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Estreia em Portugal filme rodado no bairro mais cabo-verdiano de Lisboa

CARLOS, Joao22 de agosto de 2013

"Até Ver a Luz", de Basil da Cunha, está a partir desta quinta-feira (22.08) nas salas de cinema portuguesas. A longa-metragem do realizador luso-suíço conta com a participação de muitos descendentes de Cabo Verde.

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O filme, já exibido no Festival de Cannes e na Suíça, foi totalmente rodado no bairro da Reboleira, na periferia de Lisboa. Para os descendentes de cabo-verdianos que participaram na longa-metragem, o filme simboliza "uma luz ao fundo do túnel".

A co-produção "Après la Nuit" (em português, "Até Ver a Luz") retrata a história de Sombra, um dos habitantes daquele bairro onde se vive um dia de cada vez, mas com esperança. Acabado de sair da prisão, Sombra volta à sua vida de vendedor de drogas no bairro da Reboleira.

"São fantasias da minha cabeça", contou o realizador à DW África. Basil da Cunha diz ter escrito uma história sobre "um rapaz que sai da prisão e que vive isolado, de noite, com uma catana e uma iguana", nos telhados do bairro.

"Entre o dinheiro emprestado que não consegue recuperar e aquele que deve, uma iguana pouco comum, uma pequena vizinha sempre por perto e um chefe de gang que duvida da sua boa fé, Sombra começa a pensar que, de facto, mais valia ter ficado dentro da cadeia", lê-se no guião que foi seguido durante mês e meio pela equipa dirigida pelo realizador suíço de origem portuguesa.

Vidas precárias

Basil da Cunha considera que a personagem de Sombra representa todas aquelas pessoas a viver em condições precárias, às quais a sociedade não oferece oportunidades. "Ele vive isolado dentro do próprio bairro, é visto como uma personagem estranha no seu próprio meio", refere.

Na Reboleira, o realizador vive num dos prédios da Rua Che Guevara, com urbanização mais organizada. Para Basil da Cunha, o bairro onde fez a rodagem tem um significado especial, apesar da imagem deprimente que transmite o seu estado desordenado e de degradação.

Por outro lado, lamenta as condições em que vivem os seus habitantes. "Estou a falar principalmente da falta de oportunidades e da falta de esperança que a sociedade dá às pessoas que vivem em aqui, quanto mais agora em tempo de crise", salienta.

Pessoas são a inspiração

O percurso de vida e as amizades que o cineasta construiu no bairro determinaram a opção em rodar o filme na Roboleira, ainda que sem grandes recursos.

"A partir das pessoas que conheci, comecei a fazer filmes. Fizemos várias curtas antes de chegarmos à nossa primeira longa-metrragem e sempre com um grande espírito de família", recorda, realçando que as pessoas são a sua inspiração.

"A porta estava sempre aberta para toda a gente e o bairro viu-se envolvido naquele projeto", acrescenta.

Esta co-produção é prova de que acredita na capacidade das pessoas, que andam à procura de uma oportunidade de vida, sublinha o realizador. O filme, rodado quase durante a noite, envolve muitos atores e figurantes do bairro, que deram provas dessa capacidade.

Um deles é Pedro Ferreira, a figura central da história que desempenha o papel de Sombra. "Foi uma experiência boa para mim. Foi algo que nunca tinha feito. Gostei muito e tirei muito proveito durante as filmagens", relatou o ator.

"Até Ver a Luz", segundo Basil da Cunha, não oferece a solução, mas é em si uma história de esperança e de fé num futuro melhor. Esta sua primeira longa-metragem, produzida pela Box Productions, foi selecionada para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes deste ano.