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Em Berlim, especialistas querem investimentos responsáveis na agricultura

Vieira,Cristiane22 de janeiro de 2013

870 milhões de pessoas passam fome em todo o mundo. Para diminuir esse número, os investimentos na agroindústria precisariam de crescer 70%, estima a FAO. A problemática esteve em debate na Semana Verde, em Berlim.

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Como investir no setor agrário? Especialistas em agricultura debateram esta questão em Berlim, no âmbito da Semana Verde Internacional, a maior feira de alimentação, agricultura e horticultura do mundo, que termina no próximo domingo (27.01).

Bärbel Dieckmann, presidente da ONG de ajuda ao desenvolvimento Ação Agrária Alemã (em alemão, Welthungerhilfe), mostrou-se preocupada com a forma como são feitos atualmente os investimentos no setor agrário a nível mundial:

"Para mim, investimentos em agricultura são sempre investimentos nos homens, ou seja, quando os pequenos camponeses locais beneficiam com os investimentos". Se isso não se verifica, Dieckmann diz que prefere utilizar a expressão "transações financeiras".

Peter Brabeck-Letmathe criticou em particular o cultivo de alimentos para a produção de bio-diesel. Para o presidente do Conselho Administrativo da indústria de alimentos Nestlé é "inacreditável" que, num tempo em que ainda não há alimentos suficientes no mundo, se utilizem víveres nos automóveis.

Produzir para a exportação

As declarações de Brabeck-Letmathe e Dieckmann vão de encontro aos críticos de projetos de desenvolvimento agrário aplicados em diversos países, onde os camponeses locais são incentivados a produzir para a exportação. É o que acontece, por exemplo, no projeto Chikweti, na província de Niassa, em Moçambique, onde se investe no eucalipto.

Presente na discussão, o ministro moçambicano da Agricultura, José Pacheco, defendeu a política do seu país, em especial, no que toca aos investimentos estrangeiros.

De acordo com o ministro, todo o investimento privado em Moçambique deve garantir que 10% do investimento a ser realizado seja dirigido para a produção de alimentos e 30% do investimento tem que ser com base em contratos com as comunidades locais.

"A política é essa. Todos os projetos aprovados antes dessa nova regra estão no processo de renegociação, incluindo Chikweti, para garantir que os camponeses ainda possam produzir cerca de 10% do total dos investimentos em alimentos. O desafio é construir mais capacidade de negociação dos camponeses locais", disse o ministro.

O ministro falou também das vantagens do modelo moçambicano e do que considera avanços já alcançados.

"Moçambique é pelo investimento agrário responsável, transformando a agricultura de subsistência em agricultura comercial. Há 10 anos éramos um país que recebia ajuda alimentar gratuita porque não produzíamos para as nossas necessidades de consumo", lembrou José Pacheco. "Hoje somos um país exportador de produtos alimentares não tradicionais: milho, gergelim, banana e feijões para a África, o Médio Oriente e a Ásia."

De olho nos investidores

Do banco alemão Deutsche Bank veio a cobrança de mais abertura para o capital estrangeiro. O copresidente do Comité Executivo do grupo, Jürgen Fitschen, disse que há dificuldades em investir.

"Não parece politicamente possível, em muitos países, garantir a participação internacional em competições para mudar esse comportamento". Segundo Fitschen, há um lobby muito forte e também uma repressão de sistemas de comércio e é "muito populista" se alguém se posicionar contra isso.

O ministro moçambicano da Agricultura, José Pacheco, garantiu que, pelo contrário, o seu país estaria aberto ao capital estrangeiro.

"Temos o Centro de Promoção de Investimento para assistir os investidores a virem para Moçambique. Temos uma unidade específica para o setor da agricultura, cujo diretor está aqui comigo para atrair investimentos privados", explicou. "Não há o bloqueio de investimentos privados, que são mais que bem vindos a Moçambique numa parceria baseada em quatro P's, de Parceria Pública, Privada, Pessoas."

Autora: Cristiane Vieira Teixeira (Berlim)
Edição: Guilherme Correia da Silva / António Rocha