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Em Angola questionam-se resultados da reforma educativa

Anselmo vieira (Huíla)6 de janeiro de 2014

Implementada em 2002, a reforma educativa angolana foi feita unilateralmente ignorando a visão e sugestões de especialistas. Hoje, sabe-se que o processo falhou e que as consequências são nefastas.

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Crianças em Kuito, Angola, em aulas ao ar livreFoto: picture-alliance/dpa

A reforma foi implementada com rapidez, sem que houvesse um parecer de especialistas na matéria, o que levou a que o sistema do ensino na altura em vigência fosse abolido pelo ministério da Educação para espanto e tristeza de muitos que inicialmente alertaram para as desvantagens do novo processo.

Entre as quais, destaque para a transição automática na primeira, terceira, quinta e sexta classes, em que basta ao aluno estar matriculado para poder ser aprovado; bem como a monodocência da primeira à sexta classe na qual não se teve em conta a área de especialização dos professores.

A implementação das novas medidas provocaram um mal estar entre a classe docente, que defende que a reforma educativa não corresponde às expectativas, porque não existem condições nem humanas, nem didáticas.

Professores ignorados

Angola Landwirtschaft Kwanza Sul
Crianças de uma região de Kwanza-Sul a caminho da escola com as suas cadeirasFoto: Jörg Böthling/Brot für die Welt

O vice-presidente do Sindicato Nacional de Professores, SINPROF, o Professor Manuel de Vitória Pereira, sublinha que o Estado angolano ao implementar esta medida ignorou a posição dos próprios professores.

Pereira afirma categoricamente que não há qualidade de ensino no país porque os investimentos feitos no setor são fracos, e por outro lado porque não se tem dado o valor ao lado principal, que é o lado humano e cita exemplos: "Promete-se merenda escolar, mas as crianças continuam ainda a não ter, promete-se equipamento e material didático da primeira a sexta classe grátis e nada, vai tudo para o mercado negro, as condições em que as escolas funcionam, turmas debaixo de árvores, escolas que são ruínas, tudo isto prejudica o ensino".

O país abraçou a convenção de Roma em 2002 que visa erradicar o analfabetismo até 2015, mas tal desiderato na prática é muito diferente.

Daí que o ativista e advogado David Mendes afirme: "Para Angola crescer é preciso dar ensino de qualidade. Sinto muito que inúmeras crianças estudem a oitava, nona, décima classes e até terminam a universidade e tenham muitas debilidades, porque não se dão aos professores e alunos os meios necessários para poderem educar melhor."

Encarregados questionam ações do Governo

SWAPO in Süd-Angola
Uma escola primária na HuílaFoto: DW/A. Vieira

De acordo com alguns pais e encarregados de educação, o Governo angolano nos últimos anos não mostra interesse em melhorar a educação. E agora com a aprovação automática, a solução urgente é, segundo os encarregados de educação, uma mudança do atual quadro.

E um deles avança: "Deve-se precaver isto e resolver os problemas. O ensino em Angola já está prejudicado há muitos anos e o Governo não tem mostrado vontade para ultrapassar esta situação."

Há quem também critique a forma como o dinheiro público é direcionado: "Quando não se aposta na Educação, quando vemos que o nosso Governo gasta milhões e milhões e não há qualidade de ensino... Perguntamos: o que é mais importante? Investir no betão ou no capital humano?"

2012 era o ano em que se devia ter feito o balanço da reforma educativa em Angola, mas até agora nada se ouve por parte do ministério da tutela sobre o assunto.

Recorde-se que o Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, no encontro que manteve em 2013 com os representantes da juventude angolana no palácio presidencial sublinhou que a Reforma educativa é boa e que o problema está nos professores que não a sabem aplicar.

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