, a partir de hoje, eSwatini

Daniel Pelz | cvt
6 de setembro de 2018

Suazilândia comemora 50 anos de independência. Como presente, o rei Mswati III decide mudar o nome do país para eSwatini. A intenção era livrar-se de um vestígio colonial, mas a ideia não agrada a todos.

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Swasiland | König Mswati III
O rei Mswati III dediciu dar um novo nome para a Suazilândia: eSwatiniFoto: Getty Images/AFP/G. Guerica

Comemora-se hoje o 50º aniversário da independência de eSwatini. O reinado mudou recentemente de nome. Mas a renomeação tem sido criticada por gerar custos ao país onde dois terços dos 1,4 milhões de habitantes vivem na pobreza e a expetativa de vida é de apenas 56 anos.

Na antiga Suazilândia, renomeada eSwatini, e que na língua Swazi quer dizer "terra dos Swazi”, a mudança de nome está a gerar debate - mesmo que esse já tenha sido o nome do país antes de se ter tornado colónia britânica.

O cidadão Lucky Lukhele opõe-se à renomeação e diz os ativistas estão irritados, " [a mudança] é algo que requer um processo consultivo, que envolva os cidadãos em todos os níveis, até o ponto de um referendo. Neste caso, o rei apenas acordou e decidiu renomear o país”, explica.

Um nome antigo
Por vários anos, houve discussões sobre o retorno ao nome antigo. No entanto, o rei Mswati III surpreendeu seus súditos, em abril, quando anunciou a renomeação.

Na ocasião, o monarca já celebrava seu 50º aniversário, e o 50º aniversário da independência do país (embora essa data seja 6 de setembro). "A Suazilândia agora retornará ao seu nome original", disse ele nas comemorações no estádio lotado, na capital Mbabane.

Com o novo nome, ele queria eliminar uma relíquia da era colonial, disse Mswati. Suazilândia é uma palavra artificial da antiga língua colonial inglesa e da língua nacional Swazi.

Outros países africanos se renomearam - ou para substituir nomes coloniais, ou porque os respetivos governantes queriam inaugurar uma nova era. Com a independência, em 1980, a então Rodésia se tornou Zimbabué. Quatro anos depois, a ex-colônia francesa República do Alto Volta rebatizou-se Burkina Faso.

Constituição alterada

Staatsflagge von Swasiland
A bandeira da Suazilândia, que agora passa a chamar-se eSwatiniFoto: picture-alliance/dpa/J. Kalaene

Mas muitos concordam com o retorno ao antigo nome eSwatini. Mduduzi Gina, da federação sindical local, defende, no entanto, que para tal "a Constituição teria que ser alterada". "Nós não temos um problema com o nome em si. Apreciamos e entendemos que essa é a forma como nossos antepassados se refeririam ao nosso país", explicou.

Além disso, a forma como o chefe de Estado procedeu não surpreende os críticos. Mswati III é o último monarca absoluto de África. Organizações de direitos humanos criticam seu Governo há anos. Os partidos da oposição são proibidos, críticos desaparecem atrás das grades e a liberdade de imprensa é limitada.

Para opositores, a recente renomeação custa muito dinheiro enquanto o país está em crise, reclama o ativista Lukhele. "É um segredo aberto que a Suazilândia está quase em colapso económico. Alguns hospitais ficaram sem remédios, isso inclui medicamentos essenciais para doenças crônicas – diabetes, HIV, tuberculose. Em muitos hospitais, se você for lá e receber um analgésico, considere-se com muita sorte”, desabafa.

Por causa da renomeação, as autoridades devem ser nomeados novamente, os papéis timbrados e os letreiros substituídos, as carteiras de identidade e os passaportes trocados. Não se sabe quanto o Estado irá gastar. Um pedido de entrevista ao gabinete do porta-voz do Governo permaneceu sem resposta. "Até as empresas devem mudar seu nome se a palavra Suazilândia aparecer", diz o sindicalista Gina.

Dissipar temores

Suazilândia vai se chamar eSwatini

Por sua vez, o Governo tenta dissipar tais temores: "A mudança de nome não será implementada da noite para o dia", disse o ministro do Interior, Tsandzile Dlamini, segundo a emissora pública sul-africana SABC. "Papéis timbrados e passaportes só serão trocados quando os suprimentos disponíveis estiverem esgotados".

Nas Nações Unidas, o país já opera sob o novo nome e a página oficial do Reino de eSwatini está atualizada. Mas muitas autoridades ficam para trás. A companhia aérea nacional ainda é chamada de "Swaziland Airlink", também a alfândega continua a operar sob o antigo nome. O código do país na Internet também é "sz".

Enquanto isso, a Suprema Corte do país tem que lidar com uma objeção à mudança de nome, apresentada pelo proeminente advogado dos direitos humanos Thalane Maseko, no início de julho.

"O que ele fez foi muito, muito corajoso. A história irá julgá-lo e terá a capacidade para lhe agradecer. Nós não esperamos muito, porque sabemos que o rei controla o Judiciário, mas a história está atenta ao que Maseko está a fazer", diz o ativista Lukhele.