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Eleições em Angola: "Imprensa pública não está a ser justa"

2 de agosto de 2022

Em entrevista à DW, o presidente do MISA-Angola, André Mussamo, critica a cobertura eleitoral feita pelos órgãos públicos. E diz que a Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana (ERCA) "é um organismo inquinado".

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Foto: Fotolia/Giordano Aita

O Presidente e candidato do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) à reeleição em Angola, João Lourenço, diz que está "satisfeito" com o desempenho da comunicação social no país. Porém, a menos de quatro semanas do pleito, aumentam as críticas sobre a parcialidade da imprensa pública.

Um levantamento do jornalista Carlos Rosado de Carvalho, com base no Telejornal da TPA, em junho de 2022, mostrou que 9 das 10 peças do jornal eram sobre João Lourenço.

Reginaldo Silva, membro do Conselho Diretivo da ERCA, em declarações à CNN Portugal, mostrou preocupação relativamente aoperíodo de eleições que se avizinha. "A ERCA não tem até esta altura qualquer plano de trabalho para fazer o acompanhamento deste período altamente sensível. A ERCA não realiza uma reunião plenária do seu Conselho Diretivo há cerca de um mês, por razões que só o Presidente saberá explicar", disse.

Em entrevista à DW África, o presidente do MISA-Angola, André Mussamo, afirma que a ERCA, que deveria fiscalizar os órgãos públicos de maneira independente, não é uma organização confiável.

Angola l Andre Mussamo, MISA
André Mussamo, presidente do MISA-AngolaFoto: Manuel Luamba/DW

DW África: Acha que a imprensa pública está a ser justa neste contexto pré-eleitoral ou não?

André Mussamo (AM): Não há voltas, não há rodeios a fazer. A imprensa pública não está a ser justa e dessa perspetiva arriscamo-nos a dizer que o processo eleitoral nunca seria justo, porque a media é uma das principais plataformas para dar a conhecer as ideias daqueles que pretendem o poder ou reintegrar as propostas dos que pretendem conservar o poder. Estão a conceder tempo de antena desproporcional, como é o caso que tem estado a ser demonstrado pelo analista Carlos Rosado de Carvalho, que a título voluntário está a fazer uma monitoria do telejornal, o principal serviço de notícias da televisão pública, e onde ocorrem números tão despropositados como [utilizar] 100% do tempo de emissão do jornal principal de informação na televisão. 90% do tempo [do telejornal] foi consumido por uma chapa política. Nessa perspetiva, acho que estamos muito mal e não vamos a tempo de corrigir a situação.

DW África: Estará o MPLA a ganhar na imprensa pública e a UNITA nas redes sociais?

AM: O problema é que as redes sociais são uma minoria da população eleitoral. Isto porque há um custo elevadíssimo associado à internet no país. As nossas comunicações aqui não são nada baratas e, portanto, sabe-se desde logo que as redes sociais não têm a mesma abrangência que os canais de televisão e de rádio, que têm um espetro de emissão maior do ponto de vista do alcance do território nacional. O que se sente enquanto pessoa que também está nas redes sociais é que nas redes sociais o equilíbrio é maior. Claramente que nas redes sociais estão a alterar muitas brigadas, digamos assim com as devidas aspas. Mas ali, naturalmente, cada um esmiúça os seus argumentos com mais liberdade e com mais oportunidade, ao contrário do que está a acontecer na imprensa tradicional ou pública, onde os jornalistas são alinhados. A oportunidade de transmissão dos grandes eventos também é manietada com câmaras e planos gerais para uns, e com planos fechados para outros. Com tempo de antena suficiente para transmitir completamente o evento de uns, mas com apenas alguns minutos para outros. É esta dicotomia que existe neste momento em Angola.

DW África: O MISA-Angola chegou a denunciar a ERCA, a Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana?

AM: Não, nem vale a pena usar a ERCA. A própria ERCA é um organismo inquinado, um organismo completamente desequilibrado, que faz algumas deliberações. Mais do que isso, a ERCA não é capaz de o fazer porque estruturalmente é um órgão claramente comprometido com a cor política que lidera o país. Por exemplo, um dos conselheiros, Reginaldo Silva, usa as redes sociais como escapatória para denunciar a funcionalidade da própria ERCA. Piora um pouco agora com a pessoa que lidera esta ERCA e os diferentes conselheiros que foram indicados pelo partido no poder, muito na geografia para conservar e manter o seu poder. Portanto, a ERCA é um ator para esquecer, para apagar da nossa história.

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Tainã Mansani Jornalista multimédia
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