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Eleições na Guiné-Bissau: Redes sociais na campanha política

Lusa
30 de maio de 2023

As redes sociais estão a ser um meio muito utilizado para disseminação de mensagens de partidos concorrentes às eleições legislativas de 04 de junho na Guiné-Bissau, através de transmissões diretas ou conteúdos gravados.

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Foto: Rasit Aydogan/AA/picture alliance

Se nas primeiras eleições gerais e democráticas, realizadas em 1994, aguardava-se pelo telejornal — à noite — na Televisão da Guiné-Bissau (TGB) ou pelas reportagens dos enviados especiais dos jornalistas da Radiodifusão Nacional (RDN), para conhecer as incidências da campanha eleitoral, hoje a realidade é completamente diferente.

Um comício em Catió, no extremo sul da Guiné-Bissau, zona de difícil acesso devido às péssimas condições das estradas e com fraca cobertura de rede elétrica, chega através da internet rapidamente aos guineenses de outras partes do país.

Um discurso de um partido nas ilhas dos Bijagós, também zona de difícil acesso, com ligação marítima escassa, pode ser acompanhado em direto, basta que alguém tenha o sinal de internet no local e um smartphone.

Uma das estratégias de mobilização de eleitores passa pela aglomeração dos jovens para um jogo de futebol ou um torneio em homenagem ao partido financiador e nos tempos que correm não é raro dar-se de caras com a transmissão em direto no Facebook de uma partida, por exemplo em Boé.

Madina do Boé, no leste da Guiné-Bissau, quase junto à fronteira com a Guiné-Conacri, é o lugar onde em 1973, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) proclamou unilateralmente a independência da Guiné-Bissau.

Naquele local, de difícil acesso por estrada, às vezes é possível captar o sinal de internet, que é aproveitado pelos partidos para colocar na rede a sua ação de campanha eleitoral ou com um jogo de futebol num campo pelado ou num matagal.

Nutzung sozialer Medien in Bangladesch
Os diretos, feitos pelos apoiantes, localmente chamados de ativistas.Foto: MD Mehedi Hasan/Zuma/picture alliance

Inúmeras possibilidades

As possibilidades abertas pela utilização das redes sociais, nomeadamente o Facebook, são tanta que se fica com a impressão de que as eleições se disputam naquele espaço, onde minuto a minuto são postadas trocas de farpas entre dirigentes, são exibidas frases bombásticas de campanha eleitoral ou reveladas gravações de conversas de reuniões que supostamente eram secretas.

Os diretos, feitos pelos apoiantes, localmente chamados de ativistas, é uma outra realidade das redes sociais na campanha eleitoral deste ano. 

O número de pessoas que acompanham um direto é também outro barómetro imaginário para medir a pujança ou não da campanha eleitoral dos candidatos a deputados.

De destacar dois fenómenos nas redes sociais: as "aulas de política", espaços onde os ativistas aparecem a decifrar as mensagens dos adversários, interpretações da lei eleitoral e da Constituição da República e ainda as mensagens nos dialetos guineenses.

A Guiné-Bissau conta com cerca de 40 grupos étnicos e os guineenses, sobretudo os que vivem na diáspora, está a utilizar as redes sociais como canais privilegiados para sensibilizar pessoas com as quais partilham a mesma etnia sobre em que partido ou coligação devem votar.

Guinea-Bissau Guineer protestieren gegen Sissocos „Diktatur“
Com o advento das redes sociais, qualquer ativista aparece a falar, a comentar ou a responder em nome do partido.Foto: João Carlos/DW

Ativismo em ação

Os diretos têm tanta importância que são anunciados nas páginas de outros ativistas com horas ou dias de antecedência dependendo do assunto e do ativista.

Um direto para "esclarecer uma boca" de um ativista rival não terá seguramente o mesmo número de pessoas a acompanhar que aquele que é destinado para "responder a uma acusação" de um partido ou candidato a deputado concorrente numa determinada zona.

Se no passado os militantes aguardavam pelos comunicados ou discursos oficiais do partido, agora, com o advento das redes sociais, qualquer ativista aparece a falar, a comentar ou a responder em nome do partido, candidato a deputado ou ao cargo de primeiro-ministro.

Casos há em que o partido aparece a distanciar-se das declarações feitas nas redes sociais.

É conhecido o nível de pobreza na Guiné-Bissau, mas isso não faz com que deixe de haver dinheiro para a compra de internet para seguir o "noticiário" político ou os diretos nas redes sociais.

De há uns tempos a esta parte tornou-se familiar escutar entre os guineenses esta frase emblemática: "Posso não ter dinheiro para comer, mas nunca deixarei de comprar saldo para navegar no Facebook".

A campanha eleitoral para as legislativas, disputadas por 20 partidos e duas coligações, decorre até dia 02 de junho.

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